Intervalo de 21 dias entre doses da CoronaVac deve ser mantido
Um novo estudo divulgado no último final de semana apontou que a eficácia da CoronaVac, principal vacina contra covid-19 aplicada no Brasil, aumenta quando a segunda dose é aplicada mais de 21 dias depois da primeira. A conclusão levantou discussões sobre qual deveria ser a orientação do ministério da Saúde, mas, segundo especialistas, o ideal é que o período entre as duas aplicações continue sendo de 21 dias.
A análise, ainda preliminar, foi publicada pela revista internacional SSRN (Social Science Research Network) e foi realizada em parceria com pesquisadores do Instituto Butantan. A pesquisa considerou um universo de mais de 12 mil voluntários, entre 21 de julho e 16 de dezembro de 2020. O artigo será revisado pela tradicional revista científica The Lancet.
Segundo o estudo, a CoronaVac apresentou eficácia de 62,3% nos pacientes em que foi aplicada após 21 dias — segundo os pesquisadores, 28 dias de intervalo seria o ideal. O percentual de eficácia geral da vacina é de 50,7%.
A ideia do ministério de colocar 21 dias de intervalo entre as doses visa a segurança de que a pessoa vai tomar a segunda dose. Fica no meio do caminho entre 14 e 28 dias, período que já é indicado na própria bula da CoronaVac. A diferença, na prática, seria pequena."
Renato Kfouri, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunização
Kfouri explica que essas variações de dias não são regras fixas e devem ser alteradas com o tempo. "O problema de mudar é ter menos gente vacinada ou gente vacinada com mais atraso do que 28 dias. Primeiro, precisamos garantir esse resultado. Essas variações dentro do estudo não devem ter tanta repercussão. Somos rigorosos agora porque a CoronaVac é um produto muito novo".
O próprio estudo afirma que "é aconselhável encorajar intervalos mais longos entre as doses, ou seja, 28 dias, na implementação da vacina", mas ressalta que essa análise tem de ser feita com um universo maior de pessoas. "
O estudo não pode deixar claro a suposição de eficácia com uma única dose devido ao número limitado de resultados e as chances de termos mais participantes infectados no momento da primeira injeção. No entanto, deve-se notar que a eficácia do CoronaVac já estava presente após a segunda semana da primeira dose."
Trecho do artigo
Até o momento, a ciência aponta que apenas duas doses de vacina garantem imunidade contra a Sars-Cov-2. "A duração da resposta imune em vacinas da covid-19 é ainda desconhecida. Portanto, todos os produtores estamos na obrigação de acompanhar os participantes dos estudos para estabelecer a necessidade de doses de reforço. Em outras vacinas inativadas, essa dose de reforço é necessária entre 1 e 5 anos", disse à reportagem o diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, Ricardo Palácios.
Uma discussão semelhante acontece em torno da vacina da Oxford/Astrazeneca, produzida pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no Brasil. Em fevereiro, um estudo publicado pela revista The Lancet sugeriu que um intervalo maior entre a primeira e a segunda dose pode ser mais eficaz contra a covid-19. Os pesquisadores afirmaram que um período de três meses seria ideal para a população, em vez das seis semanas estabelecidas atualmente.
Segundo a médica epidemiologista da Fiocruz Pernambuco (Fundação Oswaldo Cruz), Ana Maria Britto, a lógica da vacina de Oxford é um pouco diferente da da CoronaVac. "O intervalo entre a primeira e a segunda dose tem sido de dois a três meses nos locais onde a vacina está sendo aplicada. Como a AstraZeneca confere imunidade já com a primeira dose, a partir do 21° dia, a segunda dose funciona como 'uma dose de reforço'", disse.
Sobre a CoronaVac, Britto concorda que ainda é preciso refinar os estudos para adaptar o período entre as doses. "Mas sabemos que o uso de qualquer vacina em larga escala permite o que chamamos dos estudos de efetividade, inclusive com possibilidade de mudança de orientação de intervalos ideias de doses. Os estudos apresentam ainda resultados preliminares, já que o número de observações elencadas é muito pequeno", concluiu.
O UOL procurou o ministério da Saúde e a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) para saber se haverá mudança nas orientações quanto ao intervalo das doses, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem. Se enviado um posicionamento, ele será publicado.
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