Pacientes esperam atendimento por 7 horas em unidade de saúde de Copacabana
Quem precisou recorrer à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro de Copacabana, zona sul do Rio, na última quarta-feira (21), demorou pelo menos sete horas para ser atendido, segundo relatos dos próprios funcionários que trabalham no local. A unidade do governo do Estado está sob administração da Organização Social Hospital Maternidade Therezinha de Jesus.
O problema não é pontual. Na sexta-feira (23), a reportagem voltou à unidade de saúde e encontrou pacientes que aguardavam por cinco e até seis horas para seu atendimento. A OS responsável pela UPA diz que o Estado tem uma dívida de R$ 65 milhões, mas o governo estadual nega.
Além de estar com a equipe reduzida, os profissionais contam que a UPA enfrenta racionamento de medicamentos. Segundo um médico que preferiu não ser identificado, a unidade funciona sem insumos básicos.
“As medicações estão muito restritas. Recentemente passaram uma ‘circular’ informando que benzetacil, por exemplo, é só para casos de sífilis. Não posso fazer para amigdalite. Eles alegam que amigdalite pode ser tratada com amoxicilina, mas atendemos pacientes muito carentes que não têm dinheiro para comprar. Para fazer benzetacil tem que pedir permissão. Anti-inflamatório venoso está disponível somente para cálculo renal. Não posso fazer para enxaqueca. Há duas semanas a gente não tinha nem dipirona na UPA”, disse o profissional.
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Em entrevista ao UOL, o presidente do Cremerj (conselho regional de medicina), Nelson Nahon, classificou a crise na saúde como a pior da história do Rio de Janeiro.
“Hospitais com problemas, faltam médicos no programa da família. Isso tudo ajuda a sobrecarregar o funcionamento das UPAs, que seguem lotadas e sem estrutura. Visitamos recentemente a sala vermelha da UPA da Tijuca e vimos dois pacientes graves e apenas um monitor funcionando. Observamos também que tem UPA que só autoriza medicar o paciente com hidrocortisona se for criança. O medicamento usado para alergias graves não está disponível para adultos. É uma situação precária.”
Poucos médicos e salários atrasados
Além da redução de médicos e medicamentos, os funcionários das unidades estão há dois anos recebendo seus salários com atraso. Desde 2016, a OS não consegue pagar em dia, de acordo com as denúncias. O 13º salário de 2016 e do ano passado ainda não foram pagos para todos os funcionários.
Com menos profissionais do que o necessário, aumenta o tempo de espera pelo atendimento e os médicos ficam sobrecarregados.
“Os médicos do período da noite não conseguem nem comer direito. Trabalham 12 horas, batem o ponto para tirar o intervalo, comem em 15 minutos, descem para atender e depois retornam para fechar o ponto. São dois clínicos quando deveriam ter pelo menos três no atendimento”, contou um funcionário da UPA de Copacabana ao UOL.
Devido à precariedade de condições, outras duas unidades --Tijuca, na zona norte do Rio, e Jacarepaguá, na zona oeste-- paralisaram parcialmente as atividades. Somente os pacientes em estado grave de saúde são atendidos.
As duas unidades mais as UPAs de Botafogo e Copacabana são geridas pelo Hospital Maternidade Therezinha de Jesus (HTMJ) – uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos.
Unidades tiveram orçamento reduzido em 40%
Ainda segundo o Cremerj, as UPAs de gestão estadual sofreram redução de 40% em seus orçamentos. Além disso, os valores são repassados de forma parcial e ainda com atrasos. Segundo Nohon, o governo descumpre a lei que garante 12% do orçamento para a Saúde. Em 2016, o Estado deixou de repassar 600 milhões. “Se observarmos os três anos do governo Pezão, a Saúde deixou de receber um pouco mais de R$ 2 bilhões."
Por esta razão, o Ministério Público Estadual entrou com uma ação na 14ª Vara de Fazenda Pública pedindo o afastamento do governador Luiz Fernando Pezão (MDB).O MPRJ usou como base o cálculo do Tribunal de Contas do Estado mostrando que em 2016 apenas 10,42% do orçamento estadual foi gasto no setor. O governo recorreu da decisão.
OS diz que governo não paga; Estado nega
Procurada, a OS Hospital Maternidade Therezinha de Jesus (HTMJ) informou que a secretaria estadual acumula uma dívida com a entidade de R$ 65 milhões referentes às UPAs de Botafogo, Copacabana, Tijuca e Jacarepaguá.
“Os repasses financeiros têm sido feitos sempre com atraso e em valores inferiores aos estipulados em contrato”, informou a entidade por meio de nota.
A OS confirmou que a Justiça bloqueou suas contas em razão das ações trabalhistas contra a entidade, mas afirmou ter o “compromisso de buscar uma solução o mais rápido possível, tanto junto ao governo, quanto nas instâncias judiciais para viabilizar os pagamentos de fevereiro dos funcionários da UPA de Copacabana, e garantir o atendimento adequado à população e a manutenção da infraestrutura nas unidades hospitalares que administra”.
Já a secretaria de estado de Saúde informou que vem realizando os repasses mensais referentes ao custeio das UPAs gerenciadas pelo Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus. Apesar dos repasses, a OS alega que não efetuou o pagamento dos funcionários devido a um bloqueio judicial. Entretanto, segundo a secretaria, a Organização Social já teve três contas desbloqueadas, permitindo a realização dos pagamentos dos funcionários.
De acordo com a nota, a "SES já notificou a OS para a quitação dos salários dos funcionários e está estudando as medidas jurídicas cabíveis contra a HMTJ. O objetivo principal da Secretaria é que os serviços prestados à população sejam retomados de forma integral e com qualidade e que os profissionais de saúde tenham condições adequadas de trabalho"
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