Sintomas de covid-19: economista de SP relata agonia com falta de ar e calafrios que já duram 2 meses
O economista Julio Viana, de 31 anos, testou positivo para o coronavírus em 17 de março e nove semana depois ainda sente calafrios, falta de ar e cansaço excessivo.
Dia 17 de março, quando o coronavírus ainda era novidade no Brasil, o economista Julio Viana, de 31 anos, teve febre, muita falta de ar e testou positivo para o coronavírus.
Os sintomas foram leves e ele não precisou ser hospitalizado. O problema é que, mais de dois meses depois de contrair o vírus, Julio diz que ainda sofre com calafrios, falta de ar e cansaço excessivo.
Nas duas primeiras semanas, ele conta que os sintomas foram iguais aos de outros pacientes com coronavírus: muita tosse seca, febre e falta de ar, além de cansaço.
"Eu achei que passaria logo: 'tô jovem, tô em casa, e, se der problema eu vou pro hospital'. Teve dois ou três dias que eu me senti mal, de sentir como se tivesse queimando o pulmão, uma sensação muito ruim. Mas ao longo dos dias foi passando essa sensação no pulmão e a tosse, e imaginei 'já tô melhorando'."
Julio decidiu, então, retomar — aos poucos — suas atividades. Cerca de um mês depois do diagnóstico, ele diz que se sentia bem e que resolveu retomar a corrida, exercício que costumava fazer antes de contrair o vírus, em um percurso de 5 km.
"Nesse dia que fui correr, eu me senti muito mal, achando que eu ia morrer — não de dor, mas de um negócio que suga sua energia completamente. Não é cansaço de gripe, de ficar mole e indisposto. É uma dormência no corpo, uma agonia. É difícil descrever a sensação", disse. "Na hora que isso aconteceu, fui ao médico e foi quando me disseram que poderia ser ansiedade."
O mal estar, no entanto, não acabou. Ele diz que continua a sentir calafrios, falta de ar e cansaço, mesmo sem fazer corridas. "A maior questão é que os sintomas são muito intermitentes. Teve uma vez que, num domingo, caminhei pelo bairro, não me senti mal, mas na segunda-feira eu estava muito cansado, não consegui nem andar direito. É imprevisível, vem do nada. Tem noite que tô bem, tem noite que tenho muito calafrio."
Semanas depois do resultado positivo, Julio fez outros dois testes que deram negativo para a presença de coronavírus, além de um exame que apontou inflamação no pulmão.
"Do lado psicológico, foram muitos altos e baixos. No começo, eu falei: 'é ansiedade, estamos vivendo numa pandemia'. Mas até nos momentos que eu tava muito bem psicologicamente, eu sentia os sintomas. Foi quando realmente comecei a pesquisar. Acho que tem muita coisa para se descobrir sobre a doença."
"Eu me senti muito mal emocionalmente quando comecei a perceber que ia demorar tanto tempo (para me recuperar), e porque eu achava que tinha algo de errado especificamente comigo por estar demorando tanto tempo."
A namorada de Julio também contraiu o coronavírus, mas não teve sintomas prolongados.
Ele, que mora em São Paulo, diz que tem contado com o apoio da empresa em que trabalha e dos superiores. "Meus gestores são super atenciosos e entendem completamente a situação. Eles entendem minha situação e estou trabalhando da forma que eu posso. Eu tenho esse privilégio de trabalhar em uma boa empresa e que me permite essa flexibilidade."
Ele diz que, no caso dele, os médicos já apontaram que os sintomas fazem parte da recuperação, mas diz que as pessoas "devem estar cientes de que os sintomas podem durar um bom tempo e é preciso respeitar os limites do corpo e enfrentar a situação com cautela".
Em quanto tempo devem passar os sintomas da covid-19?
A médica infectologista Juliana Lapa diz que pessoas com sintomas leves, em geral, ficam recuperadas em cerca de sete dias e pessoas que tiveram sintomas mais graves demoram de 14 a 21 dias, em geral, para se recuperarem.
Além disso, segundo ela, pessoas com imunossupressão e em tratamento para câncer, por exemplo, tendem a ter casos que levam mais tempo para passar.
Lapa, que é mestre em infectologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora na Universidade de Brasília (UnB), diz que é comum os pacientes sentirem fadiga (sem falta de ar) depois de um período de duas semanas do início da doença. Mas febre ou falta de ar, segundo ela, são motivos para voltar a procurar ajuda médica.
"A fadiga é comum depois das duas semanas. Ela é descrita em outras síndromes gripais. A fadiga não como falta de ar, mas como prostração, falta de energia. Mas se a pessoa voltar a ter febre, voltar a ter falta de ar ou coisas que ela considera atípicas, como uma dor de cabeça muito forte, deve procurar ajuda."
A médica alerta para o fato de que a falta de ar é sempre um sintoma que deve levar a pessoa procurar um médico, "independente do momento em que apareça". No entanto, ela também diz que é comum os pacientes passarem a prestar mais atenção aos sinais do corpo neste momento e que é preciso diferenciar o que é esperado e o que não é.
"É muito comum, depois de ter um quadro infeccioso, principalmente numa pandemia, a gente passar a ficar muito atento a todos os sintomas do nosso corpo e às vezes uma coisa que não nos chamava atenção passa a chamar. Por exemplo, uma falta de ar no contexto que a pessoa subiu escada, é natural, esperado. Mas a falta de ar numa pessoa sem fazer nenhum esforço, sempre deve chamar atenção."
A professora lembra que ainda não se sabe se um paciente que já teve covid-19 pode contrair a doença novamente.
"Essa é a dúvida que todo mundo quer saber, mas não temos ainda essa resposta. Um estudo recente mostra que quem desenvolve o coronavírus a princípio desenvolve anticorpos, mas a gente não tem conhecimento se esses anticorpos são neutralizantes, ou seja, capazes de impedir que o vírus replique e impeça que a pessoa pegue de novo."
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