Moraes autoriza transferência de 2 'kids pretos' para Brasília
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou nesta segunda-feira (2) a transferência para Brasília de dois "kids pretos". Os militares foram presos na semana passada no Rio por suspeita de tentativa de golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.
O que aconteceu
Decisão do ministro atende a pedidos das defesas. Serão transferidos o general da reserva Mario Fernandes e o tenente-coronel Rodrigo Bezerra, que atualmente estão no 1º Batalhão de Polícia do Exército, no Rio. Nas decisões, Moraes também autorizou os militares a receberem visitas de suas esposas e filhos. As demais visitas devem ser autorizadas por Moraes para poderem acontecer.
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Agora, os dois ficarão nas instalações do Comando Militar do Planalto. Por serem militares, eles cumprem a prisão preventiva em instalações do Exército e precisam seguir as normas do local.
Os dois foram detidos na operação Contragolpe, da PF. Investigação deflagrada na semana passada revelou plano golpista de militares. Eles planejaram até assassinar o presidente Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e Moraes. Ao todo, foram presos quatro militares das Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos", e um policial federal.
Grupo com treinamento de elite é especializado em ações de guerrilha urbana e guerras não convencionais. Segundo a PF, "os kids pretos" estavam na linha de frente da execução do plano golpista.
Mario Fernandes é apontado como o militar mais radical envolvido no plano. Em seus equipamentos eletrônicos, a PF encontrou um detalhado plano de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, descrevendo até o armamento necessário e quantas pessoas seriam envolvidas, além de outras medidas operacionais. Também foram encontradas várias trocas de mensagens dele com autoridades do governo e manifestantes que estavam acampados em frente ao quartel-general do Exército em Brasília.
"Segurar a PF". Mensagens de voz do general mostram que Fernandes pediu a Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), que o então presidente conversasse com o Ministério da Justiça sobre a possibilidade de "segurar" as ações da Polícia Federal no acampamento golpista, após as eleições de 2022.
Já andou havendo prisão realizada ali pela Polícia Federal. Então, isso seria importante, se o presidente pudesse dar um 'input' [orientação] ali para o Ministério da Justiça para segurar a PF.
Mario Fernandes, em mensagem enviada a Cid
Na conversa, general diz que "tem procurado orientar" golpistas acampados em frente a quartel. Ele menciona "o pessoal do agro" e "caminhoneiros" como grupos com os quais tem interlocução.
Suposto mandado de busca e apreensão emitido pelo Tribunal Superior Eleitoral em relação a caminhões motivou a mensagem. "Os caras não podem agir, é área militar", argumenta Fernandes no áudio.
Os caminhões estão dentro de área militar, os caras vieram aí, porra, estão há 30 dias aí deixando de produzir pelo Brasil e agora vão ter os caminhões apreendidos. Cara, isso é um absurdo
Mario Fernandes, em mensagem a Cid
O advogado de Bezerra nega que o tenente-coronel e as Forças Especiais tenham feito parte da trama. "Ele não participou e não tinha conhecimento", afirmou. "E se teve [o plano], não teve participação das Forças Especiais", unidades de elite especializadas em operações de alto risco.
O celular do tenente-coronel seria a única ligação das Forças Especiais com a trama, diz Jeffrey Chiquini. "Acusam ele por causa de um celular que estão tentando incluir [na investigação]", afirma.
Seria a única ponta a incluir o Exército e Forças Especiais na trama. Por isso, ele é o bode expiatório.
Jeffrey Chiquini, advogado de Rodrigo Bezerra Azevedo