Primeira vítima do RJ era doméstica e pegou coronavírus da patroa no Leblon
A idade avançada e os problemas de saúde de uma empregada doméstica de 63 anos não a impediam de percorrer semanalmente 120 km de sua casa humilde em Miguel Pereira, no sul fluminense, até o apartamento onde trabalhava no Alto Leblon, bairro da zona sul do Rio que tem o metro quadrado mais valorizado do país.
Ali ela trabalhou como empregada doméstica por mais de dez anos até a última segunda-feira (16), quando apresentou os primeiros sintomas do coronavírus e morreu no dia seguinte. A patroa voltara de viagem recentemente da Itália, país que já registra o maior número de mortes pela doença, e aguardava o resultado do exame quando a empregada chegou ao trabalho no domingo (15).
A família da primeira vítima fatal do coronavírus no Rio pediu que seu nome não fosse divulgado para evitar retaliações contra parentes que moravam com ela e estão em quarentena. Ela ficaria até hoje no apartamento do Alto Leblon, como fazia toda semana. Em razão da distância entre sua casa e o trabalho, morava no emprego uma parte da semana. Mas, já na segunda, começou a passar mal.
A patroa telefonou para familiares pedindo que alguém fosse buscá-la. Um taxista a levou de volta a Miguel Pereira e ela foi internada no mesmo dia. A falta de ar evoluiu rapidamente, mas a entubação não foi suficiente e ela morreu na terça (17).
Pouco antes da morte, do outro lado do estado vinha a confirmação: o teste da patroa deu positivo para o coronavírus. A família crê que o isolamento da empregadora poderia ter evitado a morte. A reportagem do UOL não localizou a patroa da vítima e não obteve informações sobre seu estado de saúde.
"Estamos muito atordoados, mas precisamos conscientizar as pessoas da gravidade [da doença]. Quem voltou de viagem da Europa e apresentou os sintomas não deve ter contato com outras pessoas. O isolamento podia ter evitado essa morte", diz a cunhada da idosa.
"Foi muito rápido. Como ela passou em casa antes de dar entrada no hospital, todos que moravam na mesma casa que ela estão de quarentena. E hoje à tarde fizeram o teste para o coronavírus", acrescentou.
Na mesma casa onde a vítima morava, vivem outras sete pessoas. Todos estão isolados. E assustados.
"Ela era muito trabalhadora. Pegava três conduções para chegar ao trabalho. Para voltar, era a mesma coisa: dois ônibus e um trem. Ela saía de casa no domingo e só voltava na quinta", contou a cunhada.
Mais velha de nove irmãos, ela trabalhava como doméstica desde jovem, inicialmente com a missão de sustentar seu irmão mais novo após a morte dos pais. Depois, a responsabilidade aumentou com um filho e dois sobrinhos.
"Ela não era aposentada, porque ainda não tinha tempo de contribuição para isso. Então, mesmo com obesidade, diabetes, hipertensão e infecção urinária, ela continuou trabalhando. Ela precisava do dinheiro", destacou, emocionado, um dos irmãos da vítima.
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