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Britânica relata síndrome que a faz vomitar até 15 vezes por hora

Reprodução/BBC
Imagem: Reprodução/BBC

Lucía Blasco

BBC Mundo

15/01/2016 09h30

"É horrível e desgastante viver assim. Os ataques são muito frequentes, e em alguns dias é uma grande façanha conseguir levantar da cama." É assim que Sherrie Duggan, uma britânica que sofre de um mal conhecido como Síndrome de Vômitos Cíclicos, definiu à BBC sua rotina atual.

Os ataques são caracterizados "por náuseas severas e prolongados vômitos". Ela relata chegar a vomitar até 15 vezes em apenas uma hora. Trata-se de uma enfermidade pouco conhecida e de difícil diagnóstico devido ao escasso número de casos registrados e de estudos a respeito.

"Esse mal é conhecido há mais de cem anos, mas sabemos relativamente pouco sobre sua causa", afirmam representantes da Associação da Síndrome de Vômitos Cíclicos do Reino Unido (CVSA, na sigla em inglês).

No caso de Sherrie, foram 18 meses entre o início dos sintomas e um diagnóstico adequado. Mas, como é o dia a dia de quem convive com essa enfermidade? "Isso varia de acordo com a pessoa, mas é um problema difícil, que afeta toda a família", afirmou à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, o presidente da CVSA, Robin Dover.

Segundo ele, algumas pessoas acabam precisando abandonar o trabalho devido à frequência dos sintomas da síndrome. "Pode ser deprimente", afirma. "E o desconhecimento sobre a condição, inclusive entre os médicos, torna isso ainda pior."

Não é vírus, nem intoxicação alimentar

A Associação Espanhola de Síndrome de Vômitos Cíclicos (AESVC) explica que não existe nenhum exame médico que permita fazer o diagnóstico. Além disso, o quadro de sintomas é "muito parecido" com o de outros problemas digestivos ou metabólicos, por isso "os pacientes podem levar anos até receberem o diagnóstico correto".

Sherrie afirma que tudo começou em agosto de 2014, e que naquele momento pensou se tratar de um vírus estomacal ou de uma intoxicação alimentar. Ao sofrer o terceiro ataque, começou a ficar assustada, pois também é diabética e dependente de insulina.

Além das náuseas e vômitos, ela diz sentir dor crônica todos os dias. Seu objetivo, afirma, é "criar consciência sobre a síndrome" para que as pessoas saibam "que se trata de algo real".

"Os vômitos se sucedem, e cada episódio parece ser a repetição do anterior", diz B. Li, médico especializado na síndrome que atua no Hospital Infantil do Wisconsin (EUA).
Segundo ele, existe uma alta relação entre a síndrome e as enxaquecas. Ela normalmente aparece entre os 3 e os 7 anos de idade, mas também pode ocorrer pela primeira vez na vida adulta, e afeta homem e mulheres em proporções iguais.

"Historicamente, a síndrome foi tida como uma condição que se apresentava apenas em crianças, mas na verdade também pode acometer adultos. Conhecemos pessoas de 70 anos que sofrem do problema", explica Dover. De acordo com uma pesquisa realizada em colégios da Austrália e da Escócia, o mal afeta cerca de 2% da população infantil.

A enfermidade é caracterizada "por uma série de vômitos e muita apatia sem nenhuma causa aparente", afirma a associação espanhola dedicada à síndrome. "Os vômitos geralmente vêm acompanhados de tonturas, fotofobia (sensibilidade à luz), dor de estômago e enxaqueca", conta Pilar Páramo, presidente da associação, que também sofre do problema.

O desconhecimento das causas é um dos pontos que dificultam o tratamento. "Há algumas evidências de que pode haver um componente genético, mas é complicado (afirmar com certeza)", diz Dover. Como não há uma análise clínica nem exames específicos, um dos objetivos da associação britânica é "ajudar a desenvolver melhores critérios de diagnóstico, mais rápidos e mais eficazes do que é feito até agora".

Segundo Dover, é difícil saber quantas pessoas padecem da síndrome atualmente. Ele afirma acreditar-se que Charles Darwin (1809-1882), o pai do evolucionismo, sofria do mal.

Medicação

Nos casos em que as crises são frequentes, alguns medicamentos são usados contra as enxaquecas, além de tranquilizantes, "sempre sob restrito controle médico", enfatiza a associação espanhola. O uso desse tipo de medicação pode impedir uma crise ou encurtar a duração delas.

Outra técnica geralmente adotada é manter o paciente em um ambiente silencioso e escuro. Páramo, presidente da entidade espanhola, afirma que "o descanso e o sono são as únicas coisas que proporcionam um pouco de alívio", bem como o "suporte moral". Ela relata em um blog sua luta diária contra a enfermidade, que lamenta estar "muito negligenciada pela investigação científica".