Sites e apps ouvem seus sintomas e falam sobre sua doença. Pode, Arnaldo?
Quando temos uma dúvida já é instintivo usar a internet para sanar a curiosidade. Se o assunto for saúde, a reação não é diferente. Jogamos nossos sintomas ou diagnósticos e procuramos em sites de busca por mais informações. Por mais que saibamos que nem tudo que está online é confiável, é inevitável recorrer à internet nessas horas.
“A internet é uma realidade indiscutível, o paciente vai usar. Médicos não podem satanizar nem endeusar o mundo online, a questão é filtrar o material e orientar as buscas
José Eduardo de Siqueira, professor de bioética e coordenador de medicina da PUC-Londrina
O CFM (Conselho Federal de Medicina) não proíbe aplicativos ou mesmo sites de darem diagnósticos ou tratamentos online. O órgão ainda estuda a relação entre a medicina e a tecnologia para atualizar seu código de ética.
Googar
Talvez a primeira alternativa seja “dar um Google”. As procuras sobre saúde representam 1% das buscas do site. Por isso, com ajuda de médicos do hospital Israelita Albert Einstein, nasceu o apelidado “Dr. Google”. O sistema exibe um box com informações gerais da doença quando você faz a busca, mostrando o número de casos no Brasil, a propagação, idades mais afetadas, sintomas e tratamentos.
“Uma pessoa preocupada precisa de uma resposta confiável. A informação é direta, mas analisada por médicos”, diz Berthier Ribeiro-Neto, diretor de engenharia do Google na América Latina.
O UOL pediu para médicos avaliarem o sistema e a resposta foi positiva. De acordo com Alexandre Barbosa, infectologista e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), as informações do Dr. Google são confiáveis e a linguagem é simples e explicativa, facilitando a compreensão.
“A busca por informação é excelente, o paciente se empodera. Mas é preciso ter espírito crítico, checar as fontes. No Google você vê que a fonte é o hospital Einstein, fica claro que é confiável”, afirma Barbosa, que salienta que nada exclui a necessidade de uma consulta.
O infectologista também sugere pesquisas em portais de sociedades da especialidade médica ou do Ministério da Saúde, de instituições oficiais como a FioCruz (Fundação Oswaldo Cruz) e até de universidades como Unesp e USP (Universidade de São Paulo).
“Sabe o que os pais fazem quando deixam os filhos sozinhos no computador? O médico tem que fazer a mesma coisa, filtrar o conteúdo e ensinar o que é confiável. É uma tarefa difícil, uma educação”, diz Siqueira.
Diagnóstico online
Uma página que informa pacientes sobre possíveis diagnósticos é o Dr. Sintomas. Após preencher um grande questionário, o site dá as prováveis doenças e explica quais sintomas fizeram as tais enfermidades serem as escolhidas.
“A ideia era ser o primeiro contato do paciente, então tentamos transformar a cabeça de um médico em um sistema para chegar em hipóteses mais próximas da realidade”, diz Marco Scabia, cofundador do Dr. Sintomas.
Ao testar o site, Álvaro Nagib Atallah, clínico geral e professor Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), não aprovou o sistema por achar que dar diagnósticos online pode ser perigoso.
“Testei e as respostas foram doenças raras, não apareceram doenças mais frequentes. Se até com exames existem falsos positivos, acho delicado o teste online... O correto é o médico analisar cerca de 200 informações sobre um paciente para ter segurança do diagnóstico”, explica Atallah.
E uma resposta errada pode afetar mais do que imaginamos. “Rotular o paciente não é bom. Se você diz que ele tem câncer ele vai ficar com aquilo na cabeça e pode ter ansiedade, criar uma preocupação de que o câncer irá aparecer”, afirma.
Inclusive, ao testar o site, Barbosa simulou ter diabetes tipo 2 e afirma que recebeu a resposta de provável câncer de intestino.
Scabia afirma que o Dr, Sintoma tem taxas de 70% de acerto em doenças de baixa complexidade e está sempre sendo aprimorado. "O site não é uma ferramenta de diagnóstico médico on-line, mas, sim, de informação e educação. A proposta é o usuário fazer uma autoavaliação do que está sentindo em uma base confiável de informações, que cruza dados complexos (perfil, histórico e relato de sintomas)."
O criador do app salienta que o diabetes é a doença em que mais investiram tempo de especialistas e desenvolvedores. “Orientamos que é preciso ir ao médico de qualquer forma, até por isso deixamos doenças graves entre os resultados, por recomendação de especialistas. É melhor que o paciente saiba que seus sintomas podem se enquadrar na doença e note a importância de ir ao especialista. Nosso objetivo é tranquilizar o usuário, uma vez que a análise feita é muito mais personalizada do que outras soluções e usa machine learning, aperfeiçoando-se com o tempo.”
Lembrete no app
Outra plataforma analisada foi o aplicativo Dr. Cuco. Nele, o paciente recebe lembretes sobre o horário das medicações, além de ter acesso a links de e-commerces de farmácias e boletins com informações sobre os tratamentos e as doenças que possui.
“Sentia a dificuldade dos meus avós para gerenciar os medicamentos e ter informação, então criamos o aplicativo e temos orientação de um médico da Universidade de Stanford, nos EUA”, explica Gustavo Comitre, um dos fundadores da start up. Comitre afirma que o app é um acompanhante dos usuários, que em média tomam mais de três remédios por dia.
“O Dr. Cuco é fantástico, é um lembrete de remédios e é confiável, ótimo para quem doenças crônicas e não pode se esquecer. As informações também são boas e quando maior a adesão melhor o tratamento”, afirma Barbosa.
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