Infecções podem levar à amputação e morte; saiba como prevenir
Neste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para o aumento da resistência de bactérias, fungos e vírus a medicamentos que estão no mercado. Com isso, infecções que hoje são consideradas simples, no futuro, podem matar em larga escala.
Com tal perspectiva alarmista, aumenta cada vez mais a importância do diagnóstico precoce e do tratamento assertivo em quadros infecciosos. Em novembro deste ano, o caso da modelo e apresentadora Andressa Urach chamou atenção. Após se submeter a uma cirurgia para retirar o hidrogel aplicado há 5 anos nas coxas, a modelo desenvolveu um quadro grave de infecção, a sepse - conhecida como infecção generalizada -, que consiste em um conjunto de manifestações graves em todo o organismo produzidas por uma infecção. Internada há 20 dias, Andressa tem apresentado melhora.
Para esclarecer dúvidas sofre infecção, a reportagem do BOL conversou com o Dr. Reinaldo Salomão, professor titular de Infectologia da Escola Paulista de Medicina (EPM), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e presidente do Instituto Latino-Americano da Sepse (ILAS).
Como se caracteriza uma infecção e como percebê-la?
Na maioria das vezes, as infecções são causadas pela presença e multiplicação de bactérias no organismo. "Nós convivemos com bactérias desde o nosso nascimento, e, a partir deste momento, somos colonizados por elas. Ao longo da vida, criamos mecanismos de convivência. No entanto, quando uma bactéria adquire fatores de virulência (que as tornam mais agressivas e capazes de causar danos), acontece a infecção", explica o especialista.
Além dessa situação, ocorre a exposição às novas bactérias, "através, por exemplo, de um alimento mal lavado, ingestão de água contaminada ou o contato com alguma bactéria no ambiente hospitalar", completa. No ambiente hospitalar, há possibilidade de infecção dependendo do procedimento ao qual o paciente é submetido.
Os sintomas gerais são febre, sensação de cansaço e fraqueza. "De acordo com o órgão que está comprometido, há manifestações diferentes. Por exemplo, se for um local visível, como a pele, há sinais de inchaço, vermelhidão, calor e dor. Já em locais internos, como infecção urinária, existe ardência e dificuldades na hora de urinar", aponta o especialista.
Quando a infecção está localizada, o primeiro passo é identificar - através de exames, como o de sangue, e diagnóstico clínico - qual bactéria está causando a disfunção no organismo para começar o tratamento adequado. No caso da infecção urinária, o diagnóstico pode ser feito após um exame de cultura de urina.
"Neste momento, de alguma maneira, nosso sistema de defesa reconhece a existência desta bactéria e monta toda uma defesa que vai para o órgão comprometido e tenta conter a infecção. Nesta situação, a chance de sucesso no tratamento é muito grande, já que o organismo está de forma competente segurando a infecção".
Sepse
Conhecida como infecção generalizada, a sepse acontece quando o organismo inteiro "sente" aquele processo infeccioso. De acordo com o Dr. Reinaldo Salomão, por vezes, a infecção pode estar localizada em apenas um órgão, como, por exemplo, o pulmão, mas provoca em todo o organismo uma resposta com inflamação numa tentativa de combater o agente da infecção.
"Essa inflamação pode vir a comprometer o funcionamento de vários órgãos do paciente. Isso acontece quando a bactéria adquire capacidade de ser mais mais invasiva e, pode, por exemplo, alcançar a corrente sanguínea. Neste caso, ela consegue se manifestar em qualquer parte do organismo".
Qualquer pessoa pode ter a sepse. No entanto, pacientes com diabetes, câncer, infecção pelo HIV, tratados previamente com quimioterapia, usuários de corticosteroides ou aqueles que apresentam qualquer forma de imunossupressão - que reduz a atividade ou eficiência do sistema imunológico - , bem como recém-nascidos prematuros e idosos, estão mais suscetíveis às formas mais graves de infecção.
A sepse ocorre normalmente em relação direta com uma infecção aguda. Pode haver sintomas como febre, aumento das frequências cardíaca e respiratória, falta de ar, diminuição significativa da produção de urina, tontura ou alteração do estado mental com confusão, agitação ou sonolência. A infecção geralmente é confirmada por meio de um exame de sangue.
Durante o quadro séptico, o principal tratamento é administrar antibióticos adequados pela veia. Podem ser necessários medicamentos vasopressores, que ajudam a contrair os vasos e a estabilizar os níveis da pressão arterial. "Nesta fase, o paciente precisa ser hidratado de forma bem generosa", esclarece Salomão.
É possível prevenir a sepse?
Você pode prevenir a sepse prevenindo o risco de contrair infecções. Segundo o ILAS, não existem vacinas para prevenir a sepse, mas existem vacinas disponíveis para determinados agentes patogênicos, tais como pneumococos. Especialmente crianças pequenas, pessoas com mais de 65 anos e os pacientes que não têm baço devem, definitivamente, serem vacinados, porque eles são particularmente suscetíveis ao pneumococo. Também é essencial manter os cuidados básicos de higiene, como lavar as mãos frequentemente, além de evitar a automedicação e o uso desnecessário de antibióticos, para reduzir as chances de desenvolver infecções resistentes ao medicamento.
Taxa de mortalidade
De acordo com o ILAS, atualmente a sepse é a principal causa de morte nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e uma das principais causas de mortalidade hospitalar tardia, superando o infarto do miocárdio e o câncer. Tem alta mortalidade no país, chegando a 65% dos casos, enquanto a média mundial está em torno de 30a 40%. A mortalidade da sepse no Brasil é maior que a de países como Índia e a Argentina, segundo levantamento feito pelo estudo mundial Progress.
Sobreviveu à sepse
O estudante paulistano Pedro Pimenta, de 23 anos, teve os braços e as pernas amputados após contrair um tipo fatal de meningite - a meniongococcemia -, e desenvolver a sepse. Em 2009, Pedro deu entrada no hospital Albert Einstein, em São Paulo, e rapidamente foi colocado em coma induzido por uma semana.
Quando acordou, Pedro já estava com braços e pernas gangrenados, com o quadro de sepse bastante evoluído. O estudante ficou um mês nessa situação e então ficou sabendo pelos médicos que a única solução seria amputar os quatros membros.
"Foi um tremendo choque [para a família], principalmente nos primeiros dois meses de internação, quando eu ainda lutava para sobreviver. Para meus pais, por exemplo, ver o filho caçula numa cama de hospital em situação de vida ou morte causou um grande trauma. Porém, me impressionou a maneira forte e positiva com que eles encararam tudo isso", relembra Pedro.
Surpreendendo a todos e também o prognóstico médico, Pedro teve alta após cinco meses e meio de internação hospitalar. O estudante conta sua história no livro "Superar é Viver", da Editora LeYa, lançado em agosto deste ano, que ocupa o 2º lugar em vendas na Livraria Cultura.
Pedro, que passou por diversas clínicas de fortificação muscular no Brasil para que pudesse fazer o uso de próteses, mudou-se para os Estados Unidos para ampliar ainda mais o seu tratamento.
"Muitas coisas me levaram a sair do Brasil, dentre elas a proximidade que comecei a ter com a maior empresa de reabilitação dos EUA, a Hanger Clinic, que me reabilitou. Além da necessidade de atender a eventos pelo país afora e um relacionamento que tive com uma americana que mora na minha cidade", contou.
Atualmente, Pedro estuda economia na Flórida e ministra palestras motivacionais no Brasil e nos EUA, além de servir de mentor a outros amputados.
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