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Sintoma de doença respiratória não é necessariamente coronavírus, entenda

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

28/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Ministério da Saúde descartou 60 casos suspeitos do novo coronavírus
  • Destes casos, 41 eram de outros vírus de doenças com sintomas respiratórios
  • Para infectologista do HC, há oportunidade para melhorar o diagnósticos
  • Quanto mais refinado o diagnóstico, melhor o tratamento

O Ministério da Saúde já descartou 60 casos suspeitos do novo coronavírus. Destes, 41 casos (68%) eram de outras doenças virais, todas com sintomas respiratórios. Outros 19 casos eram de doenças não virais (32%).

Com os descartes, o Ministério da Saúde trabalha atualmente com 132 casos suspeitos.

Dos 41 casos virais, 24 (40%) foram de três vírus de gripe: 9 de influenza B (a gripe sazonal, que ocorre periodicamente), 14 de influenza A (mais grave e que pode virar uma epidemia) e 1 de parainfluenza (gripe mais comum em crianças).

Os outros casos virais descartados eram de:

  • rhinovírus (8) e adenovírus (3), ambos resfriados mais comuns;
  • metapneumovírus (3), uma doença respiratória que pode ser perigosa especialmente em pacientes transplantados;
  • vírus sincicial respiratório (1), outra doença respiratória comum em crianças.

Sintomas respiratórios

Todas essas doenças virais e mesmo os 19 casos não virais detectados podem apresentar sintomas respiratórios. Se chegaram ao ponto de passar por testes para checar a possibilidade de ser o novo coronavírus e descartados é porque preenchiam o protocolo estabelecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) entre doenças parecidas e que precisam ser descartadas, avalia o infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor universitário.

Oportunidade para melhorar diagnóstico

O infectologista avalia os casos suspeitos descartados como "oportunidade para o país". "A crise atual mostra aos gestores das políticas públicas em saúde a oportunidade para melhorar a qualidade do diagnóstico das doenças respiratórias infecciosas no Brasil", afirma.

"Com a tuberculose, o Brasil já faz isso. O diagnóstico pode ser feito num barco no rio Amazonas. O modelo do diagnóstico molecular da tuberculose deveria ser expandido para todas as doenças respiratórias. Estaríamos mais preparados para lidar com uma nova doença, como a covid-19, que pegou o mundo de surpresa", diz.

Como é o diagnóstico?

Stanislau explica que o diagnóstico das infecções respiratórias, entre elas o coronavírus comum, pode ser feito com amostras de secreção respiratória coletadas e colocadas num dispositivo inserido num aparelho com a tecnologia de biologia molecular.

Um desses aparelhos, que lembra uma máquina de café expresso, detecta cerca de 23 agentes respiratórios diferentes. O resultado sai em uma hora.

"Se for outra virose, aplica-se o protocolo correto para terapia e contenção", explica. Se não for nenhum dos 23 vírus detectáveis pelo aparelho, a amostra pode ser encaminhada, a depender do contexto epidemiológico, para o exame específico do novo coronavírus SARS-CoV-2 ou outro novo agente de que se suspeite.

Exame caro

Hoje, os aparelhos com essa tecnologia são restritos a poucos laboratórios públicos e a alguns privados, mas ainda com um custo muito elevado (cerca de R$ 1.000 o exame).

Para Stanislau, com o vírus já circulando no Brasil, talvez seja o caso de ampliar o quadro de pessoas "testáveis".

"Vamos testar todos suspeitos, como é na dengue fora de epidemia e ficar dependendo dos laboratórios centrais retardando condutas relevantes? Popularizar esse tipo de exame talvez seja a melhor alternativa, pois diminuiria a espera e o diagnóstico específico ajudaria o profissional de saúde a definir o tratamento e medidas de prevenção com mais rapidez", diz.

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