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Epidemia de zika deve durar cinco anos, diz especialista em vírus

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Imagem: iStock

Do UOL, em São Paulo

09/03/2016 06h00

Em cinco anos, o vírus da zika deve deixar de circular entre nós. Pelo menos, esse é o palpite do norte-americano Scott Halstead, 86, uma das maiores autoridades do mundo quando o assunto é vírus transmitidos por mosquitos. Em entrevista à revista Science, ele afirmou que quando 80% da população pega o vírus, ela se torna imune a ele e, por isso, a transmissão acaba sendo bloqueada.

Halstead baseia suas ideias em pesquisas feitas por ele sobre o chikungunya na Tailândia nos anos 1960. “Estudamos intensivamente chikungunya e ele estava em todos os lugares na Tailândia. Mas, por volta de 1975, o chikungunya simplesmente desapareceu do país”, afirma. O chikungunya é transmitido pelo Aedes aegypti, o mesmo mosquito transmissor da dengue e zika.

Segundo ele, o vírus tornou-se endêmico no país porque houve uma elevação na população do mosquito Aedes aegypti e de habitantes. “Quando eu estava na Tailândia, cada casa tinha ao menos seis pessoas vivendo. Na década de 1970, o planejamento familiar foi introduzido no país e as pessoas passaram a ter apenas dois filhos por família. Com menos pessoas, foi reduzida a porcentagem da população suscetível que mantinha o vírus circulando”, explica.

O cientista explica que o ciclo entre a epidemia do vírus e seu desaparecimento se repetiu na Índia, quando o chikungunya deixou a África e atingiu o país, em 1963.

[O chikungunya] desapareceu do país [Índia] em mais ou menos cinco anos. É o mesmo com a zika

Scott Halstead afirma que os vírus costumam “sumir” e voltar décadas mais tarde a atingir a população de maneira importante. Na entrevista à Science, ele diz que uma epidemia de chikungunya foi descrita na década de 1870 pelo médico de um sultão de Zanzibar, arquipélago que fica na costa da Tanzânia, na África.

“Ele viu o vírus aparecer em Zanzibar, cruzar o oceano Índico e criar uma epidemia na Índia. Em conversas com pessoas mais velhas que viviam em Zanzibar, o médico notou que uma epidemia ocorrida em 1823 havia se espalhado do Cabo da Boa Esperança para o Caribe”, conta. Ele afirma, no entanto, que as causas dessa periodicidade é um mistério.

Anticorpos contra dengue podem ter modificado zika

Halstead ainda tem outro palpite: os anticorpos produzidos durante epidemias de dengue são capazes de tornar infecções pelo vírus da zika mais severas, e isso estaria por trás do aumento dos casos de microcefalias em bebês e de síndrome de Guillain-Barré em adultos. Isso aconteceria porque a zika é geneticamente muito parecida com a dengue.

“Anticorpos da dengue estão tornando o vírus da zika mais complexo. O sistema imunológico está infectando monócitos (grupo de células que tem a função de defender o organismo de corpos estranhos), então há uma quantidade muito maior de vírus produzido. Talvez, a partir de uma determinada concentração de vírus, ele ganhe a capacidade de atravessar a placenta”, afirma.

Ele considera essa uma hipótese muito provável. “Eu apostaria muito dinheiro nisso”, brinca.