Sem Pazuello, Fiocruz vacina médicos e estima insumos para fevereiro
A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) realizou na tarde de hoje (23) a imunização dos primeiros dez profissionais de saúde com a vacina de Oxford/AstraZeneca. O evento, que marcou a liberação pela Fiocruz de 2 milhões de doses importadas da Índia, não contou com a presença do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na mesma tarde em que a PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu investigação do general por suspeita de responsabilidade sobre a crise de saúde pública em Manaus.
Após impasse diplomático, os imunizantes chegaram na noite de ontem à Fiocruz, na zona norte do Rio de Janeiro, onde foram inspecionados e rotulados com informações em português. Para a produção nacional, a Fiocruz estimou que o insumo chegue em fevereiro. Em caso de atraso, também negocia a compra de novas doses prontas.
"Temos a perspectiva de recebê-lo no início de fevereiro, lá pelo dia 8, mas não temos uma data definida ainda", afirmou hoje a presidente da fundação, Nísia Trindade Lima.
Para a produção da vacina na Fiocruz, é necessário o insumo farmacêutico ativo (IFA), produzido apenas pela China. Sem citar impasses diplomáticos que afetaram a chegada do insumo, Nísia informou que a entrega do IFA —que deveria ser antecipada para janeiro— teve de ser adiada devido a um parecer do laboratório chinês que indicou risco biológico elevado na produção do insumo.
Segundo ela, "o problema já foi superado". "A chegada do IFA está nos consumindo", afirmou.
Ela assegurou que não há atraso no contrato firmado com a AstraZeneca e negou que a atuação da equipe diplomática do governo federal tenha prejudicado a entrega do insumo.
Em caso de atraso, Fiocruz quer comprar doses prontas
Caso haja um atraso na chegada do insumo, a Fiocruz já planeja a compra de um novo lote de doses já prontas da AstraZeneca. A compra, no entanto, ainda está em negociação e não há data e quantidade definidas para o novo lote.
Está prevista a compra de 15 milhões de doses de insumo por mês em dois lotes, com intervalo de duas semanas entre eles. Mas, esse processo pode ser acelerado, já que a Fiocruz terá capacidade de produção maior que essa.
A expectativa é fabricar o primeiro insumo em abril e 100,4 milhões de doses até julho. No fim do ano, devem ser disponibilizadas mais 110 milhões de doses.
Os 2 milhões de doses começaram a ser distribuídas hoje para os estados e a previsão do Ministério da Saúde é de que a distribuição seja concluída amanhã. O Rio foi o primeiro estado a recebê-las. Ceará, Amazonas e Paraná também devem receber os imunizantes ainda hoje. (Veja aqui a distribuição das doses nos estados)
No evento da Fiocruz, os três primeiros vacinados com os imunizantes de Oxford foram o infectologista Estevão Portela, a pneumologista Margareth Dalcomo e a médica Sarah Ananda Gomes, que atua no Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte.
Pazuello em Manaus
O ministro da Saúde não esteve presente no evento de recepção das doses na Fiocruz. Segundo Nísia Trindade Lima, Pazuello viajou para o Amazonas e, por isso, não compareceu ao evento.
Manaus enfrenta um novo colapso do sistema de saúde por causa do aumento das contaminações por covid-19. A superlotação dos hospitais levou à falta de oxigênio em boa parte deles.
Em razão de suspeita de que o Ministério da Saúde soubesse da possibilidade do colapso, o procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou hoje ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de inquérito para apurar a conduta de Pazuello.
A solicitação ao STF cita o documento "Relatório parcial de ações - 6 a 16 de janeiro de 2021", no qual o ministro informa que sua pasta teve conhecimento da falta de oxigênio no dia 8, por meio da empresa White Martins, fornecedora do produto. O Ministério da Saúde iniciou a entrega de oxigênio apenas em 12 de janeiro, segundo as informações prestadas.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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