É possível manter a vida sexual ativa após perder o pênis, dizem médicos
Desde que não tenha afetado órgãos vitais ou provocado complicações infecciosas graves, uma amputação peniana não oferece risco de morte e, ao contrário do que o senso comum indica, não inviabiliza uma vida relativamente normal.
Situações como essas geralmente estão relacionadas com problemas de saúde, como o câncer de pênis. Porém, o problema também pode ser resultado de acidentes e até de atos criminosos. Recentemente, com a prisão da suposta mandante do crime, veio à tona o caso de um homem que teve o pênis decepado em 2002. Contrariada com o rompimento do noivado, a ex-noiva da vítima teria encomendado a mutilação, segundo acusações.
Independentemente do fator causador, uma amputação total do membro pode ser resolvida com uma neofaloplastia, que consiste na criação de um novo tubo peniano, com retalhos de antebraço ou de pele da região lombar, explica o urologista e andrologista Paulo Egydio, especialista em cirurgia reconstrutiva urogenital que atua no hospital Sírio-Libanês.
A uretra também é refeita cirurgicamente e, dependendo do caso, possibilitará até que o paciente continue urinando em pé. Em outros casos, o indivíduo terá de fazer isso sentado.
Quanto à manutenção da vida sexual, o especialista explica que em uma segunda cirurgia é possível inserir uma prótese peniana para possibilitar firmeza e viabilizar uma penetração com o novo pênis.
Dependendo das condições, tanto o prazer sexual como o orgasmo podem ser alcançados com a estimulação erótica da região genital residual, formada pelo escroto, testículo e região perineal. Com técnicas de reprodução assistida, mesmo a geração de filhos não está descartada.
Perda parcial
A neofaloplastia é dispensável se o coto residual – em uma amputação parcial – tiver mais de 7,5 cm, informa Egydio. Nessas condições, as funções fisiológicas, bem como a vida sexual, com penetração e orgasmo, podem ser mantidas e até uma gravidez pode ser gerada.
Mesmo nessas situações, contudo, os médicos relatam que a perda parcial ou total do membro geralmente é seguida por um grande estresse emocional. “A ausência do pênis costuma gerar um trauma psicológico que deverá ser acompanhado por profissionais especializados”, alerta o urologista Daher Chade, do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) e do Hospital Sírio Libanês.
O especialista ainda enfatiza a importância do apoio familiar para o bem-estar do paciente e menciona que, dependendo do quadro, serão necessárias medicações psiquiátricas para auxiliar na recuperação do indivíduo.
Reimplante
Em situações bem específicas, é possível reimplantar o membro decepado. Mas para isso, o tecido peniano não pode ter sido severamente danificado, como enfatiza o urologista André Cavalcanti, chefe do Departamento de Cirurgia Reconstrutiva e Trauma da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
A operação também deve ser feita com urgência e o segmento decepado deve ser acondicionado em gelo – como no transporte de outros órgãos para transplante – para se obter melhores resultados, de acordo com Egydio.
Em condições ideais, faz-se uma microcirurgia e reconstrói-se o corpo do pênis, os nervos, artérias e a uretra. O pós-operatório é delicado e depende, entre outros fatores, da qualidade do reimplante, da técnica empregada e do estado do pênis antes da operação.
Nesses casos, a chance de o paciente voltar a ter ereção, sentir prazer e manter relações sexuais varia. Se o membro for preservado e o reimplante bem-sucedido, a vida sexual é retomada naturalmente com o tempo. Porém, segundo Chade, não é incomum que o indivíduo precise usar uma prótese peniana ou recorrer a medicações para ter uma ereção satisfatória.
A respeito das próteses, Cavalcanti explica que elas funcionam com a inserção de tubos de silicone nos corpos cavernosos, a parte interna do pênis responsável pela ereção.
“Basicamente temos dois tipos de próteses: as maleáveis (semirrígidas), que podem ser manipuladas manualmente pelo próprio paciente na hora da penetração; e as infláveis, que funcionam com o auxílio de uma pequena bomba colocada no escroto”, descreve. O mecanismo bombeia líquido para dentro dos cilindros e gera a ereção. Quando não está acionado, o membro fica totalmente flácido.
Quanto à micção, na maioria dos casos o paciente volta a urinar normalmente, mas há risco de complicações. Pode haver um estreitamento da uretra, o que dificultará a micção e, dependendo do caso, pode ser necessária a reimplantação da uretra no períneo ou no abdômen, encerra Cavalcanti.
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