Para especialistas, dois fatores explicam a volta e a explosão da dengue
De acordo com o Ministério do Saúde, entre janeiro e agosto foram registrados 1.439.471 casos prováveis da doença no Brasil - um aumento de 600%, na comparação com mesmo período de 2018.
São Paulo é o estado com maior aumento dos casos - 3.712% de expansão, chegando a 437 mil infectados, e Minas concentra o maior número de doentes: 471 mil.
Por trás desses números, segundo especialistas em infectologia e biologia ouvidos pelo UOL, há dois fatores combinados: o aumento das chuvas no Brasil no primeiro semestre e a queda no afinco no combate ao mosquito.
"A dengue é transmitida por um vetor [mosquito] que depende de disponibilidade hídrica, diretamente relacionada ao regime de chuvas. Então, se aumenta a chuva e a população baixa a guarda, aumentam os casos", afirma o biólogo Magno Castelo Branco, especialista em meio ambiente da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Entenda:
Mais chuva, mais dengue
De acordo com os dados do ministério da Saúde, o pico de casos se deu entre março e maio. Nesta época, já se estimava que 2019 seria o ano mais chuvoso da última década no Brasil.
"Houve municípios em São Paulo em que choveu duas a três vezes mais do que no ano passado. Logo, o mosquito teve mais lugares para reproduzir", avalia Castelo Branco.
Além disso, o especialista afirma que o aumento de mosquitos é tendência mundial devido ao aquecimento global.
"Hoje, estes vetores chegam a lugares a que antes não chegavam por causa da temperatura. O aquecimento é uma realidade", explica.
Falta de cuidados consolida o crescimento
Além de as chuvas impulsionarem a disseminação do Aedes aegypti, a falta de cuidado com água parada é um dos motivos pelos quais a doença se alastra.
"Um vetor consegue contaminar até 20, 30 pessoas. É como se fosse bola de neve: uma pessoa doente pode gerar outras 10, 20 ou 30 pessoas doentes. O Aedes aegypti tem essa capacidade de ataque muito grande", afirma o infectologista Gabriel Cuba, do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.
Segundo ele, já foram testadas vacinas que prevenissem a doença e há outras em experimento, mas nenhuma está consolidada. "Por isso, a única maneira real de prevenir atualmente é controlar o vetor. Não é coincidência: quanto mais mosquitos há em uma determinada região, maior o risco", afirma o médico.
"O que cabia fazer para conter essa explosão, na parte da prevenção, a gente não fez", diz Castello Branco.
Epidemia cíclica
Os especialistas avaliam que doenças como a dengue são cíclicas: sempre que há anos com diminuição de casos, a população e o Estado diminuem os cuidados contra a procriação do mosquito, e a incidência da doença volta a subir.
"Tivemos surtos entre 2015 e 2016, acredito que até piores do que os deste ano. Depois, voltou a baixar. Agora, podemos dizer que 2019 é o pior ano dos últimos três. Só na cidade de São Paulo já há mais casos nestes oito meses do que em todo 2018", afirma Cuba.
"Talvez as pessoas tenham baixado a guarda e não se prepararam para o aumento das chuvas", avalia Castelo Branco.
Políticas públicas de prevenção devem vir antes das chuvas
O principal cuidado para evitar a proliferação da dengue e de outras doenças transmissíveis, como chikungunya e Zika, é evitar acúmulo de água parada, que favorece a procriação do mosquito. Para os especialistas, governo tem de fazer campanhas para estimular estes cuidados em momentos cruciais.
"O grande indicador para campanhas públicas tem de ser quando a previsão do tempo apontar para mais chuvas, é o momento ideal para falar com a população, como se faz contra a gripe antes do inverno", afirma Castelo Branco. "Bater nisto o ano inteiro pode causar normatização. Se vai chegar época de chuvas, começam as campanhas."
O UOL procurou o Ministério da Saúde para saber quais foram as iniciativas tomadas para conter o aumento de casos de dengue neste ano, mas não teve resposta até o fechamento da matéria.
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