Nunes deve encerrar mandato sem entregar nenhum CEU, marca da gestão Marta
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), ainda não entregou nenhum dos 12 novos CEUs (Centros Educacionais Unificados) previstos no plano de metas do município e deve encerrar o mandato com zero unidades inauguradas.
O que aconteceu
Das 12 unidades prometidas, a prefeitura iniciou obra em quatro delas — Cidade Líder, Ermelino Matarazzo, Imperador e Cidade Ademar, nas zonas leste e sul. As construções tiveram início no ano passado.
As obras, que tiveram início em 2023, têm previsão de conclusão em dois anos. Logo, caso não seja reeleito, o prefeito não irá inaugurá-las.
A "implantação de 12 CEUs" está prevista no plano de metas 2021-2024, proposto pelo então prefeito Bruno Covas (PSDB), morto em 2021. O objetivo da prefeitura é realizar dez obras por meio de uma PPP (parceria público-privada) e duas de forma direta pela administração municipal.
A construção dos CEUS foi dividida em três lotes. No caso do lote 1, que inclui as unidades que tiveram suas obras iniciadas, o valor do contrato é de R$ 1,5 bilhão (leia mais abaixo).
Os CEUs são uma das marcas da gestão Marta Suplicy (PT) à frente da Prefeitura de São Paulo. O primeiro, inaugurado pela ex-prefeita em 2003, foi a unidade de Jambeiro, em Guaianases, no extremo leste da cidade.
Esse legado da ex-prefeita deve ser explorado pela campanha do pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL), de quem Marta deve ser vice. Ela fez parte da gestão Nunes até janeiro, quando foi demitida do cargo de secretária de Relações Internacionais. No dia anterior, a ex-prefeita havia conversado com Lula, que a convidou a voltar ao PT para ser vice de Boulos.
Os CEUs integram as áreas de educação, cultura e lazer em bairros da periferia. Hoje, são 58 unidades. Além de escolas, elas unidades oferecem às crianças e jovens aulas de dança, música e esportes. Algumas delas têm piscina e salas de teatro que a comunidade pode utilizar aos fins de semana.
Apesar de ser uma marca de Marta, foi a gestão de Gilberto Kassab (2006-2012) que mais entregou CEUs em números absolutos: 24. A ex-prefeita aparece na sequência, com 21 unidades — de 2001 a 2004. Fernando Haddad (2013-2016) inaugurou apenas uma, a de Heliópolis, na zona sul.
Outras 12 obras foram abandonadas por Haddad, mas retomadas pela gestão Bruno Covas. O tucano correu antes do fim do prazo eleitoral para entregá-las. Com a pandemia, entretanto, as unidades ficaram fechadas, conforme mostrou reportagem do UOL.
Os ex-prefeitos José Serra (2005-2006) e João Doria (2017-2018) também não entregaram nenhuma unidade. Mas Nunes já ficou mais tempo no cargo do que eles — o atual prefeito assumiu oficialmente em maio de 2021.
Contrato de 25 anos
O contrato da prefeitura por meio de PPP tem uma vigência de 25 anos. O acordo prevê, além da construção dos CEUs, a manutenção e conservação das unidades. A empresa também fica responsável pela contratação das equipes de segurança e limpeza.
Procurada, a gestão Nunes afirmou que o terreno do CEU Grajaú, na zona sul, "está em fase de análise de área para a implantação". A administração municipal não citou qualquer prazo para a escolha do espaço.
O segundo lote está em processo de licitação. Segundo a prefeitura, a abertura do envelope está prevista para o mês de março. Nesse grupo, estão previstos os CEUs Brasilândia, Jardim Campinas, Parque das Flores, Pirajussara e Vila Gilda.
As unidades do terceiro lote estão em "fase de estudo de viabilidade dos terrenos". Essas duas unidades serão feitas fora do formato de PPP — a gestão Nunes não informou quais bairros receberão os CEUs.
Em seu site, a prefeitura diz que as regiões foram escolhidas com "base nos índices de vulnerabilidade social". Além disso, também foi levada em consideração a "necessidade de ampliação da infraestrutura" para oferta de educação integral, lazer e cultura.
Moradores celebram início das obras
Moradores do entorno do CEU Cidade Ademar comemoram o início das obras. A cozinheira Sandra Maria de Oliveira, 47, disse que a iniciativa é importante, "principalmente por ser um bairro mais pobre".
"É uma escola perto, vai ajudar todo mundo, e sabemos que a qualidade é melhor", disse a babá Adriana Abreu. Ela espera que o local fique pronto até 2026 para matricular seu filho. A unidade mais próxima dali é o CEU Alvarenga, que fica cerca de 5 km.
Aprovados pela população, os CEUs são uma política das quais os candidatos gostam, independentemente do partido. Constantemente, entretanto, a falta de manutenção das unidades é criticada pelos moradores.
Plano de metas
Nunes deve fechar o ano muito longe de bater os objetivos do plano de metas. Até outubro, a gestão havia concluído só 11 de 86 objetivos.
Além da construção dos 12 CEUs, o plano prevê também a reforma ou adequação de 46 unidades. Até o momento, 16 centros educacionais tiveram suas obras concluídas — outros 25 estão com reformas em andamento e 15 em fase da licitação, segundo nota enviada pela prefeitura ao UOL
Há também metas para oferecer cursos de idiomas em todos os centros. A gestão Nunes afirmou que 41 CEUs ofertam hoje aulas aos alunos. "A expansão ocorrerá para todas as unidades", diz a administração sem citar prazo.
Já a meta 53 fala em implantar dez salas de cinema nos CEUs, a prefeitura diz que a previsão é entregar até o final deste ano.
O plano prevê também metas nas áreas de saúde, mobilidade e habitação. A prefeitura não respondeu a expectativa de conclusão dos objetivos até o final do ano nem sobre a possibilidade de mudanças no próximo balanço.