Bronquiolite, maior causa de internação de bebês, tem fatores genéticos
Uma pesquisa feita na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou fatores genéticos associados à gravidade da bronquiolite viral aguda. Os resultados do estudo foram publicados na edição de 1º de março da revista Gene.
Detectar associações genéticas em casos de bronquiolite viral aguda é o primeiro passo para o desenvolvimento de testes capazes de identificar o possível desfecho clínico de cada paciente diagnosticado com a doença logo após a entrada no pronto-socorro
Fernando Augusto de Lima Marson, pesquisador na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e um dos autores do artigo
O coordenador do estudo, o professor José Dirceu Ribeiro, também da FCM-Unicamp, destaca que existem diversos fatores de risco que propiciam o aparecimento da bronquiolite viral aguda, como prematuridade, histórico de doença pulmonar e tabagismo passivo. “Por outro lado, há um percentual muito relevante de pacientes que não se enquadram em nenhum fator de risco. A questão é explicar, nesses casos, a evolução da doença para a sua forma mais grave”, disse.
O novo estudo buscou relacionar fatores genéticos com as formas mais graves de bronquiolite viral aguda em pacientes que não estão em grupos de risco.
Ribeiro lembra que a doença é a mais comum no primeiro ano de vida e também a maior causa de internação hospitalar nesse período em todo o mundo. Trata-se de uma infecção das vias respiratórias que afeta em particular os bronquíolos.
Na maioria dos casos, a bronquiolite viral aguda é branda e sem grandes consequências. Ainda assim, entre 1% e 3% dos doentes necessitam de internação. Desses, alguns pacientes precisarão de inalação de oxigênio. Um número menor ainda irá para a unidade de terapia intensiva para receber ventilação mecânica.
Busca por fatores genéticos
Para investigar a existência de possíveis fatores genéticos que influenciam na gravidade dos casos, os pesquisadores estudaram 181 crianças que foram admitidas ao longo de dois anos em três hospitais da região de Campinas. Elas foram diagnosticadas com bronquiolite viral aguda e todas tiveram que receber oxigênio. A triagem foi realizada nos hospitais das Clínicas da Unicamp, Estadual de Sumaré e Vera Cruz.
Primeiramente, foram coletadas amostras de secreção no nariz, para determinar o tipo de vírus causador de bronquiolite aguda em cada um deles. Como esperado, a maioria dos casos era causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR). Mais especificamente, a infecção pelo vírus VSR respondia por 69,9% dos pacientes, enquanto que 26,5% eram infecções por rinovírus, a segunda principal causa.
Paralelamente, os pesquisadores fizeram uma avaliação das 181 crianças para saber quais se enquadravam em um ou mais grupos de riscos para a bronquiolite viral aguda. O resultado da triagem foi revelador. Não faziam parte de nenhum grupo de risco 131 crianças (ou 72% do total).
Foram empregadas técnicas de biologia molecular e de estatística para estudar e comparar o DNA dos pacientes. A busca foi por marcadores genéticos específicos, em especial a identificação de variações na sequência de DNA chamadas polimorfismos de nucleotídeo simples (conhecidos pela sigla em inglês SNP). Os SNPs constituem 90% de todas as variações no genoma humano.
Nosso estudo focou nos fatores genéticos que poderiam estar associados à gravidade da bronquiolite viral aguda. Mostramos que existe relação entre a predisposição genética do paciente e a gravidade da doença
Fernando Augusto de Lima Marson
“De nosso conhecimento, este é o primeiro estudo mundial a mostrar isso com esse nível de detalhamento, incluindo um grande número de variantes genéticas”, disse Marson.
Alguns genes estão de fato associados à presença de vírus específicos causadores da doença. Os pesquisadores da Unicamp observaram a associação entre o SNP rs2107538*CCL5 e a bronquiolite causada pelo vírus VSR e VSR do subtipo A e entre o SNP rs1060826*NOS2 e a bronquiolite causada por rinovírus.
“Os SNPs rs4986790*TLR4, rs1898830*TLR2 e rs2228570*VDR estavam associados aos casos gravíssimos da doença, aqueles que progrediram até o óbito. O rs7656411*TLR2 foi associado à necessidade de inalação de oxigênio, assim como rs352162*TLR9, rs187084*TLR9 e rs2280788*CCL5 foram associados aos casos em que foi necessária a internação em unidade de terapia intensiva. Por fim, rs1927911*TLR4, rs352162*TLR9 e rs2107538*CCL5 foram associados aos doentes que precisaram de ventilação mecânica”, disse Marson.
Os autores do estudo destacam que os resultados precisam ser replicados por outros grupos de pesquisa. Mesmo assim, consideram os resultados bastante animadores.
“A medicina caminha no sentido de desenvolver terapias feitas sob medida para cada paciente. Nesse sentido, a identificação de SNPs associados à doença pode representar um alvo de terapias genéticas, criando tratamentos e manejos para a medicina de precisão e preventiva, respectivamente”, disse Marson.
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