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Quem é Hugo Motta, escalado por Lira para disputar presidência da Câmara

1º.fev.2015 - Eduardo Cunha (MDB-RJ) comemora sua eleição para presidente da Câmara, em 2015, ao lado de Hugo Motta Imagem: Pedro Ladeira - 1º.fev.2015/Folhapress

Do UOL, em Brasília

29/10/2024 12h15Atualizada em 29/10/2024 12h15

De berço político na Paraíba, o favorito na sucessão para a presidência da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), consolidou seu nome para a disputa com os ensinamentos de padrinhos do centrão.

Neto de Edivaldo Motta, ex-deputado federal, e da atual deputada estadual paraibana Francisca Motta, dois caciques da política local, Hugo foi eleito deputado federal pela primeira vez com 21 anos, em 2010, com 86 mil votos, pelo PMDB (hoje MDB).

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Com a idade mínima para exercer o cargo, foi depois acolhido pelo correligionário Eduardo Cunha, presidente da Casa de 2015 a 2016.

Aliados do parlamentar paraibano afirmaram ao UOL que ele se aproximou dos "mais experientes" para aprender.

Se for eleito presidente da Câmara dos Deputados no ano que vem, aos 35 anos, Motta terá a idade mínima exigida na Constituição para assumir a cadeira do presidente da República, posto que eventualmente poderá substituir na ausência do presidente e do vice, em viagens ao exterior, por exemplo.

Francisca Motta e seu neto Hugo Imagem: Reprodução/Twitter

Reduto tradicional

O pai de Hugo Motta, Nabor Wanderley, também do Republicanos, é prefeito do município de Patos (PB), no sertão da Paraíba, e foi reeleito neste ano. Hugo Motta cresceu na cidade.

Os Wanderley controlam Patos desde os anos 1930, segundo levantamento recente do jornal O Globo. Já foram prefeitos Darcílio Wanderley da Nóbrega, Nabor Wanderley da Nóbrega, Dinaldo Medeiros Wanderley, Nabor Wanderley da Nóbrega Filho e Dinaldo Medeiros Wanderley Filho.

O sobrenome é uma versão abrasileirada de "Von Der Ley". Segundo um historiador da família, Caspar Von Niehoff Von Der Ley foi um alemão que integrou as invasões holandesas no Brasil.

Patos se beneficiou da recente influência de Hugo Motta. É o município da Paraíba que mais recebeu recursos extras da saúde através de emendas desde 2019, boa parte através de emendas de relator ("orçamento secreto"). A capital, João Pessoa, recebeu R$ 12,5 por habitante nesse período; em Patos, foram R$ 430.

17.set.2015 - Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, e Hugo Motta assistem a jogo do Flamengo em Brasília, em 2015 Imagem: Pedro Ladeira - 17.set.15/Folhapress

Relação com os 'mais experientes'

No início de seu segundo mandato como deputado, Motta foi presidente da CPI da Petrobras. A comissão foi instalada em 2015 após articulação de Cunha para investigar acusações de corrupção contra o PT na Operação Lava Jato.

Quando foi anunciado para comandar o colegiado, o deputado contratou a agência que Dani Cunha (União Brasil-RJ), filha de Eduardo Cunha, trabalhava como publicitária. A Popsicle Digital Flavours prestou serviços de assessoria de imprensa e divulgação.

De acordo com a sua equipe de comunicação, ouvida pelo UOL, Motta não sabia que Dani era filha de Eduardo e pediu que ela não fizesse parte do time que cuidaria da imagem dele. A empresa prestou serviços para o parlamentar de 2015 a 2018 e recebeu valores mensais entre R$ 4.000 e R$ 10 mil.

Aliados de Motta afirmam que o deputado é leal a seus companheiros e esteve com o ex-presidente da Câmara nos piores momentos de sua carreira política: quando foi afastado do mandato por determinação do STF, na renúncia da presidência da Casa e no processo de cassação no Conselho de Ética.

Motta também acompanhou o seu partido e votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em ação capitaneada por Cunha.

Em 2018, Motta e o pai, Nabor Wanderley, abandonaram o MDB e se filiaram ao Republicanos, partido presidido por Marcos Pereira (SP), que abriu mão de sua candidatura na semana passada para lançar Motta.

No governo Lula, Pereira apostou em Motta como articulador e expoente político para fazer o partido crescer nas prefeituras da Paraíba. Desde o início de 2023, Motta é líder da bancada do Republicanos na Câmara.

Nos últimos anos, o paraibano também estreitou uma relação com Ciro Nogueira (PI), presidente do PP. Nogueira é visto no Congresso como responsável por alçar Motta a potencial presidente da Câmara no ano que vem.

Além disso, tem boa relação com Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) — com quem rivaliza por poder na Paraíba —, Renan Calheiros (MDB-AL) e Lira, o atual presidente, que o apadrinhou na empreitada pela presidência da Câmara.

Motta mantém uma atuação discreta e atua nos bastidores da política. Entre as principais características citadas por deputados que o acompanham desde o início, os parlamentares destacam a habilidade de articulação, bom trato com todos e a capacidade de resolução.

Além disso, é visto como uma liderança em quem os deputados confiam e procuram quando precisam entender o cenário político e fazer a interlocução com o governo.

Outro ponto positivo apontado por aliados é a boa relação que tem com ministros do governo Lula, especialmente ao lidar com a negociação de temas da área econômica.

O perfil de Motta é reconhecido e valorizado pelos ministros dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL), de quem o deputado é amigo, e da Fazenda, Fernando Haddad. Motta mantém um diálogo direto com o chefe da economia e muitas vezes faz interlocução com a Câmara.

Toda vez que Hugo Motta for relator de uma matéria, ela será aprovada. Ele só é escolhido já quando ele coloca essa condicionante antes da escolha. Como eu o conheço desde jovem, eu sei que ele condiciona isso antes da escolha do nome dele para relator. Por isso, é para valer.
Renan Filho, ministro dos Transportes durante a divulgação do programa Reporto, em janeiro

Na ocasião, Haddad afirmou que Motta é um "interlocutor à altura dos desafios do país". O deputado foi relator do programa que oferece benefícios fiscais para investimentos em infraestrutura portuária e aprovado em 2023.

Eu vejo no deputado Hugo Motta e Cezinha de Madureira interlocutores à altura dos desafios que estão colocados no nosso país. Pessoas de Estado, pensam no Estado brasileiro, no povo brasileiro. Depois vão pensar em interesses legítimos particulares.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda

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