Valdemar, Heleno, Braga Netto: quem são os aliados de Bolsonaro alvos da PF
A PF faz hoje uma operação contra uma suposta organização criminosa que tentou dar golpe para manter Jair Bolsonaro (PL) na Presidência. O ex-presidente e seus aliados são alvos da ação. O passaporte dele foi retido pelas autoridades.
Veja quem são os alvos de busca e apreensão:
Braga Netto
General da reserva, foi ministro da Defesa e da Casa Civil e candidato a vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022. Braga Netto foi chefe do Estado-Maior do Exército, órgão responsável pela elaboração da política militar terrestre, e interventor federal na segurança pública do Rio em 2018.
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Após o resultado das eleições foi um dos responsáveis por declarações de apoio às manifestações antidemocráticas. "Não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora", disse ele em novembro de 2022.
Foi tornado inelegível pelo TSE até 2030. Em outubro, o Tribunal Superior Eleitoral condenou Bolsonaro e Braga Netto por uso eleitoral das comemorações do Bicentenário da Independência, em 7 de Setembro de 2022.
Ele chamou o comandante do Exército de "cagão" por rejeitar o golpe. O alvo das críticas foi Marco Antônio Freire Gomes.
Augusto Heleno
General da reserva, ocupou o cargo de ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Heleno pertenceu à chamada "linha dura" do regime durante a Ditadura Militar, foi comandante das tropas da Missão das Nações Unidas do Haiti entre 2004 e 2005 e comandante militar da Amazônia em 2008, no segundo governo Lula.
O general fez parte de um grupo de WhatsApp com militares da ativa e da reserva no qual foram discutidas ações golpistas. A existência do grupo foi revelada ao UOL pelo coronel aviador reformado Francisco Dellamora.
Ele foi convocado para depor na Polícia Federal sobre as suspeitas da existência de uma "Abin paralela" nos últimos anos. A Agência Brasileira de Inteligência era subordinada a ele durante o governo Bolsonaro. A PF investiga se aliados de Bolsonaro no órgão usaram, de forma indevida, ferramentas de espionagem como o First Mile.
O general é apontado como integrante do "Núcleo de Inteligência Paralela" do governo Bolsonaro. O grupo tinha como missão coletar informações que auxiliassem o então presidente "na consumação do Golpe de Estado", diz a PF.
Anderson Torres
Ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal. Ele foi preso por suspeita de omissão em janeiro do ano passado, depois que apoiadores do ex-presidente invadiram e depredaram as sedes de órgãos dos Três Poderes no dia 8.
A PF encontrou na casa dele uma minuta golpista em janeiro do ano passado. Tratava-se de uma proposta de decreto para Bolsonaro que previa instauração de estado de defesa na sede do TSE, com objetivo de reverter o resultado das eleições presidenciais. Posteriormente, Torres classificou o documento como "aberração" e disse que seria descartado em breve.
Torres foi solto em maio do ano passado por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes. O MPF (Ministério Público Federal) arquivou a investigação contra ele no início deste mês após avaliar que ele não agiu com intenção de facilitar os ataques de 8 de janeiro. O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e a cúpula da PM do DF também foram beneficiados pelo arquivamento.
Paulo Sérgio Nogueira
General da reserva, foi ministro da Defesa e comandante do Exército. O hacker da Vaza Jato, Walter Delgatti Neto, afirmou na CPI do 8 de janeiro que esteve na sede da pasta para debater a segurança das urnas e que chegou a se reunir com Nogueira. A aliados, o general afirma que nunca esteve com Delgatti e que ele só teria sido recebido uma vez em uma reunião no Ministério da Defesa.
Ex-ministro compartilhou artigo dizendo que eleição de Lula seria 'ruína moral da nação'. Segundo a coluna de Malu Gaspar, no jornal O Globo, Nogueira compartilhou em julho de 2022 um texto escrito por um general da reserva.
Valdemar Costa Neto
É presidente do PL, partido de Bolsonaro, e foi preso. Inicialmente alvo de um mandado de busca e apreensão, acabou preso em flagrante pela PF por posse ilegal de arma de fogo.
Tentativa de anular as eleições. Em vídeo divulgado nas redes sociais em novembro de 2022, Costa Neto afirmou que o PL iria buscar o TSE para tentar invalidar votos registrados em urnas produzidas até 2020.
Valdemar também afirmou que várias minutas golpistas circulavam no entorno de Bolsonaro depois da derrota nas eleições. Em entrevista ao jornal O Globo, em janeiro do ano passado, ele disse que chegou a receber sugestões para impedir a posse de Lula, mas que teve "o cuidado de triturar".
A PF coletou provas que indicam que integrantes do chamado "núcleo jurídico" da suposta organização criminosa teria utilizado uma residência alugada pelo PL em Brasília como um "QG do Golpe".
Almir Garnier Santos
Garnier é militar reformado e comandou a Marinha de abril de 2021 a dezembro de 2022. Segundo um dos trechos da delação de Mauro Cid, Bolsonaro levou uma "minuta de golpe", feita e entregue a ele pelo ex-assessor Filipe Martins, para uma reunião com a cúpula das Forças Armadas, e Garnier foi o único comandante que teria dito que sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento do então presidente.
Tercio Arnaud Tomaz
Próximo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), foi apontado como líder do "gabinete de ódio". O primeiro contato de Tércio com Bolsonaro ocorreu em 2017, época em que administrava o perfil de humor 'Bolsonaro opressor 2.0". Com a eleição de Bolsonaro, foi trabalhar como assessor especial da Presidência da República.
Tercio é formado em biomedicina e trabalhou como recepcionista em um hotel da Paraíba antes de ingressar na vida política. Quando trabalhava no Planalto, tinha salário bruto de R$ 13.623. Nas eleições de 2022, ele disputou como suplente do candidato ao Senado Bruno Roberto (PL-PB), derrotado por Efraim Filho, do União Brasil.
Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira
Oliveira participou do plano para a consumação de um golpe de Estado, segundo a PF. Uma mensagem no celular de Cid indica que Oliveira consentiu em participar de um golpe desde que Bolsonaro assinasse a ordem. Comandante de Operações Terrestres do Exército, ele cuidaria das tropas durante o levante.
Bolsonaro buscou apoio de Oliveira enquanto escrevia o decreto de golpe. Mensagens encaminhadas por Mauro Cid após delação "sinalizam que o então presidente (...) estava redigindo e ajustando o Decreto e já buscando o respaldo do general ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA", diz o relatório.
Veja quem são os alvos de mandados de prisão:
Filipe Martins
Foi assessor internacional da Presidência. Em um dos depoimentos que compõem a delação premiada que fechou com a Polícia Federal, Cid relatou que, logo após a derrota no segundo turno da eleição, Bolsonaro recebeu das mãos de Martins uma minuta de decreto para convocar novas eleições, que incluía a prisão de adversários.
Durante as eleições, ele reproduzia nas redes sociais o discurso bolsonarista de colocar em dúvida as urnas eletrônicas, abrindo espaço para contestação do resultado do pleito, sem nunca apresentar provas. Após a derrota no segundo turno, Martins parou de fazer publicações em sua rede social.
Foi alvo de uma denúncia do Ministério Público Federal por racismo. Durante uma sessão no Senado transmitida pelas televisões, fez um gesto com as mãos usado pelos movimentos supremacistas brancos dos Estados Unidos. O gesto forma a sigla White Power, ou Poder Branco. Em novembro do ano passado, a Justiça reformou a decisão que absolvia ele e pediu retomada da investigação.
Marcelo Costa Câmara
É coronel da reserva e foi assessor especial do gabinete pessoal de Bolsonaro. Após o fim do mandato do político recebeu a missão de cuidar do acervo pessoal dele. Segundo investigações sobre as joias sauditas, ele tinha acesso aos bens guardados em uma fazenda em Brasília pertencente ao ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet. As joias foram devolvidos pela defesa de Bolsonaro após ordem do Tribunal de Contas da União.
Foi apontado como o chefe do 'serviço de inteligência paralelo' de Bolsonaro. Segundo reportagem da revista Veja, publicada em 2020, ele produzia dossiês e operava investigações, sendo um dos pivôs na queda de ministros e diretores de estatais. À época, ele chamou a tarefa de "simples trabalho de compliance".
Rafael Martins de Oliveira
É major do Exército. Segundo a PF, o suposto grupo criminoso era dividido em núcleos de atuação para operacionalizar as medidas e Oliveira pertenceria ao Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas. Ele é conhecido como "Joe" e tem formação em forças especiais.
Oliveira foi identificado como interlocutor de Cid na "coordenação de diversas estratégias adotadas pelos investigados para execução do Golpe de Estado", diz a PF. Conforme a corporação, diálogos obtidos revelam "fortes indícios" de que ele atuou diretamente, direcionando manifestantes para os alvos de interesse dos investigados, como STF e Congresso, além de realizar a coordenação financeira e operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos.
Bernardo Romão Correa Neto
Neto atuava como homem de confiança de Cid, diz PF. Segundo despacho, ele acompanhava "proximamente o desenrolar das providências que criariam ambiente favorável ao golpe de Estado e, assim como Martins de Oliveira, pertenceria ao Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas.
Ele foi designado para exercer missão nos Estados Unidos, onde está desde dezembro de 2022. Para a PF, a permanência dele em solo estrangeiro e a designação da missão apenas no fim do governo "demonstram fortes indícios de que o investigado agiu para se furtar ao alcance de investigações e consequentemente da aplicação da lei penal, fatos estes que justificam a decretação da prisão preventiva."
Quem são os demais alvos:
- Ailton Gonçalves Moraes Barros
- Amauri Feres Saad
- Angelo Martins Denicoli
- Cleverson Ney Magalhães
- Eder Lindsay Magalhães Balbino
- Guilherme Marques Almeida
- Hélio Ferreira Lima
- José Eduardo de Oliveira e Silva
- Laércio Vergílio
- Mario Fernandes
- Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
- Ronald Ferreira de Araújo Júnior
- Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros