Com explosão de casos, MT e MG são estados que menos testaram covid-19
Enfrentando uma disparada de casos e óbitos pelo covid-19 no último mês, Mato Grosso e Minas Gerais são os estados que, proporcionalmente, menos testaram a presença de coronavírus em sua população até a metade de junho. Os dois têm a pior taxa de exames por mil habitantes do país, segundo dados do Ministério da Saúde informados ao UOL.
A cada mil mato-grossenses, 3,15 foram testados para o vírus até 19 de junho. Entre os mineiros, a taxa é de 5,54. Esse índice contabiliza tanto os exames do tipo RT-PCR, que identificam a presença do vírus no organismo e são os ideias para o controle da epidemia, quanto os testes rápidos, considerados ineficazes por médicos e cientistas. Considerando apenas números de RT-PCR, Mato Grosso não chegava a um teste por mil habitantes (0,8), e em Minas Gerais a taxa é de 1,3 teste por mil.
Em comparação, a maior taxa por mil habitantes foi em Rondônia, onde 26,97 em cada mil pessoas foram examinadas. Em números absolutos, São Paulo realizou mais testes: 495.840 até 19 de junho.
Na última sexta-feira (3), a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) classificou Mato Grosso como epicentro da epidemia no país. Ao longo do mês de junho, as mortes provocadas pela covid-19 aumentaram 454,55% e os casos, 341,18%. Já há filas por vagas de UTI e, segundo projeções de pesquisadores da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), se a taxa de contágio seguir nesse patamar, será necessário o dobro de leitos do que a capacidade atual.
"Para achatar a curva e diminuir o número de casos, ou é isolamento ou é testagem em massa. Mato Grosso não fez nenhum dos dois. Não há política nos municípios de isolamento, de fechamento de comércio. Os testes são somente para casos que estão indo para a internação", diz Emerson Soares dos Santos, um dos autores do estudo da UFMT e membro do Instituto de Saúde Coletiva da instituição.
Santos relata que a epidemia tem afetado mais os municípios do interior onde, por vezes, um paciente está a 12 horas de viagem de estrada de um leito de UTI. Ele conta que, nos últimos dias, o governo estadual tem feito propaganda de um programa de distribuição do "kit covid" como forma de combater o vírus. O pacote, segundo reportagem do site local Gazeta Digital, inclui comprimidos de ivermectina (medicamento para combater parasitas, como ácaros e piolhos) e o antibiótico azitrominicina.
Em junho, as mortes em Minas Gerais aumentaram 223,68% e os casos confirmados, 275,41%. Os números colocam o estado em quinto lugar entre os estados em que a epidemia mais se agravou nesse período, atrás de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná. As estatísticas mineiras, porém, são maiores: até terça-feira (7), eram 60.897 casos, mais que o dobro do Mato Grosso.
O infectologista Estevão Urbano, membro do comitê de enfrentamento ao covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, diz que é difícil enxergar uma relação entre o baixo número de testes e o crescimento dos casos no estado. "A falta de testes em Minas é realmente preocupante, mas segue o padrão do Brasil inteiro, em que o número de testes é sempre bem inferior ao ideal", diz.
Para Urbano, não adianta realizar testagem em massa sem foco. "A condução nacional da pandemia não tem sido boa, isso respinga nas testagens. Elas têm que ser feitas com foco, sabendo o que fazer com o resultado. Por exemplo: examinar todos os motoristas de ônibus de uma cidade ou, quando identificado um surto local, mapear todas as pessoas, coletar exames de todos os familiares. Tem que ter objetivo", argumenta.
Rodrigo Molina, infectologista e professor da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), vê uma trajetória de "mudança drástica" da epidemia em Minas Gerais. "Como antes estava calmo, não foi feito um distanciamento social adequado, enquanto todos [os outros estados] estavam fazendo. Uberlândia não fechou seu comércio enquanto em Uberaba, a 100 km de distância, estava fechado."
O médico diz que a testagem também não foi eficaz: sem diagnósticos suficientes, argumenta, não foi possível conhecer o perfil do número de casos e traçar políticas adequadas diante do aumento do contágio.
MT questiona dados do Ministério
A Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais afirmou ao UOL que "tem trabalhado sobre dois pilares principais para a garantia do diagnóstico oportuno: ampliação da realização de testes moleculares e elaboração da estratégia de uso dos testes sorológicos". A pasta diz que, até segunda-feira (6), 337,8 mil testes tinham sido realizados —uma taxa de 15,96 a cada mil habitantes.
"A Secretaria está centrando todos seus esforços no aumento da capacidade de testagem, com compra de insumos e testes sorológicos, além da ampliação da Rede de Laboratórios Parceiros Covid-19, em conjunto com a Funed/MG", afirmou o órgão.
Já a Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso questionou os números do Ministério da Saúde, que informou ao UOL um total de 10.979 testes no estado até 19 de junho (2.838 RT-PCR e 8.141 testes rápidos).
"O Laboratório Central do Estado (Lacen-MT) realizou 487% a mais de exames do que o apontado. Foram 13.847 análises de amostra do PCR em Mato Grosso, até a data em questão, conforme pode ser conferido no Boletim do Coronavírus nº 103, do dia 19 de junho. É importante frisar que esse quantitativo não engloba os testes rápidos e as testagens realizadas em âmbito privado", afirmou.
Segundo a pasta, o governo mato-grossense adquiriu 520 mil testes rápidos e 20 mil testes RT-PCR e "trabalha na aquisição de outros 150 mil testes PCR. Nos próximos dias irá instalar centros de triagem para testar as pessoas com suspeita de coronavírus."
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