Menino tem parada cardíaca ao comer cachorro-quente e descobre doença rara
Um grupo de médicos da Turquia decidiu analisar a fundo o caso de um menino de nove anos que sofreu uma parada cardíaca depois de dar uma grande mordida num cachorro-quente. E o resultado do estudo, que foi publicado nesta quarta-feira (6) pela revista Pediatrics e reproduzido pelo site da rede norte-americana "CNN", provou que o problema não foi causado por engasgamento, como esperado, mas sim por uma síndrome rara da qual a criança sofre.
De acordo com as análises lideradas por Isa Ozyilmaz, médico do Hospital Mehmet Akif Ersoy, especializado em pesquisa e em cirurgias torácicas e cardiovasculares, o grande pedaço de cachorro-quente estimulou o nervo vago (que se estende da cabeça ao abdome e é conhecido no Brasil também como nervo pneumogástrico) do menino.
Esse estímulo desencadeou um ritmo cardíaco anormal no garoto, que fez com que o coração dele parasse abruptamente de bater, acrescentam os médicos.
Apesar do susto, a história teve um final feliz: após a desfibrilação, a criança foi ressuscitada e se recuperou plenamente. O histórico familiar do menino não apontou doenças cardíacas, o que aumentava as suspeitas de que o engasgamento seria a causa direta do problema.
No entanto, os médicos estranharam o resultado de um eletrocardiograma de acompanhamento do garoto e decidiram fazer um teste: injetaram um medicamento antiarrítmico no paciente e viram como o coração dele respondia. A reação apresentada neste exame fez a equipe diagnosticá-lo como portador da Síndrome de Brugada.
Mas o que seria isso? "A síndrome de Brugada é um problema de ritmo cardíaco hereditário", explicou à "CNN" Anne Dubin, professora de cardiologia pediátrica do Hospital Infantil Lucile Packard, de Stanford, que não estava envolvida no caso do menino.
Problema raro, recente e complexo
A doença foi descoberta em 1992 pelo cardiologista espanhol Josep Brugada e seus irmãos – e por isso leva este nome. A arritmia hereditária dos portadores faz com os ventrículos batam tão rapidamente, o que pode, às vezes, impedir que o sangue circule eficientemente no corpo do portador.
Embora não haja um número exato de portadores (a síndrome é recente e de difícil diagnóstico), a maioria das pessoas que desenvolve sintomas da Síndrome de Brugada são homens entre 20 e 60 anos, o que torna o caso do menino turco extremamente raro, de acordo com os médicos.
"No que diz respeito à síndrome de Brugada sintomática, trabalho na eletrofisiologia pediátrica há 23 anos, e provavelmente só vi dois ou três casos", explica a doutora Dubin, acrescentando que “as pessoas não devem entrar em pânico" com esta doença - muitas chegam até o fim da vida sem saber que sofrem disso.
Mas a médica alerta: "se você tem uma história familiar de pessoas que morrem de repente, sem motivo conhecido, ou se você tem alguém em sua família que foi diagnosticado com síndrome de Brugada quando adulto, leve as crianças para uma avaliação", afirma.
Após o incidente, os médicos do garoto turco implantaram um desfibrilador em seu peito para prevenir uma parada súbita cardíaca no futuro. "Isso é muito mais normal em adultos, mas às vezes acontece”, concorda Dubin. “Não há muito o que podemos fazer pelas pessoas, e a principal maneira de tratá-las é com um desfibrilador".
O estudo do caso do menino turco não se aplica à maioria das crianças, disse Elizabeth Saarel, chefe de cardiologia do Cleveland Clinic Children's Hospital e porta-voz da Academia Americana de Pediatria. Ainda assim, a síndrome é "rara, mas com risco de vida", de modo que os pais precisam estar cientes, sugeriu.
"As crianças se sufocam com os cachorros-quentes e com comida o tempo todo e, às vezes, sofrem uma parada cardíaca", disse Saarel, que não estava envolvido no novo relatório de caso. "Os pediatras presumem que esta é sempre uma questão de via aérea. Mas este relatório de caso indica que as crianças que se engasgam com os alimentos e que têm parada cardíaca também precisam ser examinadas para a Síndrome de Brugada".
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