Topo

Esse conteúdo é antigo

Não vi grandes líderes aparecerem sem máscara, diz presidente do Einstein

Claudio Lottenberg, presidente do Conselho do Hospital Albert Einstein: "Se houve um ente que não criou um clima inspiracional, foi o governo federal" - Karime Xavier/Folhapress
Claudio Lottenberg, presidente do Conselho do Hospital Albert Einstein: 'Se houve um ente que não criou um clima inspiracional, foi o governo federal' Imagem: Karime Xavier/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

09/03/2021 08h15

O médico Claudio Lottenberg, presidente do Conselho do Hospital Albert Einstein e do Icos (Instituto Coalizão Saúde), defendeu ações coordenadas no combate ao novo coronavírus e criticou a ausência de um discurso único nacional a favor de medidas de distanciamento para frear o contágio. Em média 1.540 pessoas morreram de covid-19 no Brasil por dia nesta semana, o maior número de toda a pandemia.

Em entrevista ao jornal O Globo, o médico criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sem citá-lo, dizendo que não viu "grandes líderes aparecerem publicamente sem máscara".

Questionado sobre de quem é a culpa da atual situação — se da população ou dos governos —, Lottenberg avaliou que há "uma falta de engajamento por parte do paciente em relação ao seu próprio cuidado". No entanto, acrescentou que também eram necessários modelos e orientação.

"E não vimos uma linguagem única, em caráter nacional. Quer dizer, a utilização de máscara e do álcool gel, que deveria ser um mantra, não aconteceu. É culpa de uma ordem de governança que não soube construir, em um ano, um mínimo de entendimento. Acho que essa pergunta tem que ser feita pelo governo federal", disse.

Se houve um ente que não criou um clima inspiracional, foi o governo federal. Não vamos olhar o modelo americano, mas o israelense — o primeiro ministro de Israel foi o primeiro a ser vacinado. Não vi grandes líderes de diferentes países aparecerem publicamente sem máscara Claudio Lottenberg

Em sua avaliação, a partir do Natal "as pessoas praticamente passaram a conviver como se a covid-19 não estivesse ocorrendo", o que acentuou a transmissão. Ele também cita o papel das variantes do coronavírus, ainda mais transmissíveis.

Lottenberg diz que o cenário é reversível porque o PNI (Programa Nacional de Imunizações) brasileiro é um dos mais respeitados do mundo. "Somos capazes de vacinar 1 milhão de pessoas por dia, talvez até mais. Então, é possível mudar o atual cenário em três a quatro meses. Mas é necessário que as pessoas entendam que o distanciamento social é fundamental. E que a articulação deve ser focada no cidadão, e não em interesses de governos."

Vemos gente que nega a vacina, gente que nega a Covid, gente que acha que a vacina vai salvar tudo e não precisa se distanciar. Quer dizer, precisa alguém bater na mesa e dizer: 'olha, vamos seguir um protocolo comportamental por 90 dias e nos comprometermos a ter um calendário de paz, vamos parar de brigar, de guerrear e fazer o que a gente precisa'

Em sua opinião, duas medidas são necessárias: distanciamento, com uso de máscara e álcool gel, e a produção de vacinas. "E parece que o governo federal entrou em campo essa semana — fechou iniciativa para participação do setor privado; se mexeu internacionalmente para que a produção de vacinas com a vinda dos IFAs (ingredientes farmacêuticos ativos, matéria prima das vacinas); fechou acordo para importação de vacinas", diz.

Ele diz acreditar numa melhora do panorama no país entre setembro e outubro, com o aumento do número de vacinados.