Passageiros de avião em pane ajudam a desvendar o estresse pós-traumático
Pesquisadores canadenses mapearam o cérebro de passageiros que viveram a sensação de quase morte durante um voo para entender como memórias traumáticas são processadas no cérebro e o que pode levar ao transtorno de estresse pós-traumático.
Eles analisaram as funções cerebrais de 30 passageiros do voo 236 da Air Transat, que quase caiu sobre o oceano Atlântico em 2001, enquanto eles lembravam dos 30 minutos de terror que sucederam entre a vida e a morte. O avião ficou sem combustível no meio do oceano, mas conseguiu fazer um pouso forçado em uma base militar na Ilha de Açores.
Os resultados lançaram luz sobre o que pode ajudar a prever quem é mais vulnerável a sofrer o transtorno. O estudo realizado no Instituto de Pesquisa Rotman, da Baycrest Health Sciences, em Toronto, foi publicado nesta semana na revista Psychological Clinical Science.
As memórias desses passageiros foram associadas com respostas intensificadas em uma rede de regiões do cérebro envolvidas na memória emocional. Para isso, os cientistas analisaram exames de ressonância magnética realizados nos passageiros enquanto eles recordavam o incidente.
"Graças aos passageiros que se voluntariaram, fomos capazes de examinar a resposta do cérebro humano à memória traumática em um grau de vivacidade que é geralmente impossível de alcançar", disse Brian Levine, cientista sênior do Instituto de Pesquisa Rotman de Baycrest e professor de Psicologia da Universidade de Toronto.
Os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que os passageiros apresentaram um padrão notavelmente similar de atividade cerebral comparada às respostas sobre o atentado às torres gêmeas de 11 de setembro, ocorrido três semanas depois do que o que ocorreu com eles e por isso lembrado pelos passageiros.
"Este incidente traumático ainda assombra os passageiros, independentemente de terem ou não transtorno de estresse pós-traumático. Eles se lembram do evento como se tivesse acontecido ontem, quando na verdade isso aconteceu há quase uma década. Outras experiências mais mundanas tendem a desaparecer com o passar do tempo, mas outras deixam um rastro de memória duradoura", disse Daniela Palombo, outra autora do estudo. "Nós descobrimos algumas pistas sobre os mecanismos cerebrais através do qual isso pode ocorrer", completa.
O susto dos passageiros do voo da Air Transat mudou a forma como os passageiros processam novas informações, possivelmente tornando-os mais sensíveis a outras experiências de vida negativas. Em outras palavras, depois de experimentar um trauma, poderá ver o mundo com uma nova lente, afirma Palombo.
"Aqui nós temos um grupo de pessoas que experimentaram o mesmo trauma extremamente intenso. Alguns foram mais afetados e desenvolveram o estresse pós-traumático. Como cada um deles respondeu a este evento terrível tem sido informativo para nos ajudar a mover um passo a mais para a compreensão dos processos do cérebro envolvidos na memória traumática ", afirma Palombo.
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