Planalto adota cautela sobre Juscelino; futuro deve ser combinado com União

O Planalto tem acompanhado com cautela a investigação da PF (Polícia Federal) que indiciou o ministro Juscelino Filho (Comunicações) sob suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas o presidente Lula (PT) não deverá tomar decisões sem antes conversar com o União Brasil.

O que aconteceu

Juscelino é investigado por suposto envolvimento em desvios da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), mas as denúncias não são exatamente novidade. Ele já era alvo de investigações e polêmicas que chegaram a gerar especulações sobre ele deixar o cargo, como querem petistas, mas o União Brasil o segurou.

O partido, que em teoria faz parte da base do governo, deve participar da decisão de novo. Mas com o presidente Lula em viagem à Europa para o G7, qualquer decisão deve ficar para depois de um encontro com interlocutores do centrão.

Lula não demitirá Juscelino sem uma conversa com o partido e a cúpula do governo. O União Brasil, que já saiu em defesa do ministro, é uma das principais forças do Congresso e, mesmo desunido, pode ser o fiel da balança em pautas importantes para o governo —para o bem e para o mal.

O indiciamento chega bem em um dos momentos mais delicados da já difícil relação entre Planalto e Congresso. O governo vem sofrendo suscessivas derrotas, e articuladores não vêem clima para uma piora.

A demissão ou manutenção do ministro pode ser carta de negociação. Em outros momentos, Lula mostrou sua fidelidade ao partido ao dar um voto de confiança ao ministro. Agora, pode usar o aprofundamento das denúncias como um pedido de fidelidade do outro lado, apontam petistas, dado que muitas das derrotas recentes no Legislativo tiveram a ajuda do União Brasil. Mesmo tendo três ministros no governo, a legenda tem votado com a oposição no Congresso.

Aliados também apontam que pode ser sugerida uma troca. O partido manteria a vaga de Comunicações, mas Juscelino pediria licença "para se defender fora do ministério". Um deputado do União ouvido pelo UOL acredita que essa será a solução proposta pelo governo.

Decisão "de Alvorada"

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O Planalto evita comentar sobre o assunto. Ministros dizem não especular com o presidente longe, afirmam que toda decisão partirá dele e que não deve ocorrer enquanto ele estiver em outro continente, no meio do G7.

É o que chamam de decisão "de Alvorada", quando as articulações são tão particulares que não passam nem pelo Planalto, mas diretamente por jantares na residência oficial. Assim que foram decididas as poucas trocas do governo até agora.

A cautela também tem um motivo de postura. Como tem feito desde que saiu da prisão, Lula tem pregado um discurso de que, citando seu caso na Lava Jata, não se pode condenar enquanto o caso não foi a julgamento e que todos têm o direito de defesa. Por isso, dizem aliados, é "improvável" que o presidente demita Juscelino usando a operação como base.

De qualquer forma, aliados apostam que o caso se arraste. Mesmo que Juscelino peça para sair, um substituto deve levar certo tempo, como tem acontecido nas outras trocas do governo —Lula tem apostado em longos períodos de debate com base e partidos aliados.

Disputa de narrativas

Qualquer demora pode ser ruim para o governo. Independentemente de Lula estar ou não em viagem internacional, aliados apontam que os impactos políticos já estão se reverberando e podem criar insatisfação em diferentes grupos.

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Aliados têm tentado lembrar que Juscelino é uma indicação do centrão, numa tentativa de livrar o nome de Lula. Sem o Planalto se pronunciar, a avaliação de pessoas próximas ao governo é que a estratégia não vai colar: ministro de Lula é responsabilidade de Lula.

Governistas argumentam que a manutenção é "munição para oposição". A base —em especial petistas, que queriam o Ministério das Comunicações desde o início do governo— já ventila que a troca, se ocorrer, tem de ser feita o quanto antes: quanto mais demorar, mais a imagem fica vinculada ao presidente.

O que diz a investigação

Ainda quando deputado, Juscelino teria empenhado R$ 5 milhões do orçamento secreto na Prefeitura de Vitorino Freire (MA), comandada por sua irmã, Luanna Rezende (União).

Segundo a CGU (Controladoria-Geral da União), apenas a família do ministro é beneficiada pelas emendas parlamentares destinadas por ele. O recurso foi usado para asfaltar uma estrada de terra que passa em frente às fazendas dele e de sua família, onde ele mantém uma pista de pouso.

Em nota, o ministro afirmou que "o indiciamento é uma ação política e previsível". Na avaliação de Juscelino Filho, a investigação "distorceu premissas, ignorou fatos e sequer ouviu a defesa sobre o escopo do inquérito".

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