'Nem atenderia telefone', diz Nicolelis, se fosse convidado a ser ministro
A crise na saúde brasileira afeta até mesmo quem poderia, de alguma forma, contribuir para solucionar o drama vivido atualmente. Por causa da condução do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na pandemia de covid-19, especialistas se negam a vincular o nome ao que está acontecendo no país.
Questionado pela apresentadora do Baixo Clero, Carla Bigatto, se aceitaria assumir o Ministério da Saúde, o médico e neurocientista Miguel Nicolelis foi claro durante o episódio #78 do podcast de política do UOL.
"Com este governo? Eu nem atendia o telefone", responde (veja a partir de 48:50 no vídeo acima). "Eu não sou criança, sou um cientista profissional, tenho 40 anos de carreira e já servi comissões internacionais. Não atenderia o telefone por saber que não seria verdade e que jogaria minha reputação no lixo", acrescenta.
O questionamento ocorre na semana em que Bolsonaro decidiu trocar o chefe da pasta. Saiu o militar Eduardo Pazuello e assumiu o médico Marcelo Queiroga, indicado pelo filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Antes de Queiroga, o presidente se reuniu com a médica Ludhmila Hajjar, especialista que atua no combate à pandemia, tendo políticos de Brasília como pacientes. Após duas conversas com Bolsonaro, ela recusou o convite e acabou sendo alvo de ameaças de bolsonaristas - com tentativa de invadirem o quarto de hotel em que estava hospedada.
"A situação brasileira é dramática porque será muito difícil alguém sério, um profissional real, aceitar a conversa. Lamento profundamente o que aconteceu com a doutora Ludhmila", diz (veja a partir de 49:25 no vídeo acima).
Nicolelis vê pouca mudança com a entrada de Queiroga no Ministério da Saúde, já que o novo ministro declarou anteriormente que a política de combate à pandemia não é do chefe da pasta, mas "do governo Bolsonaro".
"Eu lido com coisas concretas. Não vejo nenhuma chance de termos uma mudança significativa com o ministro. Mudou o titular, mas não mudou a filosofia, a estratégia. Por todas as declarações que ouvimos, ele disse que vai obedecer ordens", justifica (ver a partir de 24:10 no vídeo acima).
A responsabilidade para o momento atual, segundo Nicolelis, só pode ser de Jair Bolsonaro por desdenhar da crise, fazer propaganda de remédios que não funcionam, aglomerar-se e declarar-se contra o uso de máscaras.
"Basicamente, levou uma confusão enorme, estuporante, gerada pela falta de qualquer mensagem coerente [para combater a pandemia]", diz (ver a partir de 24:50 no vídeo acima).
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