Não podemos normalizar participação do Exército na política, diz professora
A participação do Exército na política não pode ser normalizada, destacou Tathiana Chicarino, professora da Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), no UOL News deste domingo (24).
Por que os militares não têm que estar na política? A política e a democracia são algo que inventamos enquanto sociedade para que a gente pudesse lidar com os nossos conflitos, com as nossas diferenças, porque nós somos diferentes.
Os grupos humanos, os movimentos sociais, os partidos, enfim, têm perspectivas diferentes sobre o que querem do futuro e vão disputar isso. Onde? Nas eleições, no movimento social. Indo para as ruas, se articulando. Então, essas disputas existem.
A política tem esse elemento do conflito como parte, mas um conflito que é dado, que vai ser gestado dentro dessas instituições, em que, se alguma pessoa perde a eleição, ela vai para casa. Vai se rearticular para concorrer daqui a dois anos, ou fazer outro tipo de aliança ou de articulação política.
Quando a gente fala dos militares, o que é o elemento dos militares, das Forças Armadas ou do Exército? É a força, não é o diálogo. Portanto, o conflito é tratado nessa chave da força. De quem detém a arma. E aí, não há democracia possível.
Então, a gente precisa, sim, dizer. O Exército existe nos Estados, só que ele não pode, em hipótese nenhuma, participar da política. Nós não podemos normalizar. Algo que é muito parte da nossa história.
Tathiana Chicarino, professora da Fespsp
A professora também demonstrou preocupação ao falar sobre o avanço da extrema direita no mundo.
A gente, de uns anos para cá, não apenas no Brasil, tem passado por um processo de normalização da extrema direita, e isso é bastante perigoso.
Nós, enquanto professoras, professores, cientistas políticos, historiadores, mas a imprensa também, não podemos normalizar mais essas tentativas de golpe, esses processos extremamente autoritários que a gente tem visto nos últimos anos.
Tathiana Chicarino, professora da Fespsp
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 35 pessoas, incluindo o general Walter Braga Netto, foram indiciados sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Guerra cultural bolsonarista extrapola polarização, destaca professor
A guerra cultural defendida pelo bolsonarismo extrapola a polarização, que é a essência da política, e constrói uma radicalização redutiva, pontuou João Cezar de Castro Rocha, professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), na edição do UOL News deste domingo (24).
Não é um movimento polarizador. A polarização é a essência da política. Eu sou de esquerda, você é de direita, ocupamos polos diversos e precisamos, com argumentos, convencer o eleitorado. E ao chegar ao poder, não impomos 100% da nossa visão do mundo. Negociamos, fazemos concessões, dialogamos.
Mas se eu digo que o que eu defendo é guerra cultural, não é mais polarização. Esse é um grave erro que cometemos e naturalizamos. É uma radicalização que reduz o mundo à projeção de um espelho, reduz o diálogo ao eco da minha voz, isto é, tudo aquilo que é o outro vira inimigo interno que deve ser eliminado.
João Cezar de Castro Rocha, professor da Uerj
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