O que é a febre do Nilo Ocidental, que fez o ES decretar estado de alerta
O estado do Espírito Santo registrou o primeiro caso de Febre do Nilo Ocidental (FNO) na última quarta-feira (6) e decretou estado de alerta para a possível infestação em humanos. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), seis cavalos morreram nos meses de abril e maio deste ano no município de São Mateus, no norte do ES, e exames indicaram que um deles testou positivo para o vírus causador da doença.
A Febre do Nilo Ocidental é uma infecção provocada por um vírus do gênero Flavivírus, assim como os da febre amarela e da dengue. O mosquito culex, popularmente conhecido como pernilongo ou muriçoca, contrai o vírus ao entrar em contato com aves silvestres migratórias já infectadas e transmite a doença ao picar cavalos, humanos e outros mamíferos.
A confirmação na coleta realizada pelo Instituto Evandro Chagas, laboratório oficial do Ministério da Saúde, motivou a Sesa a enviar uma nota técnica aos profissionais de saúde de todo o estado com informações sobre sintomas e procedimentos de vigilância em relação à doença, pedindo atenção especialmente aos pacientes que desenvolvam quadros neurológicos virais ou bacterianos.
O homem e os equídeos – como o cavalo – são considerados hospedeiros acidentais e terminais, uma vez que presença do vírus no sangue se dá por curto período de tempo e em níveis insuficientes para infectar mosquitos, encerrando o ciclo de transmissão.
Sintomas
Os sintomas em humanos costumam se manifestar entre três a 14 dias após a picada do mosquito. Estima-se que 80% das pessoas infectadas não apresentam sintoma. Os outros 20% desenvolvem reações leves como febre em torno de 38 graus, fadiga, dores de cabeça, musculares ou nas articulações, náusea e vômitos.
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Sintomas mais graves como febre alta, rigidez na nunca, tremores e alteração nos níveis de consciência são raros e acometem um a cada 150 seres humanos. Os casos mais complicados são os de encefalite, que é a inflamação no cérebro.
Animais normalmente apresentam falta de coordenação motora, andar cambaleante, cegueira, cabeça baixa, orelhas caídas e apatia.
Diagnóstico e tratamento
O vírus é detectado por meio de exame de sangue, com testes moleculares ou de anticorpos. No entanto, não existe vacina. O tratamento é sintomático com indicação de repouso e reposição de líquidos e a maioria das pessoas se recupera naturalmente.
Nos casos mais graves, os pacientes são hospitalizados e recebem suporte respiratório e reposição intravenosa de fluidos, além de cuidados específicos para os que sofrem com quadros de encefalites.
Doença e transmissão
Profissionais da saúde animal, como veterinários, também estão sujeitos, por exemplo, a contrair a doença se entrarem em contato com o sangue de animais infectados. Mas isso é raro, considerando que eles são orientados com medidas de biossegurança, explicou ao UOL Antônio Carlos de Albuquerque Bandeira, infectologista e coordenador do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Gilton Almada, coordenador do Centro de Emergências em Saúde Pública da Sesa, explicou que "ainda não há nenhum registro em humanos no Espírito Santo" e que a secretaria busca pessoas com quadro clínico suspeito. "Não é uma situação de alarde ou de emergência. Apenas intensificamos o trabalho de vigilância que já fazemos", completou.
Segundo o infectologista Antônio Bandeira, como são casos muito isolados, a "Febre do Nilo ainda não se tornou um problema de saúde pública" e ainda é difícil que a doença se espalhe pelo Brasil.
No Entanto, sugere que o sistema de saúde fique atento. "Um pesquisador identificou o vírus em aves mortas na beira de estradas em São Paulo, há três anos. Então, considerando que já houve ocorrência em mais de um estado, é preciso que o sistema de saúde fique em alerta", afirmou. De acordo com Bandeira, o alerta se deve porque muitos pacientes são assintomáticos, podem ter o vírus e não terem o diagnóstico correto.
Para o infectologista, as "as aves desenvolvem uma quantidade muito grande de vírus no sangue, por isso o mosquito se infesta facilmente". Já no sangue humano, de acordo com ele, o vírus não se multiplica de forma intensa. "É mais difícil, então, um mosquito picar um humano e se infectar", explica.
Histórico e casos no Brasil
A Febre do Nilo Ocidental teve seus primeiros registros na África nos anos 1990. Os Estados Unidos começaram a ter surtos em 1999 e, na sequência, a doença foi detectada no Canadá e em países da América Central. Nos últimos 15 anos, detectou-se evidências de circulação do vírus na América do Sul.
Em 2003, o Ministério da Saúde incluiu a Febre do Nilo Ocidental na Lista Nacional de Doenças e Agravos de Notificação Compulsória. Evidências sorológicas em cavalos foram detectadas sete anos depois no Acre, no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul e, em 2011, o vírus foi encontrado nas regiões amazônica e do Pantanal.
O único caso da doença em humanos foi registrado no Piauí, no ano de 2014. O paciente era um trabalhador rural que foi diagnosticado com encefalite e testou positivo para o vírus do oeste do Nilo. O homem evoluiu para cura, mas ficou com sequelas e precisou passar por reabilitação com fisioterapia.
Segundo o Ministério da Saúde, não houve, desde então, mais nenhum registro da Febre do Nilo em humanos no Brasil e não há nenhum outro estado em situação de alerta, no momento.
"O Ministério da Saúde esclarece que o Brasil conta com um sistema nacional de vigilância da Febre do Nilo Ocidental. Casos humanos suspeitos, assim como epizootias em aves silvestres e em cavalos devem ser notificados, obrigatoriamente, em até 24h", informou o órgão em nota enviada ao UOL.
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