Indicado por Bolsonaro para ser vice de Nunes, ex-Rota é alvo de fritura
Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser vice de Ricardo Nunes (MDB) na campanha à reeleição pela Prefeitura de São Paulo, o coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Nascimento Mello Araújo tem sido fritado por aliados do prefeito e pessoas do próprio PL (Partido Liberal).
O que aconteceu
Nome do coronel gerou ruído no entorno de Nunes e dos partidos aliados, afirmam interlocutores ouvidos pelo UOL. Eles classificam o policial como "bolsonarista demais" e acreditam que ele não trará votos ao prefeito. A visão é compartilhada por integrantes do MDB e do "PL raiz", ala do partido que não contempla os bolsonaristas.
Pesa contra o ex-Rota a ausência de histórico na política e o desconhecimento do nome dele pela população, algo que também atinge Nunes. Visto como principal adversário do prefeito na eleição, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) terá como vice Marta Suplicy (PT), ex-prefeita de São Paulo, cujo nome é popular, principalmente na periferia da cidade.
Declaração sobre atuação da PM na periferia e tempo como presidente da Ceagesp no governo Bolsonaro também são vistos como vidraças. Em entrevista ao UOL em 2017, ele defendeu abordagens diferentes para pessoas na periferia e em regiões nobres da cidade.
A gestão dele à frente da Ceagesp é acusada por sindicalistas de militarizar o espaço e promover abusos. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, o Ministério Público do Trabalho ajuizou uma ação contra a companhia com base nos relatos.
Prefeito espera dissuadir Bolsonaro sobre a escolha de coronel para disputa a vice, afirmam aliados. A provável ida de Nunes ao ato convocado pelo ex-presidente em São Paulo, no dia 25, é vista como uma tentativa de demonstrar apoio e, futuramente, ter argumentos para demovê-lo sobre o nome do coronel da disputa. O prefeito espera ainda contar com a ajuda do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na escolha do nome.
Apesar de o ex-presidente já ter dito publicamente que indicou Mello, Nunes não bateu o martelo. Aliados do prefeito dizem que a escolha só deve acontecer no meio do ano, sobretudo após o ex-presidente e aliados terem sido alvo de buscas da PF por supostos planos de um golpe. Até lá, eles esperam encontrar um nome mais ao centro.
O foco agora é saber quais podem ser os efeitos da ida do prefeito ao ato de Bolsonaro. Interlocutores afirmam que "qualquer nome" levantado agora pode ser "desgastado" pela oposição.
Nunes tem tentado manter uma distância segura do bolsonarismo — para não ser ligado à extrema-direita. O prefeito aposta no discurso de que faz parte de uma "frente ampla". "Eu tenho uma forma de viver e de pensar verdadeiramente democrática, basta olhar o meu governo", disse ele após a posse dos novos secretários na segunda-feira (19).
Lideranças do MDB, partido de Nunes, também têm apostado nessa narrativa. "Aqui em São Paulo, não se há de falar de direita, esquerda, centro. O que há de falar-se é de administração em benefício do povo paulistano", disse o ex-presidente Michel Temer no evento.
Tem muito tempo para a gente discutir. O Valdemar [Costa Neto, presidente do PL] trouxe o nome do coronel Mello, mas não como imposição (...) O que deixei claro é que a gente vai tomar uma decisão conjunta, conversando com todos os partidos, num tempo apropriado.
Nunes, em conversa com jornalista no fim de janeiro
Nome de delegada e deputado têm 'menos ruído'
O deputado Tomé Abduch (Republicanos) e a delegada Raquel Gallinati (PL) são os mais cotados para serem vice do emedebista. Segundo fontes ouvidas pelo UOL, os dois nomes têm menos ruído com o eleitorado paulista e colaborariam com a figura de centro do prefeito. Nos bastidores do PL, o nome do coronel é mais defendido.
Tomé Abduch é ex-comentarista político da Jovem Pan. Ele está em seu primeiro mandato na Alesp e já foi um dos responsáveis por convocar manifestações em Brasília após a derrota de Bolsonaro para Lula. Em um vídeo gravado, Abduch pediu que as pessoas não levassem faixas pedindo intervenção.
A mensagem dele foi enviada por Mauro Cid no dia 11 de novembro ao major Rafael Martins de Oliveira. O trecho da conversa consta no despacho do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, que autorizou operação contra Bolsonaro e aliados. Martins de Oliveira foi um dos presos na ação da Polícia Federal.
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Quero receberCaso o nome dele seja escolhido para ser vice Nunes, o deputado teria de trocar de partido. Hoje no Republicanos, Abduch teria que ir para o Partido Liberal.
Raquel foi a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, por 2 mandatos, entre 2016 e 2022. É uma das criadoras do Movimento Mulheres na Segurança Pública, em 2019, ao lado de outras três delegadas do estado e atuou como advogada antes de entrar na polícia.
Filiada ao PL, é deputada estadual suplente — ela recebeu cerca de 50 mil votos em 2022. "Quando vi meu nome, fiquei lisonjeada e considerei a indicação um reconhecimento ao meu trabalho", disse ao UOL no início do mês.
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