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Lula demite número 2 da Abin após investigação ligá-lo a sistema espião

Do UOL, em Brasília

30/01/2024 19h16Atualizada em 31/01/2024 10h47

O presidente Lula (PT) exonerou hoje Alessandro Moretti, diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), após investigação da Polícia Federal ligá-lo à chamada "Abin paralela".

O que aconteceu

O presidente assinou a exoneração do número 2 da Abin no início da noite. Uma edição extra do DOU (Diário Oficial da União) foi publicada nesta terça-feira (30).

O cientista político Marco Aurélio Cepik já foi nomeado para o cargo. Atual chefe da Escola de Inteligência da Abin, ele é historiador, doutor em ciência política e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É visto como referência acadêmica na área de inteligência.

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Outros quatro servidores da diretoria da Abin foram dispensados, porém os nomes não foram divulgados. Sete servidores também foram designados para cargos na diretoria.

Moretti foi citado nominalmente pela PF por suposto conluio com investigados em esquema de monitoramento ilegal na agência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). A decisão para demiti-lo foi tomada após uma longa reunião com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) ontem (29).

No Planalto, Moretti é visto como "bolsonarista", mas Lula justificou sua manutenção em 2023 por indicação do atual chefe da Abin, Luiz Fernando Corrêa. A demissão de Corrêa chegou a ser debatida na reunião, mas o presidente decidiu segurá-lo no cargo — pelo menos por ora.

Lula já havia afirmado hoje que não havia clima para Moretti continuar. Segundo o presidente, foi "provado" que Moretti mantinha relação com ex-integrantes do governo passado, a exemplo do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi chefe da Abin.

Esse companheiro [Corrêa] montou a equipe dele, dentro da equipe dele tem um cidadão [Moretti] que é o que está sendo acusado, que mantinha relação com o Ramagem, que é o ex-presidente da Abin no governo passado, inclusive relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Olha, se isso for verdade, e isso está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar na polícia.
Lula, em entrevista hoje

A Abin, tradicionalmente parte do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), foi transferida por Lula para a Casa Civil. Quando tomou essa decisão, o presidente esperava diminuir a tendência de "bolsonarização" do órgão.

Quem é Moretti

Delegado da PF, ele foi braço direito de Anderson Torres. Moretti atou como secretário-executivo da Segurança Pública do Distrito Federal entre 2019 e 2021, na primeira gestão de Torres.

Moretti foi diretor de Inteligência Policial (2022 a 2023) e de Tecnologia da Informação e Inovação (2021 a 2022) da PF na gestão Bolsonaro. Também foi diretor de Gestão e Integração de Informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), em 2020.

No início dos anos 2000, Moretti foi um dos responsáveis por investigar a guerra dos caça-níqueis no Rio de Janeiro. Ele também atuou na investigação que prendeu o maior contrabandista do país, o empresário Law Kin Chong, em São Paulo.

O que foi a operação sobre 'Abin paralela'

A PF cumpriu mandados de busca e apreensão na segunda-feira (29) contra pessoas do núcleo político que receberam informações da "Abin paralela". Segundo as investigações, a Abin foi usada durante o governo Bolsonaro para espionar adversários políticos.

Um dos alvos da operação de ontem foi o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do ex-presidente. A busca e apreensão foi autorizada na residência de Carlos e no seu gabinete na Câmara Municipal do Rio.

A PF também fez buscas numa casa em Angra dos Reis (RJ). Os irmãos Carlos, Flávio e Eduardo e o ex-presidente Jair Bolsonaro estavam no local.

Segundo as investigações da PF, Carlos Bolsonaro recebia informações sobre inquéritos em andamento, inclusive da PF. Os agentes também investigam se a Abin produzia dossiês para atender aos interesses de Carlos, que teve o celular apreendido.

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