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Líder de sociedade médica sugere comprar EPIs a medicações 'sem eficácia'

O presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Clóvis Arns da Cunha - Reprodução
O presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Clóvis Arns da Cunha Imagem: Reprodução

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

18/05/2020 21h07

O presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Clóvis Arns da Cunha, sugeriu que a prefeitura de Teresina, no Piauí, deve deixar de gastar recursos em remédios sem eficácia comprovada e investir eles na compra de EPIs (equipamentos de proteção individual) no combate à covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

"Certamente eu recomendaria todo recurso financeiro não em medicações que não mostram eficácia, nem segurança; mas em EPIs, estes com evidência científica comprovada que vão prevenir os profissionais de saúde de serem infectados ao atenderem pacientes com covid-19", diz o e-mail encaminhado à prefeitura na última sexta-feira.

A resposta foi dada após um pedido de uma manifestação da SBI, entre outras entidades médicas, de protocolos para tratamento da covid-19 para o município, que responde ação civil pública sobre o tema.

Na mensagem, Arns diz que vai submeter o pedido da prefeitura à avaliação da diretoria, mas antecipou "considerações pessoais" sobre o tema por conta da urgência da demanda.

Para Arns, o uso de medicações por via oral e de baixo custo, "como cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida, prednisona (corticoide), para o tratamento da covid-19 são muito atraentes por permitirem seu uso em larga escala", mas "do ponto de vista científico, toda medicação, mesmo que já conhecida para outras indicações (...) precisa ser avaliada por estudos clínicos, isto é, avaliação em humanos (não basta provar sua eficácia in vitro no laboratório) quando se pretende usá-las para uma nova doença, como é o caso da covid-19."

"No momento existem, pelo menos, cerca de 1.500 estudos clínicos em andamento no mundo para avaliar potenciais fármacos para covid-19, nos mais diversos cenários: profilaxia (prevenção), tratamento das formas leves e moderadas da doença (que não necessitam internamento hospitalar), formas graves e críticas (que necessitam internamento hospitalar e em Unidade de Terapia Intensiva), respectivamente. Infelizmente, os melhores estudos publicados até o momento, que são aqueles que têm grupo de controle, isto é, um grupo de pacientes recebe o 'tratamento padrão' sem nenhum medicamento experimental e outro grupo de pacientes recebe o 'tratamento padrão + medicamento experimental ou em estudo', com cloroquina ou hidroxicloroquina associado ou não ao antibiótico azitromicina são decepcionantes", alega.

Sobre os estudos produzidos com uso de corticoide, ele diz que "não só não mostraram benefício, como mostraram malefício."
No último dia 13, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Piauí ajuizou ação civil pública, com pedido de liminar, para que a Justiça Federal obrigue a União, o estado do Piauí e o município de Teresina a "adotarem medidas para a disponibilização do tratamento definido no Protocolo Covid-19, que trata da utilização da hidroxicloroquina e outras medicações na fase inicial da doença, na rede pública de saúde do estado."

Por conta disso, amanhã a prefeitura deve apresentar essa manifestação em audiência amanhã sobre protocolo médico que será conduzido pela Justiça Federal.

No município, o protocolo usado lembra que não há evidências embasem uso de hidroxicloroquina, e que a utilização é facultada ao médico "em determinados cenários clínicos."