Recém-nascido morre à espera de vaga em UTI no litoral de São Paulo
Um bebê recém-nascido morreu, na madrugada desta quarta-feira (2), depois de ficar por uma semana na fila de espera por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. Ele apresentava um quadro de pneumonia e insuficiência respiratória aguda, agravado após uma complicação no tratamento, e seguia internado na sala de emergência do Hospital Municipal de Bertioga, litoral de São Paulo. Para a família, houve negligência do Estado.
Ao UOL, familiares afirmaram que Daniel nasceu saudável, por meio de uma cesariana realizada na 39ª semana de gestação, no último dia 11 de abril. Doze dias depois, porém, o bebê começou a apresentar sinais de gripe e foi levado ao pronto-socorro. "Tinha sintomas de gripo, uma leve coriza. Prescreveram medicamento, ministraram soro e deram alta”, contou a tia de Daniel, Thamirys Marques, de 27 anos.
Segundo ela, dois dias mais tarde, o quadro agravou, e a família voltou ao complexo hospitalar. “Ele já estava com dificuldade para respirar e foi internado". Os exames detectaram bronquiolite – inflamação dos bronquíolos, parte final dos brônquios, comum em bebês de até seis meses –, o que para um recém-nascido, oferece risco à vida. "Desde então, começou a busca por uma vaga na UTI neonatal, que é responsabilidade do Estado", explicou a tia.
“Assim que chegamos e os médicos viram que o quadro dele estava grave, já pediram a transferência para Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross), da Secretaria de Saúde do Estado", lembrou Thamirys. "Enquanto isso, meu sobrinho recebeu toda medicação e atenção possível para tentar uma melhora no quadro até que a vaga viesse. Ele foi até transferido do setor de emergência para uma sala de estabilização, onde foi entubado e recebia ventilação mecânica, mas esperou sete dias e não aguentou mais”, lamentou.
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Em nota, o Departamento Regional de Saúde (DRS) da Baixada Santista, ligado ao Governo do Estado, afirmou que acionou a Cross para realizar pedido de transferência. Também lembrou que o número de vagas disponíveis não é único critério para conclusão do processo, citando como necessário "que o paciente apresente condições clínicas de ser transferido, com quadro estável e livre de infecções", mas não respondeu diretamente à acusação de negligência feita pela família de Daniel.
Ainda segundo Thamirys, quando percebeu que não haveria vaga na região, o Hospital Municipal de Bertioga ampliou a solicitação de transferência do bebê para qualquer hospital do estado de São Paulo; ainda assim, sem sucesso. "Não podemos culpar o hospital. Nós vimos que eles fizeram de tudo para tentar salvá-lo. O problema foi a falta de leito”, completou.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Bertioga informou que o bebê estava sendo mantido no Hospital Municipal de Bertioga com todos os cuidados possíveis de média complexidade ao alcance do município, e aguardava transferência para vaga de UTI por meio do sistema Cross.
“Infelizmente, a vaga não saiu, mesmo após diversas tentativas feitas pelos diretores do Hospital, que explicaram detalhadamente o caso para as unidades da Região que contam com UTI", informou o comunicado. "Segundo as respectivas administrações dos Hospitais da Baixada Santista, o recém-nascido não poderia ser transferido, porque todos os leitos de UTI estavam ocupados e com pacientes na fila de espera por vaga. O paciente apresentava bronquiolite com insuficiência respiratória aguda grave, em ventilação mecânica.”
A Secretaria informou ainda que o Estado não repassa para Bertioga nenhum financiamento para o serviço médico. Mais de 90% do custeio da saúde na cidade é feita pelo próprio município, o restante é transferência do Ministério da Saúde. A nota ressaltou ainda que “é função do Estado atender a demanda de alta complexidade”.
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