Cidade do RJ tem prefeito com coronavírus e espera de 8 horas em UPA
Resumo da notícia
- Parte do comércio mantém portas abertas em Duque de Caxias (RJ), descumprindo decreto
- Atendimento em unidade de saúde demorava ontem até 8 horas
- Município da baixada confirmou 16 mortes e 83 pessoas infectadas com a covid-19
- Prefeito que defendeu abertura de igrejas também contraiu doença
Com foco de mortes por coronavírus, Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, enfrenta dificuldades para atender pessoas com sintomas da doença. Na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Beira Mar, nos fundos do Hospital Municipal Moacyr do Carmo, dedicada exclusivamente a esse tipo de atendimento, a fila de espera ontem era de até oito horas, segundo pacientes ouvidos pelo UOL.
Parte do comércio local também permanecia com as portas abertas, descumprindo os decretos da prefeitura, em vigor há duas semanas, e do governo estadual. No estado do Rio, foram registrados 182 óbitos e 3.221 casos de pessoas infectadas —16 das mortes ocorreram em Duque de Caxias, que confirmou 83 pessoas com a covid-19. A cidade da baixada está entre as três com maiores taxas de mortalidade para covid-19 no estado.
A taxa de mortalidade do coronavírus em Caxias (1,74 mortes por 100 mil habitantes) está um pouco maior do que a registrada na capital fluminense (1,71). No estado, fica atrás apenas de Volta Redonda (no interior do Rio), com seis mortes e índice de 2,19. O Ministério da Saúde confirmou ontem 1.328 óbitos e 23.430 casos no país.
O próprio prefeito de Caxias, Washington Reis (MDB), internado desde sábado (11) no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, zona sul do Rio, contraiu o novo coronavírus. Em um vídeo publicado na internet no fim de março, Reis defendeu que as igrejas seguissem abertas, mesmo em meio à pandemia.
Em frente à porta da UPA Beira Mar, que recebia exclusivamente pessoas com febre, gripe ou falta de ar —sintomas de coronavírus—, o ambiente era tenso, com pacientes reclamando da longa espera por atendimento e de aglomeração dentro da unidade de saúde.
A auxiliar de serviços gerais Deborah Santos, 37, saiu do local aos gritos após discutir com uma funcionária da UPA. "Você tem que entrar lá para ver como está! Minha mãe está lá, esperando, com febre e dor de cabeça."
Minha mãe de 84 anos também está lá, esperando há três horas para ser atendida. Tá cheio pra caramba [o local de espera da UPA]. Quem não tá com o coronavírus pode se infectar lá dentro
Márcia Campista, autônoma
A auxiliar de serviços gerais Cirlene da Silva dos Santos, 50, diz ter chegado ao local para acompanhar o marido, com febre e dor de garganta, por volta das 6h. No começo da tarde, ela ainda o aguardava, sentada em uma cadeira na parte externa da unidade. "Só tem dois médicos atendendo. É revoltante", desabafa.
Mas a preocupação dela não é só a doença. "Como vou fazer isolamento, se não tenho dinheiro para pagar as minhas contas?", questiona.
José Edson Correia de Araújo, 35, reclama de febre, dores no corpo e falta de paladar, sintomas compatíveis com a covid-19. O marceneiro, que acredita ter contraído a doença, diz trabalhar em casa, de onde só saiu para ir até a Ceasa (Central de Abastecimento) de Irajá, na zona norte do Rio, onde comprou frutas e legumes. "Lá, tinha muita gente. Devo ter sido contaminado lá."
Araújo diz só ter usado ontem a máscara de proteção, quando já estava com os sintomas da doença. "Comprei com uma vizinha", conta. Esse, aliás, é relato semelhante ao do metalúrgico Manoel dos Santos Filho, 50. "Minha esposa começou a tossir. Aí, paguei R$ 1 pela máscara. A minha vizinha que faz."
Mas nem todo mundo demonstrava preocupação com a proliferação da doença. Parte de grupo de risco, o barbeiro Alfredo Godoy Portela, 70, que aguardava enquanto a esposa era atendida, diz ainda duvidar da gravidade da pandemia.
"É mais terrorismo do que realidade. Os números estão sendo manipulados. Acompanho tudo pelas redes sociais. Eu continuo levando a minha vida normalmente", diz Alfredo, que mantém o seu salão aberto. "Tenho que pagar as minhas contas no fim do mês", justifica.
Carro de som pede que pessoas evitem aglomerações
Na central de Duque de Caxias, onde parte do comércio segue com as portas abertas, um carro de som da prefeitura circulava em baixa velocidade pelas ruas, pedindo que as pessoas ficassem em casa, longe de aglomerações.
Mas o apelo não parecia sensibilizar os moradores, que faziam até fila em frente a uma casa lotérica. Em uma loja de calçados reaberta desde a semana passada, três funcionários esperam por clientes sem usar máscaras de proteção. "O movimento tá pingado", diz um dos vendedores.
Na parte interna de um boteco, que fica aberto das 5h às 22h, um grupo de pessoas bebiam cerveja em frente ao balcão, sem demonstrar preocupação com a pandemia. Antônio Souza, 70, gerente do local há 18 anos, diz não ter recebido solicitações para fechar as portas.
Se o bar fechar, a gente vai morrer de fome
Antônio Souza, gerente de estabelecimento comercial
O que diz a prefeitura
Questionada sobre a movimentação do comércio, a Prefeitura de Duque de Caxias diz que equipes da administração pública estão fazendo a fiscalização dos comércios, em parceria com a Guarda Municipal e a PM-RJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro).
"Os agentes estão percorrendo os principais pontos comerciais diariamente alertando os comerciantes sobre as determinações das autoridades de saúde. A fiscalização será mantida, para que o comércio da cidade permaneça fechado até o término do decreto", diz um trecho da nota.
Sobre o atendimento nas unidades de saúde, a prefeitura afirmou que "para prestar um melhor serviço e evitar aglomeração, a UPA Beira Mar está realizando somente atendimento para suspeitos de covid-19".
Questionada sobre a demora no atendimento, reconhece que há um aumento na procura. "Em alguns casos, o paciente passa por exames de sangue, raio-X e tomografia, aguardando na unidade para a avaliação dos resultados pelo médico. Esses procedimentos fazem com que alguns atendimentos sejam mais demorados."
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