Com crises, frente ampla do governo virou 'cada um por si', admitem aliados

As mais recentes crises, na Petrobras e com presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), escancararam a desunião no governo, dizem integrantes do governo. De olho nas eleições e nas próprias realizações, os ministros têm olhado mais para seus interesses do que se preocupado em melhorar a aprovação do presidente Lula (PT).

O que aconteceu

Confusão pública na Petrobras e as falas ríspidas de Lira contra o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) expuseram 'cada um por si' nos ministérios. Aliados evitam questionar a liderança do presidente Lula, mas desaprovam a atitude dos ministros.

Disputas internas sim, mas sem virar notícia. Lula gosta de estimular o debate e considera a disputa interna como algo produtivo: quanto mais quiserem mostrar serviço, melhor, justificam aliados. Só que isso não pode ser alardeado na imprensa, como aconteceu na rixa da Petrobras.

Falta de coesão afeta avaliação do governo. Até lideranças petistas admitem que, de olho em eleições e em projetos pessoais, o governo tem falhado em criar uma união, o que pode ser sentido no problema da comunicação de que Lula tanto tem se queixado. Segundo as pesquisas, sua popularidade tem sido afetada e virou tema de cobranças nas últimas reuniões.

Brigar para quê?

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT), têm rusgas desde o início do governo. Elas já eram conhecidas, apesar de ambos negarem isso. No início do mês, no entanto, o ministro escancarou as divergências em uma entrevista à Folha de S. Paulo, aprofundando a crise do petista à frente da petroleira.

Para membros do governo, mais do que agravar a crise na Petrobras, a polêmica expôs o presidente. O argumento é que jogar luz nos rachas internos exemplificaria como o ministro está mais preocupado com a gestão da própria pasta —e de seus interesses à frente dela, como numa eventual indicação de um sucessor de Prates— do que com o governo em geral.

O governo não tem sido capaz de criar uma frente unida, lamentam petistas. Eles dizem que todos ficam preocupados em mostrar bons números para o chefe, mas pouco dialogam entre si.

Também há uma preocupação crescente do governo com o foco em projetos pessoais. Não é segredo que parte dos ministros tem pretensões nas eleições de 2026, e isso não é visto como um problema no Planalto, desde que não interfira na agenda ministerial, usando a pasta apenas como trampolim. Muitos deles, no entanto, estão "muito mais preocupados" com seus colégios eleitorais do que com o plano governamental.

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Quem conta para o Lula? O problema, dizem pessoas próximas, é que quase ninguém tem coragem de falar desses assuntos mais delicados com o presidente. Todos repetem o que Lula gosta de ouvir, sem tratar de temas espinhosos. Lula já fez cobranças sobre isso. Na primeira reunião ministerial do ano, ele pediu que seus ministros não escondessem as coisas e levassem os problemas até ele.

Faltam voluntários. Segundo aliados que participaram dos mandatos de Lula 1 e 2, mesmo os ministros mais próximos evitam "mandar a real" a Lula. Preferem focar em dados técnicos, repassar conquistas e problemas e responder quando perguntados, mas não tocam em assuntos delicados. Até evitam passar perto da sala do presidente.

Sem defesa?

Na última quinta (11), Lira chamou Padilha, ministro responsável pela interlocução Planalto-Congresso, de 'desafeto pessoal e incompetente'. Em resposta, Padilha disse que "rancor é que nem tumor".

Coube, mais uma vez, a Lula tratar do caso. Em evento em São Paulo na sexta (12), ele disse que "só de teimosia" Padilha "vai ficar por muito tempo nesse ministério".

Nenhum colega da Esplanada saiu em defesa de Padilha. Até Lula se pronunciar, a justificativa do governo era que "não vale cair em qualquer provocação", embora aliados avaliem que defender "os seus" é defender o próprio governo, ao passo que calar frente às ofensas de Lira só enfraquece a imagem do Executivo.

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O Planalto nega desunião. Membros do governo argumentam o oposto: ao esperar o presidente se justificar , os ministros estão, na verdade, mostrando coesão: esperam o sinal do líder.

Cobranças a Rui Costa

Parte dos aliados cobram essa união do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. Eles argumentam que o presidente "já tem de se preocupar com muitas coisas" e que é papel da Casa Civil criar essa coesão no governo, chamando os ministros para conversar, tentando alinhar projetos e, quando necessário, "promovendo a paz" entre as pastas.

Rui tem adotado, com o estímulo de Lula, uma posição mais de gestor. Bom em tocar projetos, ele tem se empenhado em avançar com o Novo PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento) e negociado essas propostas com os ministros. Não à toa, é chamado pelo presidente de "Dilma Rousseff de calças", em referência à ex-presidente que ocupou a mesma função e atuou da mesma forma.

Ganhava todas na Bahia e agora mudou. O senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado e padrinho de Rui na Bahia, costuma contar que, enquanto governador, ele não perdia uma votação na Alba (Assembleia Legislativa da Bahia) quando o ministro era seu secretário de Relações Institucionais —este foi, inclusive, um dos argumentos usados no arranjo que promoveu o baiano ao cargo atual.

Em sua defesa, aliados dizem que ele muitas vezes faz mais do que seu papel. Recentemente, ele se tornou um dos principais interlocutores do governo com a Câmara dos Deputados, tratando diretamente com Lira, após o rompimento com Padilha. Embora receba os colegas de bom grado, membros do governo contam que Rui pouco interfere nas disputas internas desde que cada um faça seu trabalho.

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