'Não queremos a cabeça de Pochmann', diz presidente do sindicato do IBGE

Paulo Lindesay, presidente do ASSIBGE (Sindicato Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do IBGE), afirmou em entrevista ao UOL nesta quarta-feira (29) que não é do interesse da entidade a saída de Marcio Pochmann do comando do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O que aconteceu

Sindicato e instituto se viram em lados opostos após o IBGE anunciar uma fundação com a finalidade de captar dinheiro. Batizada de IBGE+, a entidade teve sua criação suspensa nesta quarta (29) pelo Ministério do Planejamento.

Ministério informou que mapeia "modelos alternativos" para fundação. Devido ao fato das novas possibilidades envolverem "alterações legislativas", a pasta afirmou que planeja debater qualquer decisão com o IBGE, o Executivo e o Legislativo.

Pochmann nunca tentou intervir nos dados produzidos, diz Lindesay. Ao UOL, o presidente do sindicato afirmou que o receio dos servidores era da credibilidade do IBGE ser abalada pela fundação, que receberia recursos não apenas do orçamento federal, mas também de ministérios, bancos públicos e autarquias como pagamento por projetos.

"Nós o recebemos de braços abertos", lembrou presidente do sindicato. Segundo Lindesay, Pochmann inclusive participou de uma cerimônia simbólica de posse na sede do ASSIBGE ao assumir o cargo, em 2023. O desentendimento entre ele e o sindicato estava estritamente ligado à IBGE+ e à falta de espaço para diálogo.

Carta por fim da fundação recebeu apoio de cerca de 400 trabalhadores. Nesta quarta-feira (29), um ato realizado no Rio contra a IBGE+ contou com a presença de 200 pessoas. "Quando a credibilidade fica em xeque, as pessoas sem entendimento correto podem dificultar o recebimento de pesquisadores do IBGE em suas casas", afirma Lindesay.

Pochmann e ASSIBGE se reúnem no próximo dia 4

Reunião seria nesta quarta-feira, mas presidente do IBGE pediu remarcação. Membros do ASSIBGE conversariam com Flavia Vinhaes, diretora-executiva do instituto. Mas Pochmann pediu que o encontro fosse adiado para que ele pudesse participar. Nesta semana, o presidente do IBGE está viajando a trabalho pelo país.

Sindicato quer escolha de presidente do IBGE por lista tríplice formada após votação de servidores. Lindesay afirma que essa é uma bandeira histórica da entidade e que sua implementação aumentaria a "democratização" dentro do instituto. Hoje, a presidência do órgão é ocupada por alguém indicado pelo presidente da República.

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Pochmann está no cargo desde julho de 2023. Lula já disse que o considera "um dos grandes intelectuais desse país" e que o escolheu por confiar na sua "capacidade intelectual". Entre 2007 e 2012, ele presidiu o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) — onde foi acusado de demissões com viés ideológico.

Indicação por Lula garante Pochmann no cargo. Simone Tebet, ministra do Planejamento — pasta a qual o IBGE está submetido — não fica à vontade para dispensar um indicado de Lula.

Entenda a situação

Servidores dizem que foram pegos "de surpresa" por IBGE+. Segundo eles, a criação da fundação não foi discutida internamente — o que teria impedido que o corpo técnico do órgão pudesse dar colaborações. Além disso, os funcionários afirmam que a fundação foi criada sem autorização por lei, algo que é necessário em casos desse tipo.

Instituto afirma que debates internos aconteceram. "A Fundação IBGE+ é também alvo de forte campanha de desinformação por, possivelmente, evidenciar conflitos de interesses privados existentes dentro do IBGE", afirmou o instituto em nota antes da suspensão. Já a criação sem lei não foi esclarecida pelo órgão ao UOL.

Funcionários temem perda de autonomia e credibilidade com fundação. Em carta, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do IBGE afirma que a contratação ilimitada de pessoas externas e pressões geradas por acordos com empresas podem levar à captura da produção do órgão "por interesses privados".

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"Nada que possa comprometer o IBGE no exercício de sua missão institucional será permitido", afirmou instituto sobre fundação. De acordo com o órgão, a IBGE+ tinha "aprovação por todos os órgãos de controle necessários" para funcionar e seria fiscalizada pelo Tribunal de Contas da União.

Falta de dinheiro é pano de fundo. Salários respondem por mais de 90% do orçamento do IBGE hoje. De acordo com o instituto, os gastos diretamente com pesquisas representam menos de 5% do total das despesas do órgão. O sindicato estima que metade dos servidores do IBGE trabalham hoje "absolutamente precarizados", sem infraestrutura adequada.

O que dizem os envolvidos

Nos últimos 10 anos, o orçamento destinado ao IBGE dificultou o cumprimento das funções do órgão. Mas somos a favor de que isso seja resolvido por meio de articulação com o Congresso e não com a busca por novas fontes de recursos
Paulo Lindesay, presidente do ASSIBGE

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é um órgão basilar na geração e na análise de dados referentes ao Brasil, produzindo informações que atendem a diversos setores governamentais e da sociedade civil
Ministério do Planejamento e Orçamento, em nota à imprensa

7 comentários

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Jose Antonio Tattini

Outra noticia por aqui dava conta do temor dos funcionários com a criação de um IBGE paralelo e possivelmente privado. Foi a conta para que os diletos funcionários e servidores públicos temessem pela estabilidade e não com a produtividade.

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Jos㉠Maria Dias Pereira

Quem já exerceu cargo público pode resumir numa palavra o "motim" dos coordenadores e técnicos contra o presidente do IBGE: corporativismo. 

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Geraldo Pedro Leonardi

Nem IBGE funciona corretamente no governo corrupto.

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