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MPF investiga teste com proxalutamida em hospital militar do RS

A proxalutamida é uma droga experimental utilizada para combater o câncer de próstata, mas foi usada em testes contra covid - DIEGO VARA
A proxalutamida é uma droga experimental utilizada para combater o câncer de próstata, mas foi usada em testes contra covid Imagem: DIEGO VARA

Do UOL, em São Paulo

25/08/2021 11h01Atualizada em 25/08/2021 11h14

O Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, é suspeito de testar proxalutamida — droga experimental contra o câncer de próstata — em pacientes diagnosticados com a covid-19 sem o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Diante das suspeitas, o MPF-RS (Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul) abriu um inquérito civil público para apurar o caso.

O medicamento fabricado na China não tem eficácia comprovada contra o coronavírus, mas já foi citado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como uma nova 'cloroquina' — medicamento ineficaz contra a doença. Não há liberação para que o remédio seja importado nem para que ele seja testado em humanos.

As informações sobre os testes não autorizados foram divulgadas pelo portal gaúcho Matinal. A proxalutamida é um antiandrogênico, fármaco que inibe os efeitos dos hormônios masculinos, como a testosterona, no corpo humano.

Uma paciente, que não teve a identidade revelada, disse ao Matinal que estava sendo atendida em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) relatou ao jornal que dois capitães-médicos a convidaram para participar de um "estudo" com um novo medicamento. Segundo eles, o fármaco estava sendo testado contra o coronavírus no hospital militar e poderia ajudar na recuperação do caso dela.

A paciente, que estava sem ar e com sensação de desmaios, consentiu com a pesquisa e assinou um termo de consentimento, mas só depois descobriu, procurando no Google, do que se tratava a proxalutamida.

Além dela, outros 50 pacientes internados no hospital militar teriam recebido a medicação.

Investigação sobre testes não liberados

A procuradora da República Suzete Bragagnolo, do MPF-RS responsável pelo inquérito, classificou como "assustadores" os fatos relatados, segundo informações do jornal O Globo.

"No âmbito cível cabe provocar a atuação da Conep e da própria Anvisa, que têm o poder de polícia administrativa no sentido de apurar". A procuradora também notificou o núcleo criminal do MPF-RS e o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul.

O grupo que realizou o estudo no Rio Grande do Sul é o mesmo que conduziu um ensaio com o mesmo medicamento em fevereiro deste ano, no Amazonas. O caso também está sendo investigado pelo MPF do estado.

O endocrinologista Flavio Cadegiani está liderando a pesquisa. O médico tem proximidade com o infectologista Ricardo Zimerman, servidor do Hospital da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, onde os testes estavam sendo realizados sem o aval da Anvisa.