Sem cheiro, gás que matou brasileiros no Chile leva à morte por asfixia
Sem cheiro, gosto ou cor, o gás que matou uma família de brasileiros que comemorava um aniversário no Chile pode levar à morte tão rápido que pedir socorro nem sempre é suficiente.
De acordo com a polícia chilena, um vazamento de gás causou a morte de seis brasileiros de uma mesma família que viajaram até a cidade de Santiago para comemorar o aniversário de 15 anos da adolescente Karoliny Nascimento de Souza. Segundo o Itamaraty, a família dos brasileiros recebeu telefonemas dos parentes dizendo falavam coisas desconexas e sem sentido. Os sintomas condizem com intoxicação.
Os bombeiros testaram o ar dentro do apartamento, alugado por meio do site de reservas Airbnb, e encontraram altas concentrações de monóxido de carbono. "De 5.000 a 6.000 pessoas morrem por ano no mundo por intoxicação por monóxido de carbono", estima o toxicologista e coordenador do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica) de São Paulo, Anthony Wong. Como ele é usado para aquecer o ambiente, em geral o local não tem ventilação ou correntes de ar.
"É um gás que não tem cheiro, gosto ou cor. Ele surge da queima de combustível e gera grande quantidade de gás carbônico (CO2) e, em menor concentração, o CO, o monóxido de carbono que matou a família", explica Alvaro Pulchinelli Junior, toxicologista da Escola Paulista de Medicina e do IBTox (Instituto Brasileiro de Toxicologia).
A seguir, 6 perguntas para entender o assunto:
1. Como se dá a intoxicação por monóxido de carbono?
O CO se liga de forma irreversível à hemoglobina, responsável pela cor vermelha do sangue e por transportar o oxigênio às células do organismo. "Se a pessoa inalar muito, surge um composto chamado Carboxyhemoglobina, que pode causar a morte por envenenamento ao impedir que as cédulas recebam oxigênio", diz o especialista do IBTox.
2. Qual a concentração mínima que o ser humano é capaz de suportar?
"Depende muito do ambiente. É difícil estimar", diz Pulchinelli Junior. Ele explica que tudo depende do tamanho do ambiente e do grau de ventilação e renovação do ar nesse espaço. "Uma concentração mínima por muito tempo pode ser fatal. O mesmo para uma alta concentração e por pouco tempo."
3. Em quanto tempo inalando o gás uma pessoa perde a consciência?
Segundo o toxicologista do Ceatox, é impossível medir esse tempo, mas a vítima corre mais risco se não faz atividade física, tem idade avançada ou alguma doença. "Um idoso com enfisema está muito mais sujeito do que um atleta de 20 anos com um pulmão em plena capacidade."
4. Como os órgãos reagem à falta de oxigênio?
O primeiro tecido afetado é o nervoso. A oxigenação no cérebro vai diminuindo, começa uma confusão mental até que a vítima perde a consciência e desmaia. "Como a pessoa continua a inalar o gás, os outros órgãos também são afetados. Por isso é difícil pedir socorro em uma situação como essa", diz o toxicologista do IBTox.
"Sem oxigênio não há energia para bombear o coração", diz Wong. "Como o monóxido de carbono não tem cheiro, a pessoa vai perdendo as forças, não sabe o que está acontecendo e, quando percebe, não tem forças para reagir."
4. Como o hospital cuida do paciente quando ele é socorrido com vida?
Respiração artificial. A vítima é entubada para respirar mais oxigênio do que temos na atmosfera, cuja concentração é de 20%.
Qual a recomendação para prevenir a inalação de monóxido de carbono?
A prevenção é não se expor à substância. Pulchinelli lembra que, no Brasil, o aquecimento de grandes ambientes em residências é menos comum que no Chile, mas ainda assim é possível que aconteça casos como o que matou a família brasileira. Ele dá como exemplo "uma garagem fechada com o carro funcionando", quando o escapamento libera monoxido de carbono e pode matar.
Wong, do Ceatox, diz que vazamento em aquecedor a gás pode causar o mesmo problema. "Também um fogareiro a carvão ou a querosene. As pessoas acendem e fecham todas as janelas e vãos. O combustível queima o oxigênio e forma-se o monóxido de carbono", ele explica.
Wong diz que no mercado norte-americano há um equipamento comum e de baixo custo, movido à bateria, que capta pequenos vazamentos e alerta sobre o perigo de intoxicação.
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