Sem cubanos, mais de 500 cidades em extrema pobreza ficam sem médicos
Cidades em situação de extrema pobreza estão entre as mais afetadas pela saída dos profissionais cubanos do programa Mais Médicos. O levantamento considera nessa condição locais em que 30% ou mais da população tem renda familiar per capita de até R$ 77 mensais.
Segundo o estudo, feito pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios), 577 localidades em extrema pobreza têm apenas cubanos participantes do programa federal e estão desassistidas. Quase todas ficam nas regiões Norte e Nordeste. Ao todo, elas perderão 1.348 profissionais.
"Os dados também mostram que 1.479 municípios somente possuem cubanos no programa, sendo que 80% dessas localidades são de pequeno porte (com menos de 20 mil habitantes) e estão em regiões vulneráveis", aponta a confederação.
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Os cubanos já começaram a deixar os postos de trabalho por todo o país e iniciaram seu retorno ao país caribenho. A ideia é que todos tenham saído do Brasil até o início de dezembro.
Ao mesmo tempo, o governo brasileiro tenta suprir substitutos para essas vagas. Para tanto, na quarta-feira (21) teve início a inscrição de médicos brasileiros ou com registro válido no país.
Onde ficam as cidades mais afetadas
O município em extrema pobreza que mais terá perda de médicos é Granja, no interior do Ceará, onde os 12 profissionais cubanos deixam o programa, segundo a CNM. A população estimada é de 54.729 pessoas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), das quais só 4,1% estão ocupadas.
Coelho Neto (MA) vem logo em seguida com dez médicos saindo dos postos. São 46.750 moradores, com 8,5% de ocupados.
Na Bahia, estado com mais municípios em extrema pobreza onde só há cubanos no Mais Médicos, há mais de 80 cidades que perderão todos os profissionais do programa.
Segundo o Conselho de Secretários de Saúde da Bahia, 317 municípios são atendidos pelo programa e contam com 854 cubanos.
Uma cartilha pediu que os gestores apoiassem a logística da saída dos cubanos. "A preocupação é conduzir este momento da melhor maneira possível, com respeito, solidariedade e reconhecimento aos excelentes serviços prestados, mas também respeitando a decisão soberana de Cuba em chamar de volta os seus profissionais", diz a entidade.
A saída dos cubanos se tornou uma preocupação das autoridades nessas regiões. "Isso agravará de forma significativa o acesso e o direito à saúde da população do estado, frente à inevitável diminuição das equipes de Saúde da Família e da qualidade no atendimento alcançada nos últimos anos com a presença destes profissionais", afirmou o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do Pará.
A CNM diz que já "solicitou adoção de novas estratégias para interiorização e fixação dos profissionais médicos e outras categorias necessárias para o atendimento básico às populações, além da ampliação, vista como prioridade, para locais que ainda apresentam a ausência e a dificuldade de fixar o profissional".
Em média, uma equipe de Saúde da Família custa aos cofres municipais R$ 45 mil mensais. No caso do Mais Médicos, o governo federal arca com a contratação, a remuneração de R$ 11 mil transferidos ao programa e um incentivo financeiro de R$ 4.000, enviado aos fundos municipais de saúde.
A CNM estima que, somente com o Mais Médicos, a participação dos municípios representa um investimento anual de cerca de R$ 6,5 bilhões.
Aldeias indígenas perderão 300 médicos
Outra parcela muito atingida pela decisão do governo cubano de encerrar a parceria são as etnias indígenas.
De acordo com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), existem 300 cubanos em aldeias indígenas, o que corresponde a 75% dos médicos que atuam na saúde desse grupo. A dificuldade é encontrar quem queira trabalhar em áreas distantes e espalhadas por 19 estados.
O Amazonas é o que reúne o maior número desses Distritos Sanitários Especiais Indígenas (78), seguido por Mato Grosso (35), Pará e Roraima, ambos com 26 cada um.
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