Dengue e gripe lotam hospitais privados em SP, e tempo de espera chega a 6h

Hospitais particulares de São Paulo têm filas de até 6 horas nos pronto-socorros. Instituições alegam aumento de casos de dengue e de doenças sazonais e respiratórias.

O que aconteceu

Na tarde desta quarta (17), o pronto atendimento do Hospital Alvorada estava cheio. Um aviso na entrada apontava espera de 4 horas para atendimento. Questionada, uma funcionária informou que poderia levar 6 horas. Ela disse que a demora tinha relação com a dengue.

A fisioterapeuta Debora Gomes Feldman olhou para a sala de espera e desistiu. Estava com a filha de 8 anos para uma emergência ortopédica, mas decidiu procurar outro hospital. "Acabei de chegar e não tem como entrar", disse. "Não tem lugar para sentar, está lotado".

O engenheiro Haziel Chaves e sua mulher foram à emergência após ela sentir dor estomacal. Chegaram às 12h30 e, 3 horas depois, ela ainda não tinha previsão para ser atendida.

Nos últimos meses, o hospital vem registrando alta demanda de atendimento no pronto socorro. Informou, em nota, que as causas estão relacionadas a quadros respiratórios e diagnósticos de dengue.

Todos os pacientes passam inicialmente por triagem com enfermeiros para avaliação do risco e prioridade de atendimento, sendo que, os que apresentam menor gravidade estão sujeitos a maior tempo de espera
Hospital Alvorada Moema, em nota

Hospital Alvorada Moema: espera de 4 horas
Hospital Alvorada Moema: espera de 4 horas Imagem: Ana Luiza Cardoso - 17.abr.2024/UOL

Não foi só o Alvorada que sentiu o impacto da dengue. No Estado de SP, 60% de hospitais privados tiveram aumento de fila em seus prontos atendimentos e serviços de urgência para casos suspeitos de dengue. O Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Sindhosp) avaliou 95 deles, entre 1º e 10 de abril. Em levantamento anterior, feito entre 29 fevereiro e 10 de março, apenas 14% haviam confirmado o aumento.

O aumento de internações foi constatado em 61% dos hospitais avaliados. Também foi verificado crescimento de internações em UTI, com tempo médio de internação de até 4 dias para 77% deles.

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Ao todo, em 2024, o Estado teve 651.320 casos confirmados de dengue e 342 óbitos. Na capital, são 189.840 casos e 49 óbitos até sexta (19).

Em todo o país, casos de dengue na rede privada tiveram alta de 11%, entre o final de março e o início de abril. O número de exames realizados passou de 72.507 para 80.554 em uma semana. Casos positivos saltaram de 24.053 para 26.730 no mesmo período. Os números foram os maiores registrados nas últimas seis semanas, de 3 de março a 13 de abril, segundo a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

Internações por gripe e síndrome respiratória aguda grave (Srag), devido ao vírus sincicial respiratório (VSR), também aumentaram. Boletim da Fiocruz, divulgado na quinta (18), diz que vinte estados apresentam sinal de crescimento de Srag na tendência de longo prazo (últimas seis semanas). Entre eles, São Paulo. O Estado teve, até o dia 10 de abril, 652 casos e 41 óbitos de Srag por influenza — o vírus da gripe —, segundo o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). O pior mês, até o momento, foi março, com 346 casos e 23 óbitos.

"O tempo de espera além do habitual, para casos não emergenciais, está ocorrendo devido à alta demanda de casos de dengue e outras patologias sazonais". Esse foi o posicionamento da Prevent Senior sobre a situação do hospital Sancta Maggiore Butantã, situado na zona oeste da capital.

Na tarde de terça (16), uma funcionária avisava sobre espera de 1 hora apenas para a triagem. No local, pacientes se distribuíam pelas cadeiras, escadas e no chão, como relataram os entrevistados pela reportagem.

Uma delas, que não quis se identificar, chegou às 13h e deixou a unidade por volta das 16h. Sentia dores na coluna. "Duas horas em pé e com problema na lombar", disse. Com a demora em ser medicada, optou por pedir a receita e tomar remédio numa farmácia.

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Adail Gonçalves da Costa, de 54 anos, levou a mãe, de 93 anos. Ela fraturou o pulso no último dia 20, e os dedos estavam inchados. Tentou atendimento na segunda (15), mas encontrou o hospital com pacientes na porta e sem cadeiras de rodas. Desistiu. Voltou na terça (16) e o atendimento demorou 2h30. "Deveria ser mais ágil. Ela tem plano particular", disse.

A jornalista Fernanda Nobre levou a mãe, de 77 anos, ao pronto atendimento na sexta (12). A idosa passava mal com suspeita de dengue. Chegaram às 20h20 e às 21h15 passaram pela triagem. Aguardaram até 0h30 para fazer exames. Os resultados saíram uma hora depois. Foram atendidas novamente por volta das 4h da manhã.

"Tem pessoas esperando por horas", desabafou Fernanda, enquanto aguardava novamente por atendimento na terça (16). A mãe da jornalista precisava refazer exames para medir as plaquetas. Chegaram às 11h20 e fizeram os exames às 14h.

Sentada na escada, a vendedora Sonia de Sá Silva, de 59 anos, aguardava as 3 horas de espera para ser chamada. Foi ao Sancta Maggiore após sofrer uma queda. "Estou com muita dor, mas tem tanta gente pior que eu".

Hospital Santa Paula: espera de 3 horas
Hospital Santa Paula: espera de 3 horas Imagem: Ana Luiza Cardoso - 17.abr.2024/ UOL

No Hospital Santa Paula, na zona sul, avisos indicavam espera de 3 horas. "Vai para 4 horas, já", disse um segurança do local, nesta quarta (17). Lá, havia também um alerta sobre a demanda muito acima do habitual e "sem previsibilidade de tempo de atendimento para os casos não extremamente emergenciais". Procurado, o hospital atribuiu a situação ao aumento do número de casos de dengue e síndromes gripais, que ocorrem desde fevereiro.

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Beneficência Portuguesa: 3 a 4 horas de espera
Beneficência Portuguesa: 3 a 4 horas de espera Imagem: Ana Luiza Cardoso - 17.abr.2024

No hospital da Beneficência Portuguesa, quem chegava ao pronto socorro também encontrava o aviso de alta demanda. A justificativa era a dengue e doenças respiratórias. "O tempo de espera para atendimento está maior que o habitual, podendo variar de 3h a 4h para casos não emergenciais". No interior da unidade, uma outra placa indicava que espera para clínico geral estava "acima de 5 horas".

Em 2023, o tempo médio de permanência de pacientes adultos em prontos atendimentos de hospitais particulares foi de 1h e 26 minutos. Os dados são da Associação Nacional de Hospitais Privados, que reúne 123 associados. Para pacientes infantis, o tempo médio é de 1h e 38 minutos. Já em casos emergenciais e urgentes, é de 18 minutos para adultos e 20 minutos para crianças.

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