Com medo do ebola, brasileiros na Guiné trocam abraço por soco no ar
A rotina do baiano Juraci Pimentel, 29, morador de Conacri, não é mais a mesma desde que um surto de ebola chegou à capital da Guiné. O gerente comercial da construtora OAS, com sede na cidade, teve de redobrar os cuidados com a higiene e alimentação e abandonar dois hábitos bem brasileiros: abraçar amigos e conhecidos e ir a festas.
“A gente entende a gravidade do problema e evita ficar se abraçando, fica só no ‘soquinho’ de mão no ar para cumprimentar. Com isso, nós tentamos dar exemplo para a comunidade local porque quando eles veem que você não cumprimenta um brasileiro é porque a coisa é séria”, diz.
Guiné, Libéria e Serra Leoa vivem surto de ebola, que já infectou mais de 1.600 pessoas e matou quase 900 entre fevereiro e agosto deste ano, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
O vírus é de fácil transmissão --basta contato com sangue e secreções dos doentes-- e tem alta letalidade (até 90% dos casos). Diante disso, as fronteiras entre os países foram fechadas e a OMS lançou fundo de US$ 100 milhões para ampliar corpo e material médico.
Hábitos de higiene podem evitar o contágio, já que o vírus é sensível ao sabão e cloro, mas no interior do país falta estrutura nos hospitais e nas residências muito pobres.
Proibidos de ir a festas e velórios
Pimentel e outros 17 brasileiros que trabalham na construtora souberam dos primeiros casos de ebola em maio. Desde então são orientados diariamente a manter uma rotina severa de cuidados, entre os quais usar o álcool gel ou lavar as mãos de hora em hora, mesmo se não tiverem contato com outra pessoa, e evitar aglomerações.
Os funcionários estão proibidos de ir a velórios, circular próximo aos locais de surto e comer carnes de caça, comuns no cardápio local.
“É extremamente proibido ir a velórios e devemos evitar deslocamentos para as zonas infectadas e ir a festas. Temos que lavar as mãos várias vezes ao dia e só comer carne de gado, frango e peixe muito bem cozidas, porque aqui é comum comer carne de macaco e morcego”, diz Pimentel.
O baiano, natural de Ibicaraí, vive com a mulher e o irmão em Conacri há três anos. Ele diz se sentir mais seguro por viver na capital do país, fora do foco do surto, mas conta com a ajuda da mulher, que é enfermeira, para não vacilar nos cuidados.
“O que conforta é que a capital não é o epicentro do ebola, embora alguns moradores locais tenham dificuldade de entender e não aceitar a gravidade da situação. Como sou comerciante, às vezes preciso cumprimentar alguém, mas logo depois uso o álcool gel. Em casa é a mesma coisa, minha mulher me obriga a usar o álcool antes de entrar”, diz.
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