Topo

Variante delta: Saúde ignora há 10 dias pedido do Rio por mais vacinas

20.jun.2021 - O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, aplica vacina contra covid em moradora da Ilha de Paquetá (Rio) - ERBS JR./FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
20.jun.2021 - O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, aplica vacina contra covid em moradora da Ilha de Paquetá (Rio) Imagem: ERBS JR./FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Igor Mello

Do UOL, no Rio

07/08/2021 07h00

O Ministério da Saúde ignora há dez dias pedidos feitos pelo governo do Rio de Janeiro por mais doses de vacina contra a covid-19. As autoridades fluminenses fizeram a solicitação em razão da expansão da variante delta. O governo do Rio relatou o risco de o estado se tornar um epicentro de infecções causadas pela delta.

Apesar dos apelos do governo do Rio —e da propagação da variante delta na capital, onde já causa 45% das infecções por covid-19—, até hoje o Ministério da Saúde sequer respondeu os ofícios enviados pela SES (Secretaria de Estado de Saúde).

Identificada primeiramente na Índia, a delta é mais transmissível do que as cepas anteriores do coronavírus e consegue infectar inclusive pessoas imunizadas com uma dose de vacina. Em diversos países, a variante tem provocado novos surtos de covid-19 e obrigado governos a retrocederem em medidas de reabertura.

O UOL perguntou ao Ministério da Saúde se houve resposta aos ofícios do Rio e se a pasta irá destinar mais doses ao estado, mas a resposta foi evasiva.

"O envio dos imunizantes é realizado após reunião semanal entre representantes dos estados e DF, para a definição do quantitativo a ser enviado, conforme definido no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19", afirmou o ministério.

Documentos obtidos pelo UOL no SEI (Sistema Eletrônico de Informações) do governo do Rio mostram que a preocupação com a delta está em pauta ao menos desde 23 de julho, quando o secretário de Saúde da capital, Daniel Soranz, pediu à SES mais vacinas para a cidade em decorrência da propagação da nova variante.

Quatro dias depois, em 27 de julho, o secretário estadual de Saúde do Rio, Alexandre Chieppe, repassou o pedido para o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. No documento, Chieppe destaca o risco de o Rio servir como o epicentro de uma nova onda da covid-19 causada pela delta.

Ele diz que a vocação turística do Rio faz com que o estado seja a "grande fronteira de trânsito da população, para a disseminação da referida variante para outras regiões do país".

"Solicitamos vossa apreciação quanto à possibilidade de dar um aporte de doses adicionais de vacinas contra a COVID-19 para o estado do Rio de Janeiro, cuja perspectiva é garantir maior cobertura vacinal da população, visando reduzir os riscos de disseminação acelerada da variante Delta para outros municípios fluminenses, bem como para outros estados", justifica o secretário.

Diante da falta de resposta, Chieppe enviou a Queiroga um novo ofício na última terça-feira (3), no qual pede um acréscimo de 15% nas doses enviadas ao estado nos próximos lotes distribuídos pelo Ministério da Saúde, além da antecipação da segunda dose do imunizante da Pfizer —de 12 para três semanas.

No documento, o secretário destaca que a variante delta "tem apresentado comportamento mais explosivo" mesmo entre os vacinados.

Até ontem (6) não constava nenhuma resposta do Ministério da Saúde no sistema onde tramitam os documentos do governo do Rio. Questionada pelo UOL, a SES confirmou que não recebeu nenhum tipo de resposta de Queiroga tampouco sinalização de que mais vacinas serão enviadas ao estado.

Delta já responde por 45% dos casos na capital

Dados do programa de vigilância genômica do estado do Rio —que faz o sequenciamento genético de amostras de pacientes com covid-19 para saber com qual cepa eles foram infectados— mostram que na última rodada de testes 26,09% dos casos eram da variante delta.

No mês anterior, esse índice era de 16,62%, mostrando a expansão da nova cepa.

Na capital, o cenário é ainda mais preocupante: 45% dos casos identificados na última rodada de testes era da variante delta.

Mesmo diante da preocupação com a nova cepa, a Prefeitura do Rio anunciou em 30 de julho um plano de reabertura gradual da cidade, com liberação de eventos com público para pessoas totalmente vacinadas.

Após críticas de cientistas, o prefeito Eduardo Paes (PSD) indicou ontem que o plano será reavaliado.

A preocupação com a delta também fez com que a Secretaria de Educação do Rio anunciasse o cancelamento das aulas presenciais na rede estadual em 36 dos 92 municípios do estado, entre eles a capital.

Outras medidas para conter a delta

Questionado sobre outras medidas para conter a expansão da delta, o Ministério da Saúde afirmou que está monitorando casos de contaminação.

Segundo a pasta, casos de infecção pela delta e seus respectivos contatos são monitorados por equipes locais de Vigilância Epidemiológica e Centro de Informações Estratégicas em Vigilância e Saúde.

"A pasta tem reforçado a orientação para estados e municípios, quanto ao sequenciamento genético, notificação imediata, rastreamento e isolamento dos casos e contatos, além de outras ações de prevenção", diz.

Já a SES afirma que "vem monitorando o cenário epidemiológico no estado, como número de atendimentos em UPAs, taxa de ocupação de leitos e resultado de testes para confirmação da Covid-19".

A secretaria reforçou o uso de máscaras e álcool em gel, lavagem das mãos e distanciamento social.