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Reações adversas à cloroquina sobem mais de 6 vezes em 2020, aponta Anvisa

Bolsonaro exibe caixa de cloroquina. Presidente pregou tratamento da covid-19 com remédio sem eficácia comprovada - ADRIANO MACHADO
Bolsonaro exibe caixa de cloroquina. Presidente pregou tratamento da covid-19 com remédio sem eficácia comprovada Imagem: ADRIANO MACHADO

Rafael Bragança

Do UOL, em São Paulo

05/04/2021 19h07

Apontada como principal aposta de tratamento para a covid-19 pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) até o ano passado, a cloroquina teve um aumento significativo nas notificações de reações adversas reunidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em 2020, foram 916 relatos, contra 139 reportados em 2019, o que representa um aumento de mais de seis vezes.

Apesar de a Anvisa afirmar que as notificações são de "suspeitas" de reações, já que não fornece o resultado de análises técnicas feitas pela agência, a alta indica o uso maior do medicamento no ano passado. O remédio não tem eficácia comprovada no tratamento da covid-19, mas teve seu uso incentivado por Bolsonaro e pelo próprio Ministério da Saúde.

Ainda no início de 2021, a pasta então chefiada pelo general Eduardo Pazuello lançou o aplicativo TrateCov, que incentivava o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no "tratamento precoce" da doença, segundo palavras do próprio ex-ministro.

De acordo com dados do Painel de Notificações de Farmacovigilância da Anvisa, a maioria das reações adversas relatadas foi de distúrbios do sistema nervoso. Já os eventos adversos mais notificados foram cefaleia (dor de cabeça), redução do apetite, náusea, dor abdominal e anemia hemolítica, que é uma condição autoimune.

Ainda que uma morte tenha sido relatada entre as notificações da cloroquina, apenas 1,57% das reações foram identificadas como graves.

Chama a atenção o fato de 96,83% das notificações — ou 887 reações — terem sido relatadas no Amazonas, estado que foi alvo de uma ofensiva de incentivo e distribuição da cloroquina ainda no início deste ano. O número, porém, também tem relação com o uso do remédio para o tratamento da malária, doença comum no estado.

Em 2019, um especialista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) chegou a estimar que 99% dos casos de malária no Brasil com transmissão interna são registrados na região amazônica.

A hidroxicloroquina, outro remédio contra a malária que começou a ser usado no tratamento de pacientes com covid-19, também teve notificações de reações adversas preocupantes. Diferente da cloroquina, porém, o medicamento é conhecido por ter efeitos colaterais mais frequentes.

Em 2020, foram registradas 150 notificações de reações adversas da hidroxicloroquina, com 65 destas originárias de São Paulo. Do total, 46,39% eram graves, com quatro mortes sendo reportadas como consequência do uso do medicamento.