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'Empresas de Manaus que trabalham com oxigênio já disponibilizaram tudo que tinham', diz presidente da federação das indústrias

Federação das Indústrias do Estado do Amazonas diz que empresas de oxigênio já disponibilizaram tudo o que tinham - SANDRO PEREIRA/ESTADÃO CONTEÚDO
Federação das Indústrias do Estado do Amazonas diz que empresas de oxigênio já disponibilizaram tudo o que tinham Imagem: SANDRO PEREIRA/ESTADÃO CONTEÚDO

Mariana Schreiber

Da BBC News Brasil, em Brasília

15/01/2021 19h57

A indústria do Amazonas já cedeu todo o oxigênio que tinha em estoque para o sistema de saúde de Manaus, disse à BBC News Brasil o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antonio Carlos da Silva.

Segundo ele, a solução é paliativa e não é capaz de solucionar todo o déficit de oxigênio nos hospitais da capital, devido à disparada da demanda por causa do novo pico de internações de pacientes com covid-19.

"As empresas do Polo Industrial de Manaus que trabalham com oxigênio já disponibilizaram tudo que tinham em seus estoques. Não dá para suprir nossa deficiência (de oxigênio na rede de saúde), não. Isso (o uso de oxigênio da indústria) foi para amenizar a questão momentânea que estava ocorrendo com hospital já parando praticamente", explicou ele.

"A situação do Amazonas como um todo, principalmente Manaus, é desesperadora. Falta oxigênio em todo o Estado. É um verdadeiro estado de guerra", disse também, alarmado.

Segundo Silva, ainda não há um levantamento do total disponibilizado pelo setor. Na quinta-feira, com o esgotamento do oxigênio em alguns hospitais e unidades de saúde de Manaus, o governo do Amazonas determinou a requisição administrativa de oxigênio de 17 empresas.

"As empresas que tinham já estavam mandando (antes da requisição do governo), mas são coisas pequenas, porque alguns utilizam para insumo, para algum equipamento, mas coisa pequena. Já foi tudo", lamentou.

"São várias empresas (que entregaram o oxigênio): uma tinha três cilindros, outra tinha quatro", acrescentou.

Manaus sofre um novo pico de internações por causa do coronavírus, após as festas de fim de ano. Os cilindros com gás oxigênio são essenciais para manter e estabilizar os pacientes com covid-19 grave — além de pacientes com outras enfermidades. Sem esse insumo básico, muitos indivíduos hospitalizados vão acabar morrendo.

Empresas podem abrir mão da indenização

A requisição administrativa de bens privados pelo Estado, permitida pela Constituição brasileira, prevê que as empresas sejam indenizadas depois.

Silva, porém, disse que "não necessariamente" as indústrias vão requerer esse pagamento: "Todos sem exceção estão se esforçando para ajudar. É uma contribuição nossa do polo industrial para salvar muitas vidas".

As 17 indústrias afetadas pela requisição são: Gree Eletric, Moto Honda, Yahama Motor, Electrolux, TPV, Whirlpool, Sodecia da Amazônia, Denso Industrial da Amazônia, Caloi, Flextronics International, Cometais, LG Eletronics, Semp TCL, Ventisol, Carrier, Daikin e Samsung.

Algumas empresas alvo da requisição já dizem que doaram o material. Em nota enviada à reportagem na quinta-feira, a Moto Honda disse que doou 14 cilindros de oxigênio, sendo 12 unidades para a Central de Medicamentos do Amazonas (CEMA) e duas para o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV). "A iniciativa é voluntária e visa contribuir com o serviço de saúde local", afirma a montadora.

"A utilização de oxigênio pela empresa se dá apenas em processos não produtivos, permitindo a doação adicional de mais oito unidades à CEMA prevista para ocorrer amanhã, 15 de janeiro. A Honda acredita que a união de esforços e recursos é a maneira mais eficiente para apoiar as comunidades e profissionais de diversos setores que seguem na linha de frente do combate ao Coronavírus", acrescenta a nota

Já a assessoria da Samsung disse no início da noite de quinta que também faria doação, mas a assessoria não soube informar a quantidade.

Segundo o presidente da Fieam, a falta de oxigênio da indústria deve causar redução da atividade, mas não a paralisação, já que há etapas da produção que não dependem do insumo. Ainda será preciso calcular quais serão os prejuízos do setor.

De acordo com Silva, o que pode levar a paralisação parcial de algumas fábricas é o decreto do governador Wilson Lima proibindo a circulação de pessoas em Manaus entre 19h e 6h, medida tomada para tentar conter a expansão do coronavírus nesse momento de colapso do sistema de saúde, evitando mortes.

O presidente da Fieam diz que está negociando com o governo "casos pontuais" para que seja permitido que ônibus tragam os trabalhadores para as indústrias que operam com turno noturno.

'Demanda cinco vezes maior'

Segundo a Secretaria de Saúde do Amazonas, o plano com requisição do oxigênio e outras medidas — como a transferência de 235 pacientes com covid-19 para outros Estados — "começou a ser executado após as principais fornecedoras do insumo não suportarem a demanda das redes pública e privada do estado, que passou a ser cinco vezes maior nos últimos 15 dias".

Com objetivo de suprir tanto os hospitais públicos quanto os privados, as três empresas fornecedoras de oxigênio local — White Martins, Carbox e Nitron — precisavam entregar 76.500 metros cúbicos (m³) diariamente, diz o governo do Amazonas. No entanto, a capacidade de entrega das empresas tem sido somente de 28.200 m³/dia.

Para sanar o déficit de 48.300m³ diários, o governo do Amazonas e o Ministério da Saúde estão realizando juntos a "Operação Oxigênio".

"A logística da operação (para levar mais oxigênio a Manaus) prevê também rota terrestre com o insumo até Belém, saindo de Fortaleza, para chegar a Manaus por meio de aviões. Para atender com urgência as redes, o transporte terrestre e fluvial, que seria o procedimento mais comum, foi descartado", informou ainda a Secretaria de Saúde.

Caso haja resistência de alguma das 17 empresas em fornecer o gás oxigênio, a notificação extrajudicial que comunica a requisição estabelece ainda que "fica autorizado o imediato uso de força policial, além de outras medidas coercitivas e restrições de direito juridicamente admitidas, observada a moderação no emprego da força e a proporcionalidade dos meios para evitar danos desnecessários ao bem requisitado no presente ato".

A não entrega do produto pode também levar as empresas a serem enquadradas em crimes contra a saúde pública, ressalta a notificação.

O coronavírus já matou mais de 206 mil pessoas no Brasil.