Topo

Esse conteúdo é antigo

Ex-ministro da Saúde: governo tem lidado com vacinação de maneira 'trágica'

Ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão - Divulgação / STF
Ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão Imagem: Divulgação / STF

Do UOL, em São Paulo

08/01/2021 11h39

O ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão avaliou que o SUS (Sistema Único de Saúde) mostrou "muita resiliência" e que, sem ele durante a pandemia do novo coronavírus, o país teria "uma situação de barbárie social, o caos total".

Em entrevista ao jornal O Globo, Temporão, que chefiou a pasta durante parte do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e em meio à pandemia de H1N1, em 2009, criticou o atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pela falta de conhecimento da área e disse que desde o início da crise o país não teve liderança.

"É a situação mais grave por que passa o Brasil em toda a sua História e não se pode enfrentá-la sem coordenação do governo federal e sem contar com a ciência e a saúde pública. O presidente rejeitou a ciência, ridicularizou as medidas de prevenção, criou uma falsa dicotomia entre saúde e economia. Não houve plano de comunicação para a sociedade. A crise foi enfrentada apesar do governo", afirmou.

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) lamentou os 200 mil brasileiros mortos pela covid-19 desde o início da pandemia no Brasil, mas sugeriu que nem todas realmente foram causadas pela doença e voltou a criticar as políticas de isolamento.

Diante do cenário de adversidade, criou-se, na avaliação de Temporão, uma "autoridade sanitária informal", constituída por especialistas, governadores e prefeitos para enfrentar a pandemia.

O ex-ministro classificou como "trágica" a forma como o governo tem lidado com a vacinação.

"E o epílogo patético e constrangedor é a maneira trágica como o governo vem lidando com a vacinação. É nossa última oportunidade de tentar consertar todos os equívocos cometidos anteriormente, organizar uma campanha de vacinação nacional, liderada pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações), visando atingir no prazo mais curto possível uma alta cobertura vacinal. E não temos plano, projeto, liderança, vacinas, seringas, nada", criticou.

Questionado se é possível confiar na experiência do PNI para inocular os brasileiros contra a covid-19, ele disse acreditar que "se o governo deixar de atrapalhar" e entregar aos especialistas a condução e a coordenação do tema, "nós teremos um sucesso".

"É um momento crítico, porque temos até agora praticamente 20 milhões de pessoas vacinadas no mundo e, no Brasil, nenhuma", afirmou.

A omissão do governo federal pode levar estados a organizar suas campanhas de vacinação. Isso quebra uma das pernas do PNI, que é a centralidade. É preciso uma estratégia para vacinar toda a população brasileira ao mesmo tempo, é isso que reduzirá drasticamente a circulação do vírus. Em 2010 vacinamos 80 milhões de pessoas contra a H1N1 em três meses; em 2009, 40 milhões de adultos jovens contra rubéola e a síndrome da rubéola congênita. O Brasil é um dos únicos países do mundo que consegue, em um único dia, vacinar 10 milhões de crianças contra a poliomelite

Ele exaltou o papel das instituições de ciência e tecnologia que, segundo ele, mesmo com expectativa de redução de orçamento, "fazem com que o país lidere estudos clínicos de duas das mais importantes vacinas em termos globais", citando a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e o Instituto Butantan.

"São instituições centenárias, que conseguiram fazer isso porque têm autonomia. Só poderemos ter campanha de vacinação nos próximos meses por causa delas", acrescentou.