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Pacientes precisam transplantar fígado após uso do kit covid, diz jornal

Mesmo sem eficácia comprovada, "kit covid" tem sido recomendado e utilizado para pacientes diagnosticados com o vírus - Karen Fontes/Código19/Estadão Conteúdo
Mesmo sem eficácia comprovada, 'kit covid' tem sido recomendado e utilizado para pacientes diagnosticados com o vírus Imagem: Karen Fontes/Código19/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

23/03/2021 15h52Atualizada em 23/03/2021 19h29

Cinco pacientes que utilizaram o 'kit covid' — combo que reúne medicamentos sem eficácia comprovada para combater o coronavírus —, precisaram entrar na fila do transplante de fígado em São Paulo. O uso das medicações está sendo apontado como a causa de três mortes geradas por hepatite, de acordo com médicos que foram ouvidos pelo jornal Estado de São Paulo.

Foram observadas hemorragias, insuficiência renal e arritmias nos pacientes que tiveram doses do 'kit covid' administradas para o tratamento do vírus com remédios como hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e anticoagulantes. Os médicos ouvidos pelo Estadão apontaram que o aumento de casos dentro desses perfis coincide com o agravamento da pandemia no país.

Apesar de não haver indícios de que os remédios funcionem contra a covid-19, médicos continuam prescrevendo receitas com as medicações. As indicações seguem o aconselhamento do Ministério da Saúde e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que durante conversas com apoiadores e pronunciamentos públicos compartilhou que os remédios devem ser usados.

Um dos indicadores dos efeitos gerados pelo incentivo presidencial e do Ministério da Saúde para o uso de medicamentos sem eficácia é observado nos números de vendas desses remédios. Dados do Conselho Federal de Farmácia (CFF) apontam que as vendas de ivermectina subiram 557% em 2020, em comparação com o ano de 2019, quando ainda não havia a pandemia.

'Kit covid' destrói dutos biliares

Os cinco pacientes que entraram na fila de transplante de fígado fizeram uso do 'tratamento precoce' com os medicamentos não recomendados cientificamente para combater a covid-19. Quatro deles foram atendidos no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e o outro foi atendido no Hospital das Clínicas da Unicamp.

O chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP, Luiz Carneiro D'Albuquerque, disse ao Estadão que nos exames de fígado há compatibilidade com os remédios do 'kit covid'. "Vemos que esses remédios destruíram os dutos biliares, que é por onde a bile passa para ser eliminada no intestino", alegou o médico em entrevista ao Estadão.

Entidades médicas pedem suspensão do uso da cloroquina

O uso de cloroquina, ivermectina e de outros fármacos recomendados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para tratamento ou prevenção da covid-19 deve ser banido, de acordo com o Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covi-19, organizado pela Associação Médica Brasileira (AMB).

O grupo que reúne mais de 80 sociedades médicas emitiu uma nota hoje, afirmando para superar a pandemia, o Brasil deve 'vacinar com celeridade todos os cidadãos'.

"Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida", diz a nota da AMB.

Para a associação de médicos, são 'urgentes' os esforços políticos e diplomáticos para que seja solucionada a falta de medicamentos para atender os pacientes da covid-19.

A entidade também fez um alerta sobre a falta de recursos humanos, de insumos farmacológicos e de material de apoio, alegando que a transformação de salas de cirurgias em UTIs deve ser pontual.