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Covid: Como EUA têm conseguido imunizar mais de 3 milhões por dia

21.dez.2020 - Joe Biden recebe vacina contra a covid-19 em Delaware, nos EUA - JOSHUA ROBERTS/AFP
21.dez.2020 - Joe Biden recebe vacina contra a covid-19 em Delaware, nos EUA
Imagem: JOSHUA ROBERTS/AFP

07/04/2021 18h15

Os Estados Unidos estão superando suas previsões mais otimistas de vacinação.

Nesta terça-feira (06/04), o governo anunciou que, a partir de 19 de abril, adultos de qualquer idade poderão receber a vacina, antes do que havia sido previsto pelo presidente Joe Biden. Desde que assumiu a Presidência em 20 de janeiro, ele priorizou a vacinação.

O anúncio é um avanço em relação à data de 1º de maio anunciada por Biden há várias semanas. Qualquer adulto, independentemente da idade, condição médica ou ocupação, poderá ter acesso à imunização, algo que já acontece informalmente.

Na última semana, foi ultrapassada a média de três milhões de vacinações em um dia. No fim de semana houve o recorde de mais de quatro milhões.

Isso é um grande contraste com janeiro, quando meio milhão de doses eram administradas diariamente.

Esse ritmo, entretanto, não significa que a pandemia esteja sob controle. Autoridades federais ressaltam a importância do uso de máscaras e de se manter o distanciamento social.

"Vemos isso acontecendo principalmente entre adultos jovens", disse Rochelle Walensky, diretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), na segunda-feira, dia em que o país registrou mais de 79 mil novos casos e mais de 600 mortes, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins.

Até esta terça-feira, cerca de 556 mil pessoas haviam morrido de coronavírus nos Estados Unidos, o país que registra até agora o maior número de casos e mortes na pandemia.

Quanto mais casos são registrados, mais possibilidades há de desenvolvimento de novas variantes, por isso a vacinação ágil é essencial.

Aqui, revisamos algumas das explicações para essa rápida vacinação no país.

1. Acordos prévios com 3 vacinas "made in USA"

Os EUA têm a vantagem de ter aprovado três vacinas que são produzidas no próprio país. Em dezembro, Pfizer e Moderna, que exigem duas doses, receberam sinal verde, e a dose única da Johnson & Johnson teve seu aval dado em fevereiro.

E isso também facilitou acordos com o governo. O governo de Donald Trump, então presidente, comprou milhões de doses no final do ano passado antes mesmo de as vacinas Moderna e Pfizer serem aprovadas.

Esse acerto adiantado fez com que, ao receberem a aprovação das autoridades sanitárias, os processos de distribuição fossem acelerados e as empresas farmacêuticas se dedicassem quase inteiramente à produção de frascos para uso nos EUA.

A Moderna e a Pfizer começaram a fabricá-los antes do término dos testes clínicos.

No que foi chamado de "Operação Warp Speed" (em referência a velocidade rápida do seriado futurista Jornada nas Estrelas), a administração Trump trabalhou em conjunto com várias empresas para desenvolver vacinas que ainda estavam em processo de teste, a fim de reduzir os tempos de produção e distribuição, caso funcionassem.

Moncef Slaoui, que liderou a operação, reivindicou o crédito para a administração anterior, de Trump.

"90% do que está acontecendo agora é (resultado do) plano que fizemos", afirmou Slaoui recentemente na televisão.

Os EUA ainda aguardam a autorização para as vacinas AstraZeneca e Novavax. Se liberadas, mais vacinas estariam disponíveis e a taxa de vacinação aumentaria.

As vacinas disponíveis não são aprovadas para crianças menores de 16 anos, mas a Pfizer já mostrou resultados promissores em uma vacina para crianças.

2. O efeito Biden

Embora o líder democrata tenha aproveitado parcialmente o que o governo Trump fez, ele colocou a vacinação em massa do país como o principal objetivo de sua agenda.

A ideia era interromper o crescimento de casos e mortes o mais rápido possível, e assim reativar a economia.

O governo Biden anunciou nesta terça-feira que o país já disponibilizou 150 milhões de vacinas em seus primeiros 75 dias de mandato. Sua meta inicial era de 100 milhões em 100 dias, e foi agora revisada para mais de 200 milhões, número que também pode ser superado.

De acordo com dados do CDC, até segunda-feira (05/04), 107,5 milhões de pessoas tinham recebido pelo menos uma dose, incluindo 62,4 milhões com a injeção única da Johnson & Johnson e as duas da Pfizer-BioNTech ou Moderna.

Em 26 de janeiro, quando Biden estava no cargo havia apenas seis dias, 20 milhões de pessoas haviam recebido a primeira dose e 3,5 milhões a segunda, de acordo com dados do CDC.

No início de março, Biden alcançou um triunfo político ao anunciar o acordo entre a Johnson & Johnson e sua rival Merck, a segunda maior produtora de vacinas do mundo que agora fabrica a vacina de seu oponente depois de fracassar em sua tentativa de ter seu próprio produto.

O contrato de US$ 1 bilhão da Johnson & Johnson originalmente negociado no ano passado pelo governo Trump dizia que a empresa forneceria doses suficientes para 87 milhões de americanos até o final de maio, o que, junto com as outras duas vacinas, significaria que haveria vacinas para todos os adultos no país.

Mas a Johnson & Johnson ficou aquém das expectativas, levando a Casa Branca a intervir. Por isso foi feito o acordo com a Merck.

"Este é o tipo de colaboração entre empresas que vimos na Segunda Guerra Mundial", comparou Biden.

O governo começou a trabalhar com a Johnson & Johnson fornecendo à empresa uma equipe de especialistas para monitorar a produção e o apoio logístico do Departamento de Defesa.

Além disso, o presidente invocou uma lei da época da Guerra da Coreia (1950-53) para dar à empresa acesso aos suprimentos necessários para fabricar e embalar vacinas.

Enquanto Trump confiava o plano aos Estados, Biden assumiu o controle de Washington para tornar a vacinação realmente massiva e se concentrou em comprar doses suficientes não apenas para os centros de atendimento, os primeiros a receber as vacinas, mas para que chegassem o mais rápido possível para toda a população.

3. Mais vacinas e mais lugares

Uma das chaves é que as vacinas estão disponíveis em muitos lugares.

Para isso existem dois aspectos básicos: produção e distribuição.

Em termos de produção, os fabricantes de vacinas estão disponibilizando cada vez mais doses às autoridades.

Após um início lento, a Pfizer e a Moderna ganharam experiência e aumentaram a produção, até mesmo fabricando eles próprios os produtos necessários.

A Pfizer, por exemplo, recicla um filtro especial necessário no processo de produção.

Ao The Wall Street Journal, a Moderna falou que levou três meses para produzir as primeiras 20 milhões de doses e agora está alcançando 40 milhões em um único mês para os EUA.

A Pfizer passou de cinco milhões de vacinas semanais para 13 milhões agora.

E a Johnson & Johnson está cooperando com a Merck para aumentar sua produção.

Em março, a empresa de análises Evercore estimou que os três fabricantes haviam chegado a 132 milhões de vacinas, três vezes mais do que em fevereiro e menos do que o estimado em abril.

O governo espera que até o final de maio haja vacinas suficientes para todos os adultos do país.

Em termos de distribuição, o governo federal possui cerca de 30 megacentros de vacinação em massa em todo o país administrados pela Federal Emergency Management Agency (FEMA), além dos administrados por cada Estado.

Milhares de soldados estão fornecendo suporte adicional nesses tipos de instalações.

Mas também é possível ir a centros médicos, farmácias e até supermercados para receber a dose.

A Casa Branca disse aos governadores estaduais na terça-feira que mais de 28 milhões de doses serão distribuídas a eles nesta semana.

Além de manter esses locais, onde se espera que haja cada vez mais vacinas disponíveis e mais facilidade de marcação, o governo busca expandir e atingir as comunidades mais pobres, tradicionalmente de população negra e latina.

"As pessoas não brancas estão sendo vacinadas em um ritmo mais lento do que a população em geral", admitiu recentemente Marcella Núñez-Smith, chefe da igualdade na força-tarefa do governo Biden contra o coronavírus. "Isso pode e deve mudar."

A maior falta de acesso à informação e à internet para marcação de consultas é uma das causas, bem como uma maior relutância à vacinação por parte destas comunidades após ensaios clínicos malsucedidos no passado.

Por isso, uma das tarefas pendentes da distribuição é levar as vacinas para essas áreas e destacar a importância de receber a injeção.