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Vice do PT cria saia justa no partido ao defender acusado de caso Marielle

Do UOL, em Brasília

26/03/2024 04h00

O deputado federal Washington Quaquá (PT-RJ), vice-presidente nacional do PT, voltou a causar constrangimento no partido ao defender cautela nas acusações sobre os supostos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco, presos anteontem.

O que aconteceu

Em entrevista ontem, Quaquá afirmou que é preciso ter "clareza" antes de culpar o ex-deputado Domingos Brazão. "Não vou nem dizer que é inocente nem culpado. Não vi ainda provas cabais. Será uma surpresa negativa", disse pouco depois de os suspeitos serem presos.

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A fala gerou rebuliço nas redes sociais e constrangimento dentro do PT. Há integrantes que defendem sua exoneração como vice-presidente e até expulsão. O deputado é um dos cinco vices do partido, sem hierarquia definida entre eles, abaixo de Gleisi Hoffmann (PT-PR), que é a presidente da sigla.

Não são poucas as polêmicas que envolvem o parlamentar. Além de defender os supostos mandantes, ele já tirou foto com ex-ministro bolsonarista e chegou a trocar socos no Congresso no ano passado.

Ele também é conhecido por opiniões destoantes do PT. Ao UOL colegas disseram desejar que ele "vá para Maricá" disputar a prefeitura e "deixe o partido em paz".

Descontentamento de companheiros

Parlamentares, incluindo colegas da Câmara, e lideranças do partido dizem que ele "já passou do ponto", mas não chegam a um consenso sobre o que fazer. Entre os quadros petistas, há quem defenda seu jeito "combativo", mas o tom geral é de reprovação.

Ao UOL eles criticaram as declarações de Quaquá, questionando a necessidade delas tão pouco tempo depois das prisões. Eles lembram que a irmã de Marielle, Anielle Franco, é ministra do governo Lula (PT) e defendem que "o silêncio seria mais respeitoso".

"Essa posição dele não reflete posição do partido. É absolutamente individual", afirmou Gleisi ao UOL. Como presidente, ela tem lidar com as disputas internas e falas atravessadas, que, mesmo que não constitucionais, resvalam na legenda.

Em reação, a cúpula petista costuma lembrar que Quaquá é "um dos vices", não "o vice" do PT. Ele compartilha a posição com o senador Humberto Costa (PE), o deputado José Guimarães (CE), o ex-deputado Zé Geraldo (PA) e o ex-ministro Luiz Dulci (MG), sem distinção hierárquica.

Os vices são escolhidos por votações internas. Por mais que gere incômodo público, ele representa um grupo e foi alçado ao posto democraticamente.

O que pode mudar, explicam membros da Executiva nacional, é que se candidate à Prefeitura de Maricá. Como candidato e possível prefeito, ele deixaria o cargo.

Quaquá tampouco é muito bem visto no Planalto. Apesar das boas relações com André Ceciliano, secretário de Assuntos Federativos, que fica no quarto andar, palacianos dizem que ele tem "pouco ou nenhum" acesso ao governo.

Quaquá e Pazuello: tumulto no PT Imagem: Reprodução/Instagram/washington.quaqua.5

Defesa de Brazão, amizade com Pazuello e mais

É a segunda vez neste ano que Quaquá sai em defesa de Brazão. Em janeiro, ele foi uma das primeiras vozes a questionar o depoimento do ex-PM Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle, ao dizer que não acreditava que Brazão tivesse "cometido tal brutalidade".

No início do governo, atiçou companheiros petistas ao tirar uma foto (e defender) o ex-ministro Eduardo Pazuello, que comandou a Saúde durante a pandemia de covid-19. Até Gleisi foi a público afirmar que a publicação era "desrespeitosa" — como resposta, ele chamou os críticos de "stalinistas idiotas" e "jumentos".

Ele também tumultuou a sessão da Câmara que promulgou da reforma tributária na presença de Lula. Após ouvir xingamentos de bolsonaristas ao presidente, ele chamou Nikolas Ferreira (PL-MG) de "viadinho" e deu um tapa na cara de Messias Donato (Republicanos-ES). O UOL procurou o deputado para responder às críticas, mas não teve resposta até a última atualização deste texto.

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