Coração e pulmão 'artificiais' salvam bebê
São Paulo - Parecia uma tosse inofensiva, dessas comuns nos primeiros anos de vida de qualquer criança. O quadro, porém, não era tão simples quanto aparentava. Davi, então com 1 ano e 4 meses, havia sido contaminado por um vírus respiratório agressivo. Poucas horas após chegar ao hospital, ele estava na UTI, entubado e com poucas chances de sobreviver.
Não era a primeira vez que Angélica Hadish Miguel Vila Santos, de 28 anos, e Jefferson Souza Vila Santos, de 30, tinham de lidar com o medo da morte de um filho. Nos dois anos que antecederam a internação de Davi, o casal perdeu outros dois meninos.
Angélica ficou grávida de trigêmeos em maio de 2014, mas um dos bebês morreu já na oitava semana de gestação. O segundo menino, Lucas, teve uma má-formação que o impediu de desenvolver os rins. Os médicos diziam que ele sobreviveria apenas algumas horas. Lucas viveu quase cinco meses, mas não resistiu quando seu corpo começou a rejeitar os inúmeros tratamentos e medicamentos.
Fazia quase um ano da morte de Lucas quando Davi foi internado no Hospital Infantil Sabará, por causa da infecção respiratória, em março de 2016. A gestação já tinha sido muito complicada, tive um aborto e depois passei a gravidez inteira sabendo que o Lucas também não ia sobreviver. Ver o Davi na mesma situação me remeteu à outra perda. Fiquei sem chão, conta Angélica.
A cada hora que se passava, a situação do menino ficava pior. Os pulmões dele não reagiam nem com a ajuda de aparelhos e a família foi obrigada a tomar uma decisão. O médico me falou que se ele não entrasse na ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea), a chance de amanhecer sem vida era de 90%, diz ela, referindo-se a um tratamento em que o sangue sai do corpo por um cateter para receber oxigênio por meio de uma membrana externa.
Por sua complexidade e risco de sequelas, a tecnologia é oferecida em poucos hospitais do País e indicada somente para casos gravíssimos. O equipamento é como se fosse um coração e um pulmão artificiais. É usado quando o paciente não consegue respirar nem com a ajuda de aparelhos ou quando o coração está bem fraquinho. No caso do Davi, a gente fez a ventilação mecânica, mas, mesmo assim, o sangue não oxigenava, o vírus tinha paralisado os pulmões dele. Sem oxigênio, os outros órgãos começam a se deteriorar, explica Grace Van Leeuwem Bichara, cardiologista pediátrica e diretora do programa de ECMO do Hospital Sabará.
Aval
Angélica e Jefferson foram alertados do risco de sequelas pelo uso do aparelho. O menino poderia sofrer acidente vascular cerebral (AVC) ou uma trombose. Nunca nem tinha ouvido falar dessa máquina. Fiquei com medo, mas não pensei duas vezes em autorizar. Era praticamente a única chance de salvar meu filho, diz Angélica.
Davi ficou seis dias respirando pela ECMO e outros 15 internado. No dia 6 de abril, o bebê teve alta, curado da infecção e sem sequelas.
Até hoje, a família tem cuidados redobrados com Davi porque seu sistema imunológico ainda é frágil. Os problemas de saúde, no entanto, não atrapalharam o desenvolvimento do menino.
Ele corre, pronuncia as primeiras palavras, adora pintar e desenhar e, com apenas 1 ano e 10 meses, já mostra habilidades tecnológicas de dar inveja aos menos conectados. Ele pega meu celular, entra no YouTube e coloca o desenho da Peppa Pig. Sabe tirar selfie também, diverte-se a mãe. Depois de tanta luta, nada mais justo do que aproveitar a infância.
Não era a primeira vez que Angélica Hadish Miguel Vila Santos, de 28 anos, e Jefferson Souza Vila Santos, de 30, tinham de lidar com o medo da morte de um filho. Nos dois anos que antecederam a internação de Davi, o casal perdeu outros dois meninos.
Angélica ficou grávida de trigêmeos em maio de 2014, mas um dos bebês morreu já na oitava semana de gestação. O segundo menino, Lucas, teve uma má-formação que o impediu de desenvolver os rins. Os médicos diziam que ele sobreviveria apenas algumas horas. Lucas viveu quase cinco meses, mas não resistiu quando seu corpo começou a rejeitar os inúmeros tratamentos e medicamentos.
Fazia quase um ano da morte de Lucas quando Davi foi internado no Hospital Infantil Sabará, por causa da infecção respiratória, em março de 2016. A gestação já tinha sido muito complicada, tive um aborto e depois passei a gravidez inteira sabendo que o Lucas também não ia sobreviver. Ver o Davi na mesma situação me remeteu à outra perda. Fiquei sem chão, conta Angélica.
A cada hora que se passava, a situação do menino ficava pior. Os pulmões dele não reagiam nem com a ajuda de aparelhos e a família foi obrigada a tomar uma decisão. O médico me falou que se ele não entrasse na ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea), a chance de amanhecer sem vida era de 90%, diz ela, referindo-se a um tratamento em que o sangue sai do corpo por um cateter para receber oxigênio por meio de uma membrana externa.
Por sua complexidade e risco de sequelas, a tecnologia é oferecida em poucos hospitais do País e indicada somente para casos gravíssimos. O equipamento é como se fosse um coração e um pulmão artificiais. É usado quando o paciente não consegue respirar nem com a ajuda de aparelhos ou quando o coração está bem fraquinho. No caso do Davi, a gente fez a ventilação mecânica, mas, mesmo assim, o sangue não oxigenava, o vírus tinha paralisado os pulmões dele. Sem oxigênio, os outros órgãos começam a se deteriorar, explica Grace Van Leeuwem Bichara, cardiologista pediátrica e diretora do programa de ECMO do Hospital Sabará.
Aval
Angélica e Jefferson foram alertados do risco de sequelas pelo uso do aparelho. O menino poderia sofrer acidente vascular cerebral (AVC) ou uma trombose. Nunca nem tinha ouvido falar dessa máquina. Fiquei com medo, mas não pensei duas vezes em autorizar. Era praticamente a única chance de salvar meu filho, diz Angélica.
Davi ficou seis dias respirando pela ECMO e outros 15 internado. No dia 6 de abril, o bebê teve alta, curado da infecção e sem sequelas.
Até hoje, a família tem cuidados redobrados com Davi porque seu sistema imunológico ainda é frágil. Os problemas de saúde, no entanto, não atrapalharam o desenvolvimento do menino.
Ele corre, pronuncia as primeiras palavras, adora pintar e desenhar e, com apenas 1 ano e 10 meses, já mostra habilidades tecnológicas de dar inveja aos menos conectados. Ele pega meu celular, entra no YouTube e coloca o desenho da Peppa Pig. Sabe tirar selfie também, diverte-se a mãe. Depois de tanta luta, nada mais justo do que aproveitar a infância.
Fabiana Cambricoli
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