Investigado do 8 de Janeiro tentou vender Porsche para manter fuga nos EUA
Um investigado por suspeita de financiar e organizar os ataques golpistas do 8 de Janeiro tentou vender um Porsche avaliado em R$ 400 mil para se manter foragido nos Estados Unidos.
O empresário Esdras Jônatas dos Santos e a ex-esposa Kathy Le Thi Thanh My dos Santos fugiram para os Estados Unidos logo após os ataques aos Três Poderes no início do ano passado.
Dos EUA, Esdras negou os crimes em conversa por telefone com a reportagem.
Esdras e Kathy Le -- que hoje estão separados -- vivem em Fort Lauderdale, na Flórida.
Ambos têm mandados de prisão em aberto, as contas bancárias bloqueadas, os passaportes cancelados e estão proibidos de usar as redes sociais — tudo decretado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
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O Porsche confiscado
Apesar de estar proibido de usar as redes sociais, Esdras anunciou em perfil dele no Instagram — aberto recentemente — que tentou vender um Porsche Cayenne avaliado em R$ 400 mil.
Ele colocou o carro à venda pela metade do preço em uma concessionária de Belo Horizonte.
"Estava sendo vendido dentro de uma concessionária no valor de R$ 200 mil, a metade do preço, para que eu pudesse alimentar o meu filho aqui fora", disse o foragido em rede social no dia 25 de julho.
O carro esportivo está no nome da ex-esposa. Investigadores ouvidos pelo UOL disseram, contudo, que Esdras registrou o veículo no nome da mulher para tentar escondê-lo.
O setor de inteligência da PF localizou o veículo e o confiscou em abril. Hoje o Porsche está no pátio da corporação na capital de Minas Gerais.
Em entrevista ao UOL, o empresário se revoltou com a apreensão do carro importado e se disse vítima de "perseguição política" no Brasil.
"O André do Rap, traficante [foragido], é solto. O helicóptero dele [é liberado], e um empresário que trabalhava, pagava impostos, [a PF] prende o Porsche dele. O que você me diz disso?", afirmou Esdras.
De vida de luxo a alegada miséria
Apesar de já ter exibido vida de luxo nas redes sociais, Esdras alega que agora está "comendo comida do lixo" e que se encontra falido. Ele também diz que não fala inglês, não trabalha e que vive de favores.
A PF afirma, em inquérito, que ele usa as redes sociais para pedir dinheiro "em razão de uma alegada e suposta condição de miserabilidade".
Esdras foi "um dos principais líderes e organizadores do acampamento montado em frente ao 4º Comando do Exército em Belo Horizonte", segundo inquérito da PF ao qual o UOL teve acesso.
Ele e a ex-esposa são suspeitos de incitação ao crime, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado por ocasião do 8 de Janeiro.
Em BH, Esdras também foi investigado pela Polícia Civil por roubo, lesão corporal e dano patrimonial em 2022, à época dos acampamentos em frente aos quartéis que pediam às Forças Armadas para impedir a posse do presidente Lula (PT). Ele nega os crimes. Sob sigilo, a investigação ainda não foi concluída.
Nos acampamentos, Esdras chegava com seu Porsche e gravava vídeos convocando militantes para irem às manifestações de 8 de janeiro, segundo a PF.
"Há elementos que denotam que Esdras Jônatas dos Santos convocou homens e mulheres 'fortes', 'valentes' e 'guerreiros' a se alistarem para comparecerem em [sic] Brasília/DF no final de semana dos dias 7 e 8 de janeiro de 2023", diz a investigação.
"Kathy Le Thi Thanh My dos Santos, esposa de Esdras, organizou, contratou e possivelmente financiou parcialmente o fretamento de, quando menos, dois ônibus que levou pessoas que participaram dos atos do dia 8/1/2023 em Brasília", afirma a PF em representação ao STF.
O casal não foi a Brasília, apesar de o empresário acompanhar, ainda em BH, a saída de pelo menos um dos ônibus. Dois dias depois, na madrugada de 10 de janeiro, os dois embarcaram para os EUA com passagem só de ida comprada quatro horas antes. A PF diz que o casal fugiu. Esdras nega.
O foragido alegou que apenas entrou em um dos ônibus para "orar" pelas pessoas que iriam para Brasília. Segundo Esdras, o alistamento seria somente "para conhecer" o QG do Exército em Brasília, e não para uma "guerra".
"Eu jamais imaginaria que pessoas iam para Brasília para entrar dentro do Palácio [do Planalto]", defendeu.
A investigação sobre a suspeita de envolvimento na organização e financiamento dos ataques em Brasília está em fase final, segundo apurou o UOL.
Empresário culpa pandemia por falência
Esdras e Kathy Le separaram-se nos EUA e, atualmente, enfrentam processo de divórcio.
Ele disse que Kathy Le o arranhou durante uma briga em maio. Um processo foi aberto por ele, e uma audiência na Justiça de Fort Lauderdale deve acontecer ainda neste mês.
Quando fugiu do Brasil, Esdras acumulava R$ 5 milhões em dívidas com bancos e outras instituições financeiras, conforme mostrou o colunista do UOL Rogério Gentile.
Esdras também deve R$ 154 mil em impostos, segundo a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, e cerca de R$ 24 mil em aluguéis, conforme ele mesmo relatou.
O empresário disse que sua fábrica de roupas faliu, em 2021, durante a pandemia, por causa do fechamento do comércio em São Paulo, onde estavam seus principais clientes.
Para o UOL, o empresário afirmou que quer dar depoimento à PF por videoconferência. Ele teme ser preso se for à Embaixada do Brasil nos EUA. Ele pediu o telefone da PF à reportagem.
A reportagem tentou localizar Kathy Le por meio do ex-marido, de redes sociais e de um advogado. Se recebidos, os esclarecimentos serão publicados.