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Perfil de Bolsonaro faz centrão temer troca de 6 por meia dúzia na Saúde

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com a máscara cobrindo os olhos - Adriano Machado/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com a máscara cobrindo os olhos Imagem: Adriano Machado/Reuters

Luciana Amaral e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

15/03/2021 17h41Atualizada em 15/03/2021 18h01

O centrão teme que o perfil do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seja um empecilho a uma gestão mais técnica no Ministério da Saúde, especialmente após a cardiologista Ludhmila Hajjar recusar o comando a pasta por divergências com o governo sobre o enfrentamento da covid-19. O bloco no Congresso receia ainda que uma eventual troca na chefia do ministério não surta efeito na prática.

Bolsonaro já minimizou a pandemia, criticou a imunização e pedidos de compra de vacinas contra a covid-19 e promoveu medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus, como a cloroquina. Ele resiste ainda a usar máscara e promove aglomerações.

O centrão —grupo informal alinhado ao governo Jair Bolsonaro em troca de espaço na administração pública— passou a aumentar a pressão pela saída do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, após a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao tabuleiro eleitoral em meio ao pior momento da pandemia do coronavírus no país. Os motivos são tanto políticos, visando as eleições de 2022, quanto relativos ao agravamento da crise sanitária.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por exemplo, cobrou alguém com capacidade técnica e política, chegando a citar o nome de Hajjar nas redes sociais como um bom nome para substituir o general. Agora, nomes cotados por integrantes do centrão são os dos deputados Luiz Antônio Teixeira Jr. (PP-RJ), conhecido como Dr. Luizinho, Hiran Gonçalves (PP-RR) e Ricardo Barros (PP-PR).

Os dois primeiros são médicos. Barros foi ministro da Saúde no governo de Michel Temer (MDB) e hoje é líder do governo na Câmara. Portanto, teriam capacidade técnica e diálogo com o Congresso Nacional, avaliam parlamentares ouvidos pela reportagem.

No entanto, o Palácio do Planalto resiste em entregar o Ministério da Saúde ao centrão, mesmo que a indicação do grupo seja de um nome mais técnico, em tese. Um ministro próximo ao presidente afirmou à reportagem para "esquecer" um nome do centrão e já descartou o Dr. Luizinho.

Atualmente, o cardiologista Marcelo Queiroga é bem cotado para substituir Pazuello, informou um líder do governo no Congresso. Queiroga é presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia e tido como menos afrontoso às crenças de Bolsonaro.

Parlamentares falam até aceitar que um congressista não seja alçado a ministro, desde que o escolhido imponha uma preocupação e um tom mais técnico à gestão da Saúde. Ainda assim, há o temor de que o indicado à chefia do ministério não tenha uma autonomia verdadeira devido aos posicionamentos de Bolsonaro.

Um integrante do centrão na Câmara ouvido pela reportagem afirmou que não adianta mudar o ministro se não mudar a governança e lembrou que Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, ambos médicos, já não deram certo à frente da pasta por divergências com Bolsonaro.

Pazuello é visto no Congresso como um subordinado que diz "amém" a todos os pedidos de Bolsonaro, mesmo que não cientificamente embasados. Agora, com o Brasil contabilizando mais de 278 mil vítimas da covid-19, a situação de Pazuello é tida como insustentável pelos congressistas.

Um líder de centro no Senado disse que a situação deixa "todo mundo perplexo" pela falta de transparência. Para ele, é preciso entrar alguém que tenha diálogo e conduza a questão tecnicamente, não ideologicamente. "Tem muito problema, gente morrendo toda hora. Não dá mais para brincar com isso. Faltando insumo, oxigênio", afirmou.