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Pacientes denunciam a TV distribuição de 'kit covid' pela Prevent Senior

Kit cloroquina, que contém, além da droga, comprimidos de azitromicina, além de vitaminas e zinco; Prevent Senior envia o kit aos pacientes para tratamento em casa, mesmo que o caso seja suspeito - Arquivo pessoal
Kit cloroquina, que contém, além da droga, comprimidos de azitromicina, além de vitaminas e zinco; Prevent Senior envia o kit aos pacientes para tratamento em casa, mesmo que o caso seja suspeito Imagem: Arquivo pessoal

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

24/03/2021 18h12Atualizada em 24/03/2021 19h41

Clientes da operadora de saúde Prevent Senior denunciam que a empresa está distribuindo kits de medicamentos contra covid-19 sem ao menos realizar uma consulta. A informação foi divulgada pela Globonews, e a empresa confirmou ao UOL a distribuição de medicamentos, mas sem especificar quais.

Entre os fármacos, estão hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e predinisona, segundo a GloboNews. A receita também prevê uso de vitaminas e suplementos alimentares, como whey protein.

Organizações como a OMS e o FDA, agência reguladora para alimentos e medicamentos norte-americana, desestimulam o uso da cloroquina contra covid, mesmo na forma de "tratamento precoce".

A Prevent Senior afirmou que deixou de fazer a recomendação na semana passada e que os médicos têm sólidas evidências clínicas dos medicamentos que receitam, sempre com consentimento formal dos pacientes.

Hoje (24), o Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo, confirmou que identificou um caso de hepatite medicamentosa relacionada ao uso do chamado "kit covid".

Padronização na prescrição

À Globonews, 12 pacientes ou familiares disseram receber os medicamentos mesmo estando assintomáticos e, em alguns casos, com teste negativado para doença. A postura contraria uma determinação do Conselho Federal de Medicina.

O que também chama atenção é a padronização na prescrição da receita. Segundo os relatos, pelo menos cinco receituários idênticos foram assinados pelo cardiologista Rafael Souza da Silva, diretor-executivo da Prevent Senior. Além de nenhum dos pacientes se conhecerem, todos foram atendidos em dias diferentes, em lugares distintos e possuem perfis clínicos diversificados. Nenhum deles alega ter sido atendido por Silva, seja presencialmente ou por teleatendimento.

Ontem (23), a Associação Médica Brasileira (AMB) e outras 80 entidades médicas e científicas já haviam solicitado o banimento da prescrição dos medicamentos usados no kit.

"Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da Covid-19 quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida", afirma o documento.

Confira a nota completa da Prevent Senior:

"A linha de atendimento adotada pelos médicos que atuam na Prevent Senior resultou em 35 mil altas de pacientes neste um ano de pandemia. Foram, portanto, vidas salvas. Estes médicos têm sólidas evidências clínicas dos medicamentos que receitam, sempre com consentimento formal dos pacientes. Os dados demonstram que a taxa de mortalidade entre os pacientes atendidos acima de 60 anos é 50% menor do que a observada no Estado de São Paulo. Enquanto no Estado, é de 14%, ante 7% dentre os beneficiários da Prevent Senior nesta faixa etária".

Apesar do posicionamento da operadora de saúde, qualquer apoio à droga carece de um elemento fundamental quando se trata de medicina: a ciência. Não há nenhum estudo de órgão reconhecido que tenha comprovado a eficácia do tratamento em qualquer estágio da doença.

Em novembro, um estudo britânico atestou que o uso de hidroxicloroquina e azitromicina não teve benefício em nenhum dos 4.500 pacientes internados. O mesmo foi relatado em outro estudo com 500 pacientes brasileiros internados em estágio moderado da doença. As duas pesquisas foram publicadas na "New England Journal of Medicine", principal revista médica do mundo.