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Sem resultado significativo, SP vai suspender pesquisa com pílula do câncer

Cecília Bastos/USP Imagens
Imagem: Cecília Bastos/USP Imagens

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

31/03/2017 11h04

O Instinto do Câncer do Estado de São Paulo, ligado à Secretaria Estadual de Saúde, decidiu suspender a inclusão de pacientes nos testes da fosfoetalonamina sintética, a conhecida como pílula do câncer, no tratamento do câncer. Os resultados iniciais da pesquisa, que já era feita com humanos, não mostraram melhora significativa na cura da doença. 

Ao todo, 72 pacientes, de 10 diferentes grupos de tumores, foram tratados até hoje no estudo. Destes, 59 já tiveram suas reavaliações, e 58 não apresentaram resposta objetiva. 

O estudo esperava resposta objetiva, ou seja, sucesso no tratamento, em 20%, que não foi verificado. "Estamos anunciando a interrupção da inclusão de pacientes por questão ética. Não houve resultado" disse o secretário David Uip, na manhã desta sexta (31).

Apenas uma pessoa, com melanoma (câncer de pele), reagiu ao uso da fosfoetanolamina, segundo a pesquisa do Icesp. Outro estudo já tinha apontado resultados positivos do medicamento contra o melanoma, no entanto de maneira menos eficiente que a droga já usada no tratamento do câncer de pele --a cisplatina.

De acordo com o oncologista Paulo Hoff, diretor geral do Instituto do Câncer, só não é possível afirmar categoricamente que a fosfo não é eficaz em tratamento contra o câncer devido ao resultado positivo no paciente com melanoma.

Se houver atividade (da pílula), ela está muito aquém. Não há justificativa para recomendar o uso desse produto rotineiramente para o tratamento do câncer"

Paulo Hoff, oncologista e diretor do Icesp

A pesquisa usou dosagem com três comprimidos por dia durante o primeiro mês, que passou a dois comprimidos por dia após esse período. Essa era a dosagem recomendada pelo professor de química da USP Gilberto Chierice, que começou a distribuiu o produto.

Segundo Hoff, o grupo de acompanhamento da pesquisa sugeriu uma mudança de protocolo para que não ocorra a redução de dosagem após o primeiro mês. Os pacientes alegariam que as pessoas que utilizaram a fosfoetanolamina reduziam a dosagem para economizar pílulas. 

Pesquisa iniciada em 2016 teve custo de R$ 1,5 milhão

A sintetização da fosfoetanolamina foi feita pelo laboratório PDT Pharma, localizado no município de Cravinhos, no interior de São Paulo. A Furp (Fundação para o Remédio Popular) encapsulou a substância e entregou ao Instituto do Câncer.  

Foram testados dez tipos de câncer: cabeça e pescoço, pulmão, mama, cólon e reto (intestino), colo uterino, próstata, melanoma, pâncreas, estômago e fígado. Os estudos feitos pelo governo de São Paulo, que tiveram início em julho de 2016, custaram R$ 1,5 milhão.

O estudo contou com duas fases, sendo a primeira realizada para avaliar a toxicidade da substância, e a segunda para determinar se a fosfoetanolamina apresenta alguma eficácia. A substância não apresentou toxicidade, mas também não demonstrou eficácia relevante. 

O plano inicial dos pesquisadores era de incluir 20 participantes em cada um dos 10 grupos diferentes, totalizando 210 pessoas em acompanhamento. O objetivo primário dessa etapa seria a observação de pelo menos dois pacientes com "resposta objetiva", ou seja, com diminuição do tumor, em cada grupo. Os grupos não chegaram a ser completos.

Dos 72 pacientes envolvidos no projeto, 20 que não tiveram progressão da doença, com piora do estado de saúdem, vão continuar em tratamento com acompanhamento da equipe de oncologia. 

Pesquisa em nível federal

Paralelamente aos testes feitos pelo Estado de São Paulo, outros estudos estão sendo conduzidos pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, mas estão ainda em testes com células e camundongos.

Em agosto de 2016, Hoff havia dito que os objetivos das pesquisas em nível estadual e federal eram diferentes.  "O projeto federal é de desenvolvimento de produto. A missão que recebemos é determinar se o produto que já está sendo utilizado pela população tem benefício ou não, na dose que vem sendo distribuída. O fornecimento dessa dose específica é que está sendo exigido em quase 20 mil liminares concedidas pela Justiça."