Documento indica que Xi Jinping sabia do coronavírus desde o começo do ano
Resumo da notícia
- O Partido Comunista chinês divulgou documento para mostrar que Xi Jinping tomou a frente da luta contra o coronavírus
- Mas o papel indica que o presidente da China sabia da epidemia desde 7 de janeiro
- Ele só se dirigiu à nação em 20 de janeiro
- Revelação deixa a dúvida: a China demorou para agir?
Um documento divulgado pelo Partido Comunista da China indica que o presidente chinês, Xi Jinping, escondeu por duas semanas as infecções pelo novo coronavírus, causador da covid-19.
Xi Jinping falou pela primeira vez publicamente sobre o assunto em um discurso à nação no dia 20 de janeiro, sete dias antes de Zhou Xianwang, então prefeito de Wuhan (epicentro da epidemia), renunciar ao admitir ter escondido informações sobre o surto, que já deixou quase 1.800 mortos e 70 mil infectados na China.
Embora o governo central tenha responsabilizado autoridades locais pela crise, o texto distribuído pelo Partido Comunista no último sábado (15) revela que Xi Jinping já sabia sobre o novo coronavírus 13 dias antes de seu discurso.
A intenção do partido em divulgar a transcrição de um discurso interno do mandatário era demonstrar que ele cuidava pessoalmente das ações contra a epidemia. Mas o mundo, no entanto, se surpreendeu com a informação de que Xi Jinping conhecia os perigos da doença já em 7 de janeiro, mas permaneceu em silêncio por duas semanas.
"A revelação levanta questões sobre se foi o governo central, e não as autoridades de Hubei, que hesitaram em agir, permitindo que o vírus se espalhasse pelo país e, eventualmente, pelo mundo", avalia o colunista James Griffiths, da rede americana CNN.
A transcrição do discurso, publicado pelo Qiushi, jornal oficial do Partido Comunista, informa que Xi Jinping "emitiu requisitos para a prevenção e controle do novo coronavírus" durante uma reunião do Comitê Permanente do Politburo, o mais poderoso órgão decisório da China, em 7 de janeiro.
Descoberta grave
A descoberta é grave porque o período de 13 dias, entre 7 e 20 de janeiro, foi crucial para a província de Hubei e sua capital, Wuhan, que pareciam menosprezar o surto.
Wang Guangfa, chefe da equipe enviada por Pequim para investigar a situação, disse em 11 de janeiro que o surto estava sob controle.
Nesse intervalo de tempo, as autoridades organizaram quatro grandes reuniões do partido entre 6 e 17 de janeiro: duas em Hubei e outras duas em Wuhan, uma delas no teatro da cidade, a 5,8 quilômetros da feira de pescados de onde, acredita-se, o vírus se espalhou.
Wuhan também ofereceu um tradicional banquete para 40 mil famílias um dia antes do discurso oficial do presidente chinês. Foi quando ele pediu explicitamente que a província de Hubei controlasse a entrada e a saída de pessoas, iniciando seu confinamento.
Wu Qiang, analista político de Pequim especializado na análise dos discursos do presidente, descreveu o documento publicado como "sem precedentes" durante uma entrevista ao South China Morning Post. "Parece que ele está defendendo e explicando como ele fez tudo em sua capacidade de liderar a prevenção de epidemias."
Wu acredita que as crescentes críticas ao fracasso em conter o coronavírus obrigou Xi Jinping a enfrentar a difícil decisão de admitir que ignorou por 20 dias a natureza da crise ou dizer que estava ciente e envolvido na resposta.
O episódio revela a dificuldade em manter intacta a imagem do presidente, tratado pela mídia estatal como um governante que supervisiona e está ciente de tudo o que acontece na China.
China escondeu Sars por 4 meses
Xi Jinping demorou 13 dias para discursar publicamente sobre o surto, período bem menor que o país levou para alertar sobre a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2003.
Na época, o governo chinês foi acusado de encobrir o surto durante quatro meses. O vírus, que também saiu de um mercado público na província de Guangdong, matou ao menos 774 e chegou a 30 países.
A suposta transparência em relação ao covid-19, no entanto, convenceu a OMS (Organização Mundial da Saúde). Um de seus diretores, Tedros Adhanom Ghebreyesus, falou em "seriedade com que a China está enfrentando esse surto" e agradeceu a Pequim por sua "transparência".
Até o presidente americano, Donald Trump, em guerra comercial contra os chineses, depositou um voto de confiança. "Acho que eles têm lidado com isso profissionalmente, e acho que são extremamente capazes", disse ele em um podcast transmitido pela iHeart Radio.
Questionado sobre a veracidade das informações prestadas pela China sobre o vírus, Trump disse: "Você nunca sabe. Acho que eles querem passar a melhor impressão possível."
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